Amanhecemos vazios... A peste nos tirou também a identidade

Hoje não fomos nós mesmos. Não era a nossa face para o mundo. É como se olhássemos no espelho e não nos víssemos – Por Henrique Rodrigues

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Escrito en OPINIÃO el

Sábado, 13 de fevereiro de 2021. Hoje o Brasil não existiu.

O tamborim não soou. O Galo não madrugou. A ladeira de Olinda não cansou. A Sapucaí não vibrou. Salvador não batucou. O Marco Zero não trepidou. A colossal megalópole não cantou.

A multidão não suou. O pé não sambou. O grito não ecoou. O beijo não apaixonou. A fantasia não ensopou. O protesto não se espalhou. A cerveja não gelou. O ambulante não andou. O xixi não apertou. A ressaca não castigou.

A renda do trabalhador não chegou. A genialidade dos artistas não encantou. O delírio do público não contagiou. A marchinha não ironizou. O glitter não sujou. A maquiagem não borrou. O casal não brigou. O amor não reverberou.

A multidão não peregrinou. A alegria não reinou. A luz não iluminou. O preconceito não calou. A musa não desfilou. A baiana não rodou. O copo não chacoalhou. A magia não imperou.

O maior espetáculo da Terra não rolou.

O Carnaval é nossa face para o mundo. É como se olhássemos no espelho e não nos víssemos.

Isso machuca tanto.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.