Como Boulos/Erundina chegaram ao segundo turno em São Paulo?, por Valerio Arcary

Boulos e Erundina somaram forças e gerações diferentes, com iniciativas político-partidárias que os chancelaram como a força de esquerda que enfrentará a direita na maior cidade do país.

Foto: Redes sociais (divulgação).
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A disputa em São Paulo foi e será, entre todas as capitais, a mais importante. Dois desafios grandiosos estavam colocados para toda a esquerda: tirar a extrema-direita do 2° turno e conquistar o seu lugar. Enfim, uma vitória política inequívoca! A candidatura Boulos/Erundina era a que melhor representava a resistência a Bolsonaro.

O destino de Bolsonaro passa pela ação direta de massas nas ruas. Não sabemos quando existirão condições sanitárias para poder iniciar o confronto e medir forças para derrubá-lo, mas a luta contra Bolsonaro passa, também, pelas eleições para as prefeituras. Teria sido um grave erro, apesar dos tormentos da pandemia, e da perspectiva de uma crise social no horizonte quando for suspenso o auxílio emergencial, ter minimizado a disputa eleitoral.

O PSOL foi uma oposição de esquerda coerente aos governos de coalizão liderados pelo PT, só que não hesitou em se posicionar unificado contra o impeachment. O PSOL defendeu uma Frente Única de esquerda para a ação nos movimentos sociais, em especial, com o PT, contra Temer e, no últimos dois anos, contra Bolsonaro. O PSOL não hesitou em lutar pela liberdade de Lula em 2018/19. Ter ocupado este lugar político aumentou a autoridade política do partido na esquerda.

Foram estas posições que permitiram aliança que se construiu em torno da candidatura de Guilherme Boulos/Sonia Guajajara à Presidência da República, em 2018. E foi a partir desta campanha, e do perfil de uma candidatura de esquerda vinculada aos movimentos sociais, e que elegeu Bolsonaro como o principal inimigo, que o PSOL conquistou uma audiência nacional, alavancando a eleição de dez deputados federais, além de mais de duas dezenas de estaduais

O PSOL, com Boulos/Guajajara, foi uma expressão dos movimentos que se reforçaram, desde as jornadas de 2013. Movimentos populares como o MTST, negro e de periferia, como a articulação nacional “Quem mandou matar Marielle?”, de mulheres, como a campanha pelo #elenão, de Direitos Humanos, como “Onde está Amarildo?”, de juventude, como as ocupações secundaristas, de LGBT’s, pelo Fora Feliciano, ambientalistas e dos povos indígenas, em defesa da Amazônia.

A candidatura Boulos/Erundina é herdeira legítima destes combates. É herdeira pelo seu lugar na luta política e pelo seu perfil. Mas é também a candidatura que tem maior potência política e eleitoral para acumular força no processo de reorganização da esquerda brasileira. Porque ela une o vigor de duas gerações de lutadores. Luísa Erundina derrotou o malufismo em São Paulo, em 1988. Foi uma das maiores façanhas eleitorais da esquerda brasileira. Já Guilherme Boulos se afirmou como uma das maiores lideranças da esquerda brasileira atual. Por isso, foi ameaçado de perseguição por Bolsonaro e identificado com um dos seus principais inimigos em vídeo no primeiro discurso depois de eleito.

Boulos e o MTST assumiram a responsabilidade da convocação, ao lado do PSOL, da primeira manifestação de rua, no MASP, depois da eleição do atual presidente, em novembro de 2018. Boulos e o MTST foram, também, ao lado do PSOL, os primeiros que se somaram às torcidas antifascistas nas primeiras manifestações de rua contra Bolsonaro depois do início da pandemia.

Foram muitos anos de luta para chegar até aqui.