A esquerda que queremos (e precisamos) na eleição da Câmara do Deputados, por Julian Rodrigues

Acabamos de sair de eleições muito polarizadas. Aos trancos e barrancos, enfrentamos o bolsonarismo e o ultraliberalismo. Qualquer acordo parlamentar com a direita (fisiológica, pró-bolsonarista, ou neoliberal) não faz sentido, nem seria compreensível.

Escrito en OPINIÃO el

A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, muito mais do que um entrevero parlamentar, diz respeito à grande batalha entre os blocos e forças políticas no Brasil.

A direita ultraliberal, que apoia o governo Bolsonaro, embora se oponha aos seus arreganhos autoritários e obscurantistas, representada por Rodrigo Maia, quer manter o domínio das duas casas. Ainda não chegaram a um acordo sobre qual nome os representará.

O governo Bolsonaro, com idas, vindas e nuances, se acertou com o núcleo do chamado “centrão” (a velha direita fisiológica). São os governistas de plantão. Arthur Lira, deputado alagoano do ex-PP (atual Progressistas), aquele que é, mas não é, tem reputação de “gente boa”, não extremista. Toparia o programa liberal sem aderir ao neofascismo.

Acabamos de sair de um processo eleitoral difícil, no qual ficou nítida a demanda por uma esquerda com identidade e renovada, com opinião.  A expectativa da base social progressista é por uma unidade da esquerda e até com a centro-esquerda. Nitidez e programa.

São compreensíveis as ponderações feitas sobre a necessidade de garantir a presença do PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT na mesa diretora e em comissões importantes para luta diária na Câmara.

Contudo, trata-se de uma disputa muito maior. O PT e a esquerda brasileira devem ter cara própria, identidade. É isso que nossa base espera de nós. Qualquer movimento guiado por lógicas internistas ou por negociações de posições ou cargos seria incompreensível para a sociedade brasileira em geral e para base petista e de esquerda em particular.

Acabamos de sair de eleições muito polarizadas. Aos trancos e barrancos, enfrentamos o bolsonarismo e o ultraliberalismo.  Qualquer acordo parlamentar de cúpula com a direita (fisiológica, pró-bolsonarista, ou com a direita neoliberal) não faz sentido, nem seria compreensível para o conjunto do campo democrático-popular.  Reparem: é um debate que atravessa toda esquerda (PT-PCdoB-PSOL) e também a centro-esquerda (PDT-PSB).

De saída, unificar o campo progressista. Criar um programa mínimo comum. Lançar uma candidatura que expresse nossa força e nossas ideias.  Muito mais importante que um carguinho na mesa diretora, ou prioridade para escolher comissão A ou B, vale mandar um recado forte, uma mensagem para o povo brasileiro.

Em segundo lugar, definir uma pauta para negociar no segundo turno com a candidatura que não se posicione no campo bolsonarista.

O que não topamos que seja votado? O que queremos emplacar? Vetar todas pautas autoritárias/obscurantistas que atentem contra as liberdades democráticas; exigir a continuação do “auxílio emergencial”, afastar as privatizações, pautar as federações partidárias; questionar o teto de gastos; garantir vacinação universal e recursos para o SUS.

A esquerda sabe que a luta parlamentar tem suas especificidades, seus tempos próprios, suas limitações. Não é um terreno amistoso para o avanço das pautas da classe trabalhadora.

Porém, mesmo considerando todas mediações, os partidos do povo não podem se descolar do sentimento da base social, política e eleitoral que representam. O parlamento é um espaço de demarcação também, não só de negociação.

Resumindo, em plena batalha antibolsonarista e no clima da construção da Frente de Esquerda, o rumo é um só:   impulsionar uma candidatura do PT, PSOL, PCdoB, PSB, Rede, PDT à presidência da Câmara. Com agenda nítida. No 2° turno, os pontos do nosso programa serão a base para negociar com o nome que enfrentará a candidatura bolsonarista.

É superar o internismo parlamentar e fazer política grande, disputando ideias, mirando a luta político-ideológico-eleitoral. 2022 está aí.