Adeus, civilização: a aventura insana que nos empurra para o precipício

Perto de completar dois anos sob nova direção, o Brasil não esconde mais o caminho escolhido. Ignorância, miséria, mordaça, chamas, desemprego, milícias, fome, armas, fanatismo e desesperança. Para onde vamos? No fundo, todos sabemos, mas só alguns acordaram

Foto: Reprodução (Edição de imagens).
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Aquela cena de Bolsonaro com Al Gore, flagrada no documentário 'O Fórum', ainda me revira o bucho. Coisa de cafetão oferecendo o "produto". Sorrisinho canalha.

"Na Amazônia (…) temos muita riqueza… Gostaria muito de explorá-las junto com os Estados Unidos."

Agora, meses depois, os manguezais e áreas de restinga, verdadeiros santuários e berçários marinhos, foram liberados para a exploração comercial por um sujeito que não se envergonha de falar abertamente que o lado bom da pandemia, com milhares de mortes, é que os jornais estão ocupados com o assunto e assim dá para alterar todas as leis ambientais.

Em suas palavras, "passar a boiada".

Observem que estamos falando de um homem já condenado pela Justiça por crimes ambientais e que agora comete todo tipo de atrocidade, sem cerimônias, com um crachá de ministro de Estado.

Ele é um dos preferidos do chefe.

As questões ambientais citadas aqui formam apenas o preâmbulo de uma estrutura política e histórica complexa pela qual optamos e que agora pesa sobre nossos ombros. Passamos boa parte da vida analisando nossas escolhas e muitas delas nos custam caro. O futuro que construímos começa a se delinear e o prognóstico é dos mais assustadores.

Na Educação as coisas são igualmente perturbadoras, para dizer o mínimo. O novo ministro precisa lembrar o tempo todo que é pastor. É como se o Brasil fosse um grande culto. Sobre as questões urgentes da pasta? Nada.

Segundo Milton Ribeiro, o impasse das escolas fechadas não é problema do MEC. A falta de acessibilidade à internet para milhões de jovens também não. Aulas remotas para todos? Tampouco.

Para o ministro-pastor é a sexualidade das pessoas que precisa ser chancelada pelo MEC. É necessário fiscalizar essas famílias desajustadas que andam colocando gays no mundo.

"É uma questão de valores e princípios".

A economia do país, que já esteve entre as mais pujantes do mundo, é uma ruína. Como disse um grande amigo há pouco tempo, sem qualquer pretensão de criar hipérboles, "qualquer dia a gente sai para ir ao supermercado com 50 reais e só vai voltar com dois saquinhos de queijo ralado".

É o legado de Paulo Guedes, uma figura de contornos autoritários, que não esconde sua brutalidade, estupidez e desprezo por todos os brasileiros que não são ricos.

Preços nas alturas, inflação galopante, escassez de gêneros de primeira necessidade. Inacreditavelmente temos um déjà-vu da Era Sarney, com gente se esbofeteando por um saco de arroz nos corredores do varejo.

O desemprego de quase 14% é o recorde da série histórica no levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), realizada pelo IBGE. Só nos últimos três meses foram mais de 7,2 milhões de brasileiros que perderam o trabalho.

Todo esse cenário desolador se mistura com um autoritarismo tresloucado. Bolsonaro grita, xinga, ameaça, estimula a violência, intimida por meio de processos descabidos, aparelha todo o sistema policial e judicial, no melhor estilo das emboloradas ditaduras sul-americanas da Guerra Fria.

Bolsonaro emula (e admira) esses genocidas. Meio sem jeito, muito por conta de sua profunda ignorância e limitação intelectual, procura copiar frases, trejeitos, gestos e ações.

A História certamente guarda um lugarzinho especial para o militar indisciplinado e medíocre que conquistou o Brasil aos berros e com seu comportamento que exalta o mau-caratismo.

Passado e presente são tão cíclicos que chegam a ser enjoativos e sem graça. Videla morreu jogado ao lado de um vaso sanitário, com o pulmão perfurado numa queda, dentro de uma cela. Pinochet baixou ao inferno e foi direto para a lata do lixo da História. Essas figuras sinistras, no passado, destruíram as sociedades de seus países e o fizeram prometendo a glória, a redenção e a grandiosidade.

Por aqui, vivemos o presente e pelo andar da carruagem já podemos prever o futuro.

O Pantanal, que perdeu 23% de sua área, arde sob os olhos cínicos e negligentes de quem deveria defendê-lo, enquanto um mundo chocado e perplexo condena um celerado que vai à ONU culpar índios, caboclos, ONGs e o Leonardo di Caprio.

Ah, mas não é de tudo ruim. Agora está lá. Temos um buraco do tamanho do Estado de Alagoas, incinerado, prontinho para encher de boi.

Perto de completar dois anos sob nova direção, o Brasil não esconde mais o caminho escolhido. Ignorância, miséria, mordaça, chamas, desemprego, milícias, fome, armas, fanatismo e desesperança. Para onde vamos? No fundo, todos sabemos, mas só alguns acordaram.

O fetiche por um passado mítico, que nunca existiu, saudado por gente que jamais compreendeu minimamente o Brasil, e que no fundo só queria consolidar seus privilégios, conduziu-nos às cegas a este labirinto sem saída.

A agonia aumenta quando escutamos a avaliação dos que ainda não acordaram. O misto de vergonha, radicalismo e fé cega faz com que as mesmas abobrinhas de dois anos atrás continuem a ser repetidas. O que nos ameaça é o comunismo e o gayzismo da esquerda, não é o filho faminto à mesa, sem arroz e sem escola.

O jeito é aguardar e tentarmos descobrir para onde caminhamos. Já não há outra saída.

A demora é um problema. Estamos sob o risco de não sobrar nada do Brasil.

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