Abraçados ao Ginásio do Ibirapuera, por Adriana Mendes

Difícil para mim, que cresci entre abraços de amigos nadadores, não poder abraçar as pessoas. Mas podemos juntos abraçar um ginásio esportivo inteiro, que faz parte da história de gerações de atletas paulistas, paulistanos, brasileiros e que querem conceder para a iniciativa privada

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Olha, é sempre uma batalha nova. Há 5 dias estava lendo a coluna Olhar Olímpico, do Demétrio Vecchiolli, quando me deparo com a notícia da privatização/concessão do ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Como assim? Comi bola, já teve edital?  Não tem mais jeito? Como estão as manifestações no meio? Mandei mensagem para o amigo nadador Renato Cordani, da CBDA, sempre na luta pelo esporte para todos, executivamente no aquático.

A primeira vez que estive no ginásio do Ibirapuera foi num Campeonato Paulista de Inverno, em 1981. A equipe infantil do Vasco da Gama, de Santos, era pequena, então nosso “castigo” era ficar alojado lá no Ibirapuera e acordar mais cedo com um frio desgraçado nas nossas caras caiçaras. Mas já na primeira manhã achei lindo passear pela cidade de São Paulo até o Parque Aquático da Água Branca e mergulhar numa piscina quentinha às 7h para o aquecimento. Voltei para 2020, estava ali, quase chorando, perdida em recordações, nos jogos de vôlei que assisti, no show dos Titãs... E pensei: “é, não tem mais jeito, mesmo com pandemia e mudanças climáticas, a ganância humana vai continuar destruindo histórias, patrimônios culturais, biomas, oceanos e vidas futuras”.

Cordani então me responde com o que escreveu em um grupo, Esporte pela Democracia, que tem a participação de atletas, ex-atletas e jornalistas. Vi a mobilização se formando e quis participar, pois acredito em manifestações populares nas mudanças políticas. Nessa frente pela democracia, ainda mais em tempos tão difíceis, estão pessoas que, além de alguma ligação afetiva com o ginásio, acreditam no esporte como um direito de todos, por isso o Estado deve mantê-lo, não fazer concessões para empresas privadas. Inclusive, estando no poder há quase 30 anos, imagino que deva ser um projeto do PSDB deixar os complexos esportivos públicos sucateados para dizer que estão obsoletos e que gasta-se muito com manutenção, o que é uma falácia facilmente desmascarada. O próprio governo diz gastar 10 milhões por ano com o ginásio. São 12 milhões de habitantes, logo, o custo é pouco mais de um real por habitante. Nada para a cidade mais rica do país.

No mais, não houve a discussão necessária, não sabemos o que será feito com o parque aquático ou a pista de atletismo. Com esses e muitos outros argumentos e contando com a disposição de vários atletas e profissionais da comunicação, como as jogadoras de vôlei Vera Mossa, Izabel e Ana Moser, a nadadora e fotógrafa Ana Mesquita, os jornalistas Silvio Lancelotti, Juca Kfouri, Vitor Guedes, entre tantos outros, o ginásio do Ibirapuera será abraçado neste domingo, 6 de dezembro, às 9h. Vamos abraçar o Ibirapuera e usar todas as formas legais para evitar sua destruição. O que eu quero mesmo é o seu tombamento como patrimônio cultural. Não vamos deixar que destruam o que já temos para construir o que poucos irão utilizar. Muito ainda deve ser discutido antes que privatizem o que é público e do interesse de todos.

Como tão bem escreveu Juca Kfouri, em seu blog, “depois de aparelhar o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat) ao excluir representantes das universidades, e povoá-lo com apaniguados, BolsoDoria golpeia a comunidade esportiva e planeja destruir mais um cartão postal da Pauliceia”. A movimentação em defesa do ginásio do Ibirapuera em muito se parece com a que houve em torno do Parque Aquático Julio Delamare, no Rio de Janeiro, que iria virar estacionamento para o Maracanã. Quem chamou para o abraço foi o nadador Djan Madruga. E lá a situação era pior, já estava nas últimas, com tratores para a demolição, mas a vontade popular venceu e o Julio Delamare é nosso.

O abraço será sem encostar as mãos e todos estarão de máscaras, com guarda-sol ou guarda-chuva. Vem, às 9h, na entrada principal do Ginásio do Ibirapuera.

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