Brasileiras são as maiores vítimas da Covid-19 – Por Alexandre Padilha

Mulheres são maioria nas enfermarias. Também são elas que cuidam dos doentes em casa, que exercem seu trabalho dividindo o tempo com os cuidados domésticos e das crianças. São elas que perdem seus empregos

Foto: National Heart Lung and Blood Institute - EUA.
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Vivemos o momento mais difícil da maior tragédia humana já registrada no Brasil. Pela primeira vez, todos os estados do país estão acometidos pela lotação nos serviços de Saúde e crescimento de casos de Covid-19.  Registramos, nos últimos dias, 22% das mortes por Covid-19 no mundo. Qualquer cenário da pandemia no Brasil que poderia ser considerado exagerado, não é, pois, o conjunto de irresponsabilidades conduzidas pelo governo federal foram muitas. 

O esforço e empenho dos profissionais de Saúde em salvar vidas, o cansaço da sobrecarga das longas jornadas de trabalho e a tristeza aparente pela perda de cada vítima, são o dia a dia desses trabalhadores no último ano, em especial das mulheres, que são a maioria absoluta entre os trabalhadores de Saúde no Brasil e também as que mais sofrem os impactos da pandemia, seja nos atendimentos, seja pela tripla jornada de trabalho, na perda de renda e no aumento da violência doméstica.

Diante deste cenário trágico de perda dessas guerreiras da pandemia, ou aquelas que tiveram que se afastar do trabalho em decorrência da doença, aprovamos um Projeto de Lei, de minha autoria, que garante o direito à indenização a familiares de profissionais da Saúde que vieram a falecer em razão da Covid-19, ou que foram afastados dos postos de trabalho. Este PL tinha sido vetado por Bolsonaro e nós, no Congresso Nacional, conseguimos derrubar o veto.

Cerca de 90% dos trabalhadores de enfermagem e quase 80% das demais áreas da saúde são vagas ocupadas por mulheres. O Brasil é recordista mundial de mortes de profissionais de enfermagem pela Covid-19.

As mulheres são a maior parte das trabalhadoras das enfermarias, e também as que mais buscam os serviços de Saúde, e tiveram seus tratamentos, exames e cirurgias adiados. Pensando na não descontinuidade do atendimento à mulher, também aprovamos na Câmara um Projeto de Lei, do qual sou coautor, que garante a validade de pedidos médicos para realização de exames de pré-natal enquanto perdurarem as medidas de isolamento e quarentena para contenção da Covid-19.

Também são elas, as mulheres, que acompanham e cuidam de seus familiares/amigos doentes, que exercem suas funções de trabalho dividindo o tempo com os cuidados da casa e das crianças, que perderam seus empregos ou tiveram redução de salários.

São as mulheres que convivem com o terror doméstico de ter que passar mais tempo com seus agressores, por conta da pandemia, e consequente aumento do desemprego. Os casos de violência doméstica e feminicídios no país aumentaram e as mulheres deixaram de ter redes de apoio e solidariedade dos serviços públicos que fecharam na pandemia. Por isso, muitas delas não têm onde buscar socorro.

Dessa forma, cada um de nós tem o dever de construir uma rede de solidariedade a essas mulheres, para que possam ter neste momento apoio para evitar situações de violência, de perda de renda e falta de atendimento de saúde.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.