Brasil visto como o pior na pandemia por instituto; China retorna à “quase normalidade” – Por Ana Prestes

Nas Notas Internacionais: Em ranking de 98 países sobre eficiência no combate à pandemia da Covid-19, Brasil aparece como último colocado. Por outro lado, a China tenta voltar à vida normal. Novas cepas do coronavírus preocupam cientistas

Foto: Partido dos Trabalhadores
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- O Brasil lidera um ranking como o país do mundo que pior lidou com a pandemia, segundo um instituto australiano. O Instituto Lowy, que está em Sidney, analisou a resposta à crise pandêmica em 98 países com a observação dos seguintes critérios: mortes confirmadas, casos confirmados, casos por cada milhão de habitantes, mortes por milhão de habitantes, casos em proporção à testagem e testes por cada mil habitantes. A Nova Zelândia está em uma ponta da lista como o país que melhor abordou a pandemia, enquanto o Brasil está na outra ponta como o país que pior lidou com a Covid-19. O Vietnam aparece juntinho com a Nova Zelândia, na liderança dos que melhor enfrentaram a crise. A China não foi incluída nos estudos, mas uma parte de seu território sim, Taiwan. O instituto se posicionou dentro da narrativa de que a China “omite dados”. O estranhamento entre China e Austrália, país sede do grupo investigador, é cada vez maior também por esse tipo de embate. De todo modo, dentro dos dados coletados, o Brasil saiu-se como o pior entre quase 100 países. O país latino-americano melhor posicionado é o Uruguai, em 12º. (Infos: DW).

- Enquanto isso, em Wuhan, a cidade onde a pandemia começou, as pessoas já levam uma vida praticamente normal. Não há novos casos registrados desde maio de 2020. A cidade viveu um estrito confinamento que durou quase 80 dias. Na China, Wuhan passou a ser considerada uma “cidade heroica" por ter parado completamente sua economia durante os dias de fechamento. Isso não quer dizer que o país esteja imune ao vírus, já que novos casos estão surgindo nas maiores cidades, como Pequim e Xangai. A grande preocupação do momento é com o feriado do Ano Novo chinês, quando há muita mobilidade das pessoas para encontros familiares em todo o país. Dois legados ainda permanecem por lá, o uso constante de máscaras e o alerta pelo celular para áreas com risco de contágio. Uma delegação da OMS está neste momento na China em missão de investigação sobre a origem do vírus.

- O Brasil também está em destaque nas manchetes da imprensa mundial por conta da nova variante do coronavírus que surgiu por aqui. A nova cepa do vírus que foi identificada no Amazonas já foi encontrada na Alemanha, no Reino Unido e nos Estados Unidos. As notícias falam que esta variante e a da África do Sul são mais transmissíveis e mais difíceis de serem detectadas por anticorpos. O novo vírus tem criado um problema adicional, segundo especialistas entrevistados, que é a dificuldade encontrada em alguns países de trabalhar com sequenciamento genético a partir das amostras dos testes com resultado positivo. Esse processo é caro e sofisticado. O Reino Unido faz o sequenciamento em 10% de suas amostras e a Alemanha passou a fazer em 5%. A presidente da comissão europeia, Ursula von der Leyen, chegou a dizer que “a situação com as novas variantes nos levou a tomar decisões difíceis, mas necessárias”. Ela se refere ao fechamento de fronteiras aéreas e terrestres.

- Diante das novas variantes, as farmacêuticas que produzem as principais vacinas em circulação já estão pressionadas para darem respostas sobre a efetividade dos imunizantes para as novas cepas. Tanto a Pfizer como a BioNTech já anunciaram que vão criar doses de reforço para aumentar a eficácia. A Moderna também anunciou estudos para novas doses. Essas vacinas usam pela primeira vez na história a tecnologia de RNA mensageiro e por isso há grande curiosidade sobre sua capacidade de dar respostas a este desafio. Vacinas como a CoronaVac usam a tecnologia do vírus inativado, mais tradicional e que comumente trabalha com reforços (muitas vezes anuais) justamente para capturar variações dos vírus.

- Crise na República Democrática do Congo. A Assembleia Nacional do país aprovou a moção de censura contra o governo do primeiro-ministro Sylvestre Ilunga. Foram 367 votos a favor e 7 contra. Ilunga entregará seu cargo ao presidente do país, Félix Tshisekedi, que tentará formar novo governo. O episódio marca uma longa disputa entre o atual e o ex-presidente congolês, Joseph Kabila, que presidiu o país por 18 anos. O premiê que caiu era da confiança de Kabila.

- Na Polônia, manifestações gigantescas ocorrem desde ontem (27) após entrar em vigor uma proibição quase total do aborto. Uma decisão do Tribunal Constitucional de outubro de 2020 proibiu a interrupção da gravidez de fetos com má-formação, inclusive anencefálicos ou aqueles para os quais não há chance de sobrevivência fora do útero. Na época, comentei aqui nas Notas sobre as manifestações contra a decisão. Agora, o PIS – Partido Lei e Justiça – que governa o país, implementou a medida gerando novamente uma grande reação popular. O aborto agora só será permitido em casos de estupro e risco à vida ou saúde da mãe. Médicos que realizarem abortos podem ser presos.

- O novo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se pronunciou ontem (27) sobre o possível retorno do país ao acordo nuclear com o Irã assinado em 2015, abandonado por Trump, junto com o estabelecimento de uma série de sanções econômicas. Segundo ele, no entanto, o Irã precisaria “cumprir suas obrigações em várias frentes” e daí os EUA vão “avaliar” se os iranianos estão fazendo o exigido, para poder voltar ao acordo. O tom soou chantagista, para dizer o mínimo. Do lado iraniano, o chanceler Javad Zarif já disse que os EUA deveriam dar o primeiro passo e desistir das sanções impostas ao Irã.

- Também ontem (27), a gestão Biden se dedicou ao que chamou de “Dia do Clima”, com a adoção de uma série de medidas que têm relação com uma mudança de postura dos EUA frente às ameaças climáticas. Convocou inclusive um encontro de líderes mundiais para 22 de abril, Dia da Terra, data que marcará o aniversário de cinco anos do Acordo de Paris. Entre as ordens executivas aprovadas ontem no congresso norte-americano estão o veto a novas perfurações de petróleo e gás em terras federais, eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis, frota de veículos federais serão elétricos e criação de um conselho interagências de justiça ambiental.

- A posição da União Europeia de não reconhecimento de Juan Guaidó como “presidente interino” da Venezuela foi confirmada com a divulgação de um comunicado conjunto dos 27 países membros do bloco esta semana. Ao mesmo tempo, os países europeus dizem não reconhecer as últimas eleições legislativas venezuelanas.

- A OIT divulgou novos números sobre o impacto da pandemia no mundo do trabalho. As mulheres foram as mais afetadas pelas perdas de empregos, ficando em 5%, contra 3,9% de homens. Trabalhadores mais jovens também foram mais afetados, a perda de emprego por pessoas de 15 a 24 anos foi de 8,7%, contra 3,7% da população adulta. O setor mais afetado foi o da hospedagem e alimentação, com 20% de desemprego em média, seguido por varejo e indústria. Já nos setores de informação e comunicação, finanças e seguros, aumentou a quantidade de empregos. Segundo a organização, a perda de empregos foi quatro vezes maior do que a registrada durante a crise econômica global iniciada em 2008.

- Embora esteja surpreendendo o mundo com a maior campanha de vacinação contra o coronavírus já realizada por um país, Israel não está garantindo que palestinos sob ocupação na Cisjordânia e na Faixa de Gaza tenham acesso ao imunizante. A denúncia é do Alto Comissariado de Direitos Humanos. A situação cria a bizarra coabitação entre vacinados e não vacinados especialmente nas regiões com muitos colonos israelenses nos assentamentos ilegais. A ONU está invocando o artigo 56 da Quarta Convenção de Genebra que exige de potências ocupantes manter os serviços de saúde em territórios ocupados. Em tom de piada, o ministro de Saúde israelense se pronunciou dizendo que “se é responsabilidade do ministro da Saúde de Israel cuidar dos palestinos, o que exatamente é responsabilidade do ministro da Saúde da Palestina, cuidar dos golfinhos no Mediterrâneo?”. Israel, além de ocupar ilegalmente os territórios palestinos, realiza bloqueios de todas as ordens impactando enormemente no sistema de saúde palestino.

- O Brasil tem recebido fosfato extraído ilegalmente do Saara Ocidental. O destino da carga são indústrias de fertilizantes agrícolas. Deste modo, o Brasil tem ajudado a manter o que é considerada a última colônia africana, segundo a ONU. O território do Saara Ocidental é ocupado pelo Marrocos, que tem ganhado dividendos do fosfato exportado sem repasse aos saarauís. Não há nenhuma decisão internacional que ampare o Marrocos na extração de minerais daquela região. (Infos: Brasil de Fato)