A revolução cubana está viva, inclusive entre os jovens

Posso afirmar que até hoje não derrubaram a revolução utilizando a superioridade militar americana porque a grande maioria dos cubanos apoia ativamente a revolução

Miguel Díaz-Canel Bermudez nas ruas neste domingo, 11 de julho (Reprodução/Presidência de Cuba)
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O embargo à Cuba é inaceitável, um crime contra um povo inteiro e um desrespeito às normas de convivência internacional.

A comunidade internacional através da quase totalidade dos países membros da ONU já vem condenando esse bloqueio faz muito tempo e voltou a fazer recentemente.

Os impactos negativos do bloqueio são tão grandes sobre a economia e sobre a sociedade cubana, que não é honesto avaliar Cuba como se fosse um país em condições normais. Cuba é um país sitiado por mais de meio século.

A vida em Cuba é dura e claro que sobram desconfortos e motivos para queixas e protestos.

Mas, para mim, esses movimentos recentes na ilha são uma tentativa de desestabilizar Cuba. Faz parte da estratégia geopolítica norte-americana na disputa pela América Latina. São mestres em desestabilizar países, financiar e estimular golpes.

Ninguém, minimamente informado, tem dúvida do papel das agências e instituições americanas na desestabilização do governo da presidenta Dilma. E de tantos outros, sem falar nos golpes militares das décadas passadas patrocinados e financiados pelos norte-americanos.

Vontade não falta, mas não invadem Cuba porque sabem que teriam que arrasar a ilha e massacrar boa parte da população cubana.

A outra causa de não invadir Cuba, como fizeram com muitos outros países, e acabar com a revolução de uma vez por todas, é porque, mesmo depois de tanta propaganda e calúnias, Cuba, com todos seus problemas, goza de muita simpatia no mundo inteiro. O custo político seria imenso.

O embargo é só uma das frentes do governo americano contra a ilha e sua revolução.

São muitas as tentativas de assassinatos de líderes, sabotagens, invasões e estímulo permanente às insurreições por opositores.

A verdade é que os americanos até hoje não engoliram que Cuba tenha feito uma revolução tão perto deles (não resisto ao trocadilho: nas barbas!) e que consigam manter esse processo durante tantas décadas, apesar da pobreza, da precariedade, de todas as invasões, sabotagens, das centenas de tentativas de assassinar Fidel etc...

Os americanos promovem um bloqueio criminoso por mais de 60 anos. Ninguém pode comprar nem vender nada para Cuba. Senão sofre represálias.

Como desenvolver um país nessas condições?

Mas, apesar de tudo, da pobreza, da propaganda constante, do assessoramento para os que são contra o governo, não conseguem acabar com a revolução cubana.

Estive em Cuba algumas vezes. Fui como ministro para reuniões de ministros latinoamericanos e depois fui quando era coordenador do evento da ONU “Ano Internacional dos Afrodescendentes”.

Nunca estive em um lugar em que as pessoas fossem tão parecidas com o povo de Salvador, minha cidade natal. As origens dos africanos que foram para Cuba escravizados foram as mesmas dos que foram para a Bahia trabalhar nas fazendas de cana de açúcar, ou prestar serviços no meio urbano.

Andei pelas ruas sozinho, curioso para conhecer os cubanos. Procurei conversar com muita gente, fui a três candomblés, fui a uma feira quase igual às feiras de Salvador e comprei um colar de Oxóssi nessa feira, o Orixá que rege minha cabeça segundo as mães e pais de santo da Bahia.

As barracas de folhas, iguais às nossas de Salvador e do Recôncavo baiano e iguais às que eu vi em um mercado em Luanda, capital de Angola. Uma verdadeira farmácia fitoterápica, folhas para todo tipo de doença, do corpo e do espírito.

Assisti espetáculos, participei de reuniões com escritores, com intelectuais, com dirigentes políticos, com parlamentares, com jovens, me reuni com pais de santo, fui à famosa Escola de Dança e Ballet, fui à também famosa Escola de Cinema e estive na Casa das Américas. Cheguei a discutir a possibilidade de ajudar a organizar um grande seminário internacional, O Triângulo Bantu: Angola, Bahia e Cuba.

Posso afirmar que até hoje não derrubaram a revolução utilizando a superioridade militar americana porque a grande maioria dos cubanos apoia ativamente a revolução. Correria muito sangue. E seria contraproducente também pela simpatia que a Ilha goza nos quatro cantos do mundo.

Como ignorar honestamente que Cuba tem hoje uma das melhores saúdes públicas do mundo, uma educação bastante boa...  São pobres, mas não tem miséria, ninguém mora na rua, ninguém passa fome.

Um músico colombiano muito popular em toda à AL organizou em Havana um grande concerto contra o bloqueio.

Eu estava lá por acaso, numa dessas viagens que fiz. O concerto era com músicos de praticamente todo o mundo. Não tinha do Brasil.

Mais de um milhão de cubanos na Praça da Revolução, a maioria era composta por jovens.

Os cubanos do governo estavam tensos. Primeira vez que a atual juventude ia se reunir em um número tão grande.

Estavam preocupados. Não sabiam o que poderia acontecer. Não tinham ideia de como essa nova geração reagiria. Se fossem contra a revolução, certamente se manifestariam ali e a repercussão seria enorme, na ilha e no mundo.

Dez minutos depois de iniciado o concerto, aquela multidão de mais de um milhão de pessoas começou a gritar:

Cuba! Cuba! Cuba!

Cuba Sim! Embargo não!

Foi impressionante!

Alguns dos que eram do governo choraram de emoção. Aqueles homens e mulheres, alguns de farda militar, deixaram as lágrimas visíveis. Ministros, parlamentares, militares, todo mundo tomado de emoção.

A revolução, ali na praça, mostrou que estava viva, o povo cubano com muita dignidade não tinha se submetido ao cerco.

O embargo empobreceu, mas não dobrou o povo cubano. Os líderes da revolução enrijeceram. Mas eu me pergunto: teriam sobrevivido se fossem diferentes? A revolução continuaria a existir ou teria sido interrompida e Cuba voltaria a ser o puteiro dos EEUU, como era na época de Fulgêncio Batista?

Cuba não representa nenhum perigo para nenhuma nação. Esse embargo é anacrônico e ilegítimo. Guerra fria fora do tempo, misturada com o desejo de vingança pela ousadia cubana.

E, o mais importante: o povo cubano merece uma chance de ser feliz e de ser dono dos seu destino. Por isso, repito o que eu ouvi de mais de milhão de cubanos na Praça da Revolução:

Cuba Sim! Embargo não!