Como dialogar com um evangélico – (parte 03) – Conhecendo o interlocutor

"Nem todo evangélico é fundamentalista. Ainda que, neste momento histórico, pareça prevalecer o fundamentalismo na maioria…"

Igreja evangélica em Minas Gerais (Foto: Gazeta Central)Créditos: Redes sociais/Reprodução
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E cá estamos nós para mais um passo nessa caminhada em busca de um ouvido atento evangélico, com o qual possamos dialogar e, quem sabe, convencê-lo dos caminhos errados que tem tomado politicamente nesse momento da nossa história brasileira, mas…

Você já parou para conhecer essa pessoa? Sabe como ela pensa ou como enxerga o mundo? Cuidado! Você pode estar sendo tão “alienado” quanto acusa o seu interlocutor que não quer dialogar com você porque, a priori, você é um comunista, cujo único objetivo é implantar uma ditadura e fechar todas as igrejas, implodindo a família e acabando com tudo. Pré-conceitos são perigosos, venham de onde venham…

Não. Não estou passando pano para fundamentalistas, aliás, com esses não há dialogo mesmo. Então por que uma série sobre como conversar com um evangélico se eu acabei de dizer que não há diálogo com fundamentalistas? Simples e a resposta está na pergunta: nem todo evangélico é fundamentalista. Ainda que, neste momento histórico, pareça prevalecer o fundamentalismo na maioria…

Como já disse em textos anteriores, há uma enorme massa formada por evangélicos que, para efeitos de texto chamarei de “evangélicos médios”, que são os que flutuam entre os progressistas e os fundamentalistas, e arrisco dizer que são quase um retrato do que temos hoje no Brasil “fora da igreja”: 25% pra um lado, 25% para o outro lado e uma “meiúca” que pode e precisa ser disputada, não só politicamente, mas em todos os sentidos… é gente que está perdida em meio a tanta informação conflitante e os ataques maciços das fake News em grupos de família e igrejas. Então, vamos ao nosso interlocutor, que é esse indivíduo “flutuante”…

O evangélico médio é uma pessoa de fé, que tem em sua igreja uma extensão da família (o termo família de Deus é muito usado), que tem a Bíblia como livro Sagrado (utilizando um termo bem falado: regra de fé e prática), vê o seu pastor como um ser muitas vezes iluminado por Deus e até mesmo seu porta-voz, acredita que “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”, versículo que se encontra no Salmo 33 e sempre repetido nas igrejas e tem como principal objetivo na vida “agradar a Jesus” (uma espécie de chancela divina à sua vida).

Por que é importante saber disso? Porque se você já começa a conversa desfazendo da fé da pessoa, generalizando que todo pastor é pilantra e só está de olho no dízimo (a maioria esmagadora dos pastores vive de forma simples e não tem altos salários), e desfazendo do seu livro sagrado, que é a Bíblia e, os mais extremos, já até chegando “de voadora” dizendo que “Deus é um delírio e não existe”, você perdeu o seu interlocutor, não haverá mesmo diálogo, e não é “porque crente é tudo alienado”. Talvez seja só porque você é arrogante!

Sim!!! Porque (aqui cabe a auto/outro-crítica à esquerda) parte da esquerda é arrogante com a fé cristã (longe de ser “cristofobia”, que fique claro!) como se isso fosse característica de grupos menos esclarecidos e dados a todo tipo de “crendices”, como se muitas vezes não fossem crédulos de outras ideias religiosas e crendices…

Então, para conversar com esse evangélico médio, que está em disputa é necessário ouvir, entender a forma como enxerga mundo e, a partir dessa ótica, propor as ideias e defender os seus ideais que, creia, são totalmente compatíveis com o que a esquerda defende, mas muitas vezes nos furtamos ao debate por não considera-lo possível.

Como tenho dito, não é fácil, mas é totalmente possível, e no próximo texto falaremos sobre como resgatar, nesse diálogo, o princípio revolucionário tanto da sua fé como do Cristo que ele tanto defende. Novos caminhos podem se abrir a partir disso.

E a nossa jornada continua…

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fóurm

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