A farsa da ameaça golpista – Por Raphael Fagundes

Os golpes que ocorreram na história do Brasil (e foram muitos) nunca foram por conta de uma crise entre os poderes. Pelo contrário, os poderes estavam bem unidos nos projetos que buscavam conter o progresso das forças produtivas

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A imprensa explora mais as motociatas de Bolsonaro que o movimento dos motoboys trabalhadores de aplicativo. Nada fala sobre a privatização dos Correios, mas destaca a privatização do Palácio Capanema. Bolsonaro convoca o povo para defendê-lo fazendo com que este não reivindique sobre o aumento do preço dos alimentos. Promove-se uma discussão sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, enquanto as classes dominantes pouco se importam se vão explorar por meio do voto eletrônico ou impresso. Estamos diante da indignação manipulada!

Os golpes que ocorreram na história do Brasil (e foram muitos) nunca foram por conta de uma crise entre os poderes. Pelo contrário, os poderes estavam bem unidos nos projetos que buscavam conter o progresso das forças produtivas.

Ou seja, dizer que estamos na iminência de um golpe conduzido por Bolsonaro é ignorância, é uma forma de desviar a atenção para o que realmente está acontecendo.

Mas não é apenas a imprensa que desvia o foco, o próprio presidente busca conduzir a farsa. Ele diz que são idiotas os que acreditam em um golpe já que ele é o presidente. Vargas também era presidente quando em 1937 deu início à ditadura do Estado Novo. Isto é, historicamente, o discurso do presidente é ingênuo.

O golpe de 1937 visava conter a emancipação da classe trabalhadora. Foi por isso que Vargas adotou a partir de então uma política de controle dos sindicatos e de valorização dos operários. Através da ideologia do trabalhismo foi possível controlar os trabalhadores antes que a burguesia perdesse o controle total da relação capital/trabalho. Essa foi a razão do protagonismo estatal.

Hoje, não é muito diferente, embora a perda do controle da burguesia sobre os trabalhadores não seja nem mesmo um espectro. A situação atual exige o aumento da exploração da mão de obra, a maximização dos lucros, o que exige uma nova gestão da relação capital/trabalho. Se hoje houver um golpe, não será por conta da crise entre os poderes, mas por conta da necessidade de desenvolver um neoliberalismo cruel que tira os direitos trabalhistas e uberiza a mão de obra.

Nem Bolsonaro e nem o setor da burguesia que se opõe ao seu governo vão confessar esse objetivo. Vão, na verdade, manipular a indignação popular para que pensemos que se trata de uma crise entre os poderes. Os poderes nunca estiveram tão alinhados em 1964 e em 2016, e golpes aconteceram; tudo foi feito, segundo seus defensores, em nome da democracia.

E por que os opositores de Bolsonaro não vão confessar a verdadeira razão de um golpe? Porque eles também querem a precarização do trabalho, a uberização, para atingir seus objetivos: a maximização dos lucros.

Embora a crítica de um setor da burguesia seja importante para derrubar o regime de terror do presidente, não podemos reproduzi-la mecanicamente. Pois é uma crítica errada. Nos induz a pensar equivocadamente. Precisamos criticar tal crítica e observar, principalmente, a relação entre capital e trabalho. É desta contradição - um conflito que a ideologia fabricada pela imprensa e pelos ideólogos do governo procuram esconder - que deve vir a verdadeira reflexão, o pensar corretamente.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.