Bolsonaro, um governo que propõe taxar livros e comemora isenção de armas

O ódio aos livros e o amor às armas não trouxe a Bolsonaro resultados práticos nem mesmo no seu campo preferido de atuação, a segurança pública

Escrito en OPINIÃO el

O presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ) comemorou, nesta quarta-feira (9), resolução da Camex (Secretaria-Executiva da Câmara de Comércio Exterior) que zera a Alíquota do Imposto de Importação de Armas (revólveres e pistolas).

Passou despercebido neste episódio um detalhe.

Em agosto deste ano, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, propôs taxar livros, o que provocaria, de acordo com dados da pesquisa “Retratos da leitura 2019”, um aumento de 20% sobre o preço de cada obra, impactando negativamente 27 milhões de consumidores das classes C, D e E.

Um internauta comentou o assunto em postagem de Bolsonaro. Ele perguntou o óbvio, ou seja, “se ao invés de investir em armamento e começar a investir na saúde e educação seremos melhor em tudo”. O capitão da reserva, por sua vez, resolveu ridicularizar o seguidor, limitando sua resposta a uma risada: “kkkkkkkk”.

O barateamento, propagação e aumento do uso de armas é uma velha reivindicação da família. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) apresentou à Câmara dos Deputados, nesta segunda-feira (7), um Projeto de Lei (PL) que pede a autorização de publicidade de armas de fogo, em todo o território nacional. O texto do PL nº 5414, de 2020, pede o fim da “censura ao direito da população de garantir sua legítima defesa”.

Por outro lado, a gestão de Bolsonaro, tanto na Educação quanto Cultura, demonstra claramente a que veio o seu governo. Ignorar as duas áreas como prioritárias. Foram diversos ministros inoperantes, gestões que se resumiram a fanfarronices na internet e contingenciamentos, cortes de bolsas, desprezo pelas listas tríplices nas eleições de reitores, perseguições no meio artístico, desmonte de políticas e mais um sem fim de bizarrices.

O ódio aos livros e o amor às armas, no entanto, não trouxe resultados práticos nem mesmo no seu campo preferido de atuação, a segurança pública. Os resultados de Bolsonaro na área também foram pífios. E, em alguns casos, inaceitáveis:

A polícia brasileira nunca matou tantas pessoas quanto em 2019, o primeiro ano do governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ). Quase 80% dos mortos por policiais são negros. A proporção de policiais negros assassinados em 2019 também aumentou.

Além da raça, as vítimas de intervenção policial guardam outro recorte. Três a cada quatro eram jovens, com idades entre 15 a 29 anos.

Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, divulgados na noite deste domingo (18). E fazem parte de uma série histórica que vem sendo estudada desde 2013. E mostram uma violência que tem cor e resiste ao tempo. 

Já o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que compila estatísticas de criminalidade no país, afirma que o número de assassinatos voltou a crescer no primeiro semestre deste ano, quando 25.712 pessoas foram mortas no Brasil, o equivalente uma pessoa a cada 10 minutos. Esse total é 7% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 24.012 pessoas foram assassinadas no país.

As comparações deixam uma lição um tanto elementar a quem, de qualquer matiz político, se atreve na gestão pública. Para obter qualquer resultado é preciso lucidez e estudo, muito estudo, o que requer leitura e, portanto, livros.

Ser afeito a armas e desprezar livros pode ter efeito cênico ao incauto, aquele do raciocínio de um só tempo. Mas, tem como único efeito prático manter o crime nas ruas e a população desinformada.

Irremediavelmente.