“Cancelar o título de eleitor de todo mundo” é um ponto de vista idiota, por Raphael Fagundes

Se há quatro anos Trump chegava à presidência dos EUA, hoje, ele cai de forma desonrada. A direita já vem sofrendo sinais de desgaste. Mas enquanto a esquerda não se une, os partidos de centro-direita vão preenchendo os espaços,

Foto: Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina.
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O período obscuro pelo qual passa a política na capital fluminense é realmente desanimador. O influenciador digital Felipe Neto declarou, em um de seus ataques que visam mais a polêmica que a reflexão, que “sou a favor de cancelar o título de eleitor de todo mundo no Rio de Janeiro”.

É comum colocar a culpa nas vítimas. Às vezes, fazemos isto sem querer. É a interiorização do discurso dominador. Isto pode ser encontrado no racismo entre negros, na maneira humilhante que um pobre trata o outro etc..

Felipe Neto, inclusive, já se envolveu em várias causas progressistas. Contudo, principalmente quando influenciados pela emoção, acabamos sendo injustos.

O problema de termos um segundo turno no Rio de Janeiro disputado por dois políticos de direita, não está no eleitor, mas na própria esquerda.

Marcelo Freixo avisou em maio que iria desistir da candidatura à prefeitura se não houvesse uma frente ampla de esquerda. Na ocasião, ele sugeriu vir como cabeça de chapa tendo como vice a petista Benedita da Silva. Houve divergências tanto no PSOL quanto no PT. Mas seria a chapa dos sonhos.

Após a conversa de Lula com Ciro, na qual estabeleceram uma aparente trégua, caso uma aliança entre PSOL e PT fosse realizada, o PDT, talvez, não lançaria candidato. A possibilidade de vitória à esquerda seria maior.

Mas, é importante ressaltar que os pedetistas pretendentes ao cargo do Executivo no Rio sejam um tanto quanto duvidosos, principalmente depois do candidato Pedro Fernandes, que apoiou Witzel no 2° turno há dois anos, se tornou secretário da Educação e se afundou na lama da corrupção. Mas a trégua entre a esquerda poderia alterar este histórico recente.

Enfim, Freixo estava certo. A desavença que há entre os partidos de esquerda está dando espaço para a direita fazer o que quer. Cabe lembrar que Crivella venceu em 2016 porque o próprio Freixo era o seu adversário. O golpe que afastou Dilma Rousseff da Presidência havia destruído a esquerda. O Rio de Janeiro, inclusive, é a cidade de Jair Bolsonaro e das milícias que ele comanda. A vitória da esquerda era muito improvável naquele cenário, ainda mais tendo um candidato que não agradava tanto a grande imprensa e a burguesia carioca. Acabou que, no fim, o fator “religião” pesou bastante nas urnas.

Contudo, após quatro anos o cenário é diferente. Se há quatro anos Trump chegava à presidência dos EUA, hoje, ele cai de forma desonrada. A direita já vem sofrendo sinais de desgaste. Mas enquanto a esquerda não se une, os partidos de centro-direita vão preenchendo os espaços, trilhando o caminho para uma futura candidatura de Moro e Luciano Huck.

Sem dúvida, somados os votos de Benedita aos de Martha Rocha, chegar-se-ia a 22% e o segundo turno estaria garantido.

Mas as desavenças nos levaram ao poço no qual estará afundado o Rio por mais quatro anos, independentemente de quem vença a disputa. Uma disputa marcada, mais uma vez, entre as corporações Globo e o presidente Jair Bolsonaro. Um conflito surreal, extremamente ideológico, que serve, em última análise, para esconder a luta de classe.