A dor que embarga e o desembargador

Em sua nova crônica Lelê Teles trata de empatia e e antipatia, dor e rancor a partir do caso do desembargador e do palestino

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Escrito en OPINIÃO el

o que têm em comum o jovem palestino com o seu gesto humano, e pleno de empatia, e o velho paulistinha, desumano e cheio de antipatia?

ambos são filhos do carbono e feitos do mesmo material: carne, ossos, sangue e nervos.

só isso assemelha esses dois bípedes; no mais, é impossivel dizer que são dois espécimes da mesma espécie.

a dor que embarga o jovem se chama amor; rancor é o que define o desembargador.

um, zomba da morte e trata o seu semelhante com tanto desprezo que parece mesmo acreditar que são, eles, dois seres distintos.

uma superpessoa e uma não-pessoa.

o outro, puro instinto, sente a dor do seu igual, esforça-se para demonstrar-lhe amor e afeto.

como diria o venerando mestre cafuna: “ser humano é fácil, ser um mano é que são elas.”

os futurólogos otimistas, que acreditavam que na pós-pandemia surgiria uma outra humanidade, não poderiam estar mais errados.

é isso o que somos.

aquele macho branco é descendente de invasores de terras, seus ancestrais enriqueceram com a pilhagem, o estupro e o genocídio.

ele mesmo é um fazendeiro; o que mais ele seria?

o outro, vive numa terra invadida, pilhada, massacrada.

um urso é um urso, ursa onde estiver, todos os seus semelhantes se assemelham na sua ursidade, estejam eles no polo norte ou numa floresta.

nunca diremos: “aquilo é um urso, aquilo ali é um desurso.

mas diremos sempre e em toda parte: “aquele é um humano, aquele outro, um desumano.

e sabemos sempre quem é um e quem é o outro.

um é empático, o outro é o anti empático.

um sente dor e ama.

o outro é o outro.

age sempre outricamente.

se é que você me entende.

palavra da salvação.