Como dialogar com um evangélico – (Final) – Jesus bom é Jesus morto!

"A morte de Jesus é uma junção terrível de três fatores: um Estado opressor e autoritário, uma religião vendida a esse Estado em troca de favores e uma massa pública manipulada por esses religiosos"

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Hoje chegamos ao fim de nossos encontros textuais sobre como dialogar com aquele a quem chamo de “evangélico médio”, aquele que nem é progressista e nem fascista, mas muitas vezes sendo levado por líderes fundamentalistas e, muitos destes, vendidos a sistemas políticos perversos que não hesitam em mentir e manipular pessoas em seus projetos pessoais de poder.

Bom relembrar que nesse tempo pensamos e tentamos caminhar por textos bíblicos, fatos históricos e linhas de argumentação que deveriam fazer parte de todo pensamento daquele que se diz seguidor do Cristo e fiel ao Evangelho, onde claramente Cristo se põe a favor dos pobres e explorados, dos fracos e oprimidos, contra o Império e toda tentativa maligna de junção entre Igreja e Estado.

E, além de todo discurso da morte redentora (lembre-se que estamos falando com um cristão que enxerga dessa forma a morte de Cristo), é importante e essencial resgatarmos no nosso diálogo uma outra face da execução pública de Jesus Cristo: a sua face política. Jesus morre como um preso político, executado da forma como os romanos executavam os seus piores bandidos e inimigos políticos: crucificado.

A morte de Jesus é uma junção terrível de três fatores: um Estado opressor e autoritário, uma religião vendida a esse Estado em troca de favores e uma massa pública manipulada por esses religiosos, que defendia e festejava as execuções públicas, certas de que “bandido bom é bandido morto”. Isso fica claro em todas as narrativas da prisão, tortura e crucificação do jovem Yeshua ben Yousef, ou como conhecemos: Jesus, o filho de José, também chamado Cristo.

Interessante percebermos que os três fatores que o levam à morte são fatores altamente presentes em nossa sociedade. Por isso entre cristãos que leem a Bíblia fazendo essas comparações históricas e sabendo como o sistema religioso se comporta no Brasil, não temos dúvidas ao afirmar que Jesus seria morto hoje, no Brasil, em “nome de Jesus”.

Portanto, para chegarmos ao fim desse nosso diálogo, é importante, em um último momento estabelecer com esse evangélico com quem conversamos, a amplitude e a similaridade da morte de Jesus com a cultura de justiçamento e violência que, infelizmente, alguns cristãos defendem. Não há espaço para alguém que se diga cristão defender, por exemplo, a tortura e muito menos a ideia de que “bandido bom é bandido morto”. Exatamente porque, ao fazer isso, ele se torna cúmplice, pelo menos ideologicamente, daqueles que mataram Jesus. Era esse o pensamento vigente.

Defender a violência como inibidora da violência, o justiçamento, a pena de morte, ou até mesmo um punitivismo que a qualquer momento deseja logo que alguém seja preso e PAGUE pelos seus erros, não encontra em Cristo e em sua morte, qualquer ligação ou possibilidade de adequação de um discurso que se faça em nome da fé. Pelo contrário, a fé cristã deveria ser plenamente pacificadora, antipunitivista e promotora do bem. Nem se deveria cogitar entre cristãos a pena de morte, por exemplo, como possibilidade de sentença a um ser humano.

E é sempre bom lembrar que, para o cristão, Jesus ressuscitou. Ou seja, a morte como política de Estado não consegue vencer o amor que emana daquele que segue o Cristo. Somos “partidários” do AMOR, não da violência. E só pode haver crença na ressurreição (seja ela física ou metafórica) onde prevalecem a fé, a esperança e o amor.

Se para “Roma” ou qualquer outro que se coloque em lugar de opressão, “bandido bom é bandido morto”, para um cristão, que é e deveria continuar sendo sempre um opositor ao Império, ficará sempre a lição do Cristo: “Quem vive pela espada, pela espada morrerá!”. Não esqueçamos nunca: “Bem aventurados são os pacificadores. Eles serão chamados FILHOS DE DEUS.”

Amém!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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