Como dialogar com um evangélico (Parte 07) – Em quem Jesus votaria?

Se um líder religioso diz que Deus mandou votar num candidato, a probabilidade de estar mentindo e tentando manipular é de 100%. Mas, se fala que há um projeto político coerente com a fé cristã, é possível que ele esteja falando a verdade

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Estamos quase no fim de nossa jornada, que espero pelo menos ter ajudado um pouco no entendimento de como pensa um “evangélico médio” e, minimamente, apresentar alguns argumentos para que haja um diálogo pelo menos aproveitável com esse grupo que, como disse, está “em disputa” por parte da política brasileira.

E já que estamos em época de eleição, há sempre um tema que vem à tona: Afinal, Deus tem mesmo candidato? E, por incrível que pareça, não é uma resposta simples. Porque, se não há um candidato escolhido por Deus (e eu penso assim, que não há!), por outro lado há um “projeto político” que, sim, parece ser da preferência de Jesus, e que fica claramente exposto na Bíblia. Resumindo: se um pastor ou líder religioso diz que Deus mandou votar num determinado candidato, a probabilidade de ele estar mentindo e tentando manipular o seu pensamento é de 100%, mas se um líder religioso fala que há um projeto político coerente com a fé cristã, é possível que ele esteja falando a verdade.

E por que digo isso? Há alguma passagem bíblica ou alguma fala de Jesus que eu possa me basear para tal afirmação? Sim, há! E quero nesse texto abordar esse projeto de política que Jesus parece defender. Ele está em Mateus 25.32-36:

“Todas as NAÇÕES serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. (…) Então o Rei dirá: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’.”

Prestem bem atenção (e para aqueles que não estão familiarizados com o texto bíblico, explico): este é um dos textos chamados “escatológicos”, fala de um julgamento final, e neste julgamento específico que lemos não são as PESSOAS que estão sendo julgadas, mas as NAÇÕES. É um julgamento político, não pessoal. Por isso minha afirmação de que não há CANDIDATOS, mas sim PROJETOS POLÍTICOS coerentes com o Evangelho.

Mas… qual é esse projeto? E o mais curioso aqui é que você perceberá o quão distante a bancada que se diz evangélica ou a maioria dos candidatos que usa a fé para sua promoção política estão distantes desse projeto. Senão, vejamos:

O “projeto de nação” que Jesus defende é um projeto onde haja uma política de segurança pública relevante (eu tive fome e vocês me deram de comer), saneamento básico e uma política que garanta água para todos (tive sede e vocês me deram de beber), uma política de acolhimento aos imigrantes e refugiados (fui estrangeiro, e vocês me acolheram), defesa da dignidade humana (necessitei de roupas e me vestiram), uma política de saúde pública e eficaz (estive enfermo e vocês cuidaram de mim) e, por fim, uma política de segurança que trate o preso com dignidade, buscando sua total restauração (estive preso e vocês me visitaram).

Entenderam? É impossível, para Jesus, alguém que afirme ser seu seguidor e que ache que uma pessoa em situação de rua é um vagabundo, que entenda que o pobre que não tem nem onde morar dignamente está ali porque não fez por merecer, que afirme que venezuelanos ou sírios, por exemplo, sejam a “escória da humanidade”, que não defenda o direito de todos de se vestirem e terem proteção a seus corpos expostos, e finalmente é impossível dizer-se seguidor do Cristo e declarar que “bandido bom é bandido morto”. Para Jesus “bandido bom é bandido visitado, cuidado e assistido pelo Estado.”

A surpresa final é que muitos, segundo a continuação do texto bíblico, jamais imaginavam que estavam fazendo o que Jesus faria, e muitos que afirmavam serem seguidores do Cristo são por ele rejeitados porque não praticavam essas coisas.

Então, quando alguém disser que “deus está com um candidato”, pergunte se o candidato defende esse “programa de governo” que Jesus defenderia…

Semelhante aos nossos dias? Responda você…

E no próximo texto a gente encerra, com o Cristo que foi morto por esses mesmos religiosos…