Crente e de esquerda, sim! Sem crise... – Por pastor Zé Barbosa Jr

Sou de esquerda porque encontro nesse espectro político os ideais que defendo como cristão. Sou de esquerda e cristão porque é o espaço onde exerço de forma plena tudo que aprendi com o revolucionário de Nazaré: Jesus, o pobre

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Bastou o anúncio da criação do Núcleo de Evangélicas e Evangélicos do PT aqui na Paraíba, Estado onde moro há 4 meses, para os conservadores e aqueles que se julgam donos e representantes de Deus na Terra vociferarem aos quatro cantos que “é impossível ser crente e de esquerda”. A postagem de uma faixa que usamos no ato do último dia 24, pela Coalizão Evangélica contra Bolsonaro, despertou a fúria de milhares de pessoas num blog famoso aqui da região.

De onde vem tanta fúria? Será que sabem o que dizem? Por que tanto ódio por aqueles que se afirmam “do outro lado” no espectro político e por que tanta violência e virulência nos comentários e ações? Uma vereadora de João Pessoa chegou a gravar um vídeo, também comentado por centenas de pessoas e visto por milhares, onde tripudiava sobre aqueles que se dizem cristãos e de esquerda, segundo ela, “apoiadores do aborto, ‘ideologia de gênero’, e projetos que atacam as escrituras. Nós, cristãos, não queremos ex-presidiários no poder.” Em poucas palavras, a tal vereadora comete uma enxurrada de erros e acusações do senso que a direita quer parecer fazer comum a todos.

É interessante essa manipulação e deturpação do discurso da esquerda por parte dessas pessoas que, incrivelmente, se apresentam como cristãs, mas não medem esforços para disseminação de mentiras, acusações levianas e ainda mais apoiam um governo totalmente distante da lógica evangélica do amor ao próximo e da justiça social, características que deveriam ser marcantes nos seguidores do Cristo.

Sim! Sou cristão e de esquerda, com muito orgulho! Aliás, não consigo imaginar outra posição política exatamente por parte do meu compromisso com o Evangelho. Não consigo imaginar um cristão que não queira uma sociedade mais justa, um Estado verdadeiramente laico (pauta defendida historicamente pelos protestantes), menos violência, direitos plenos a quaisquer cidadãos independente de sua classe, raça, gênero ou orientação sexual.

Não existe e jamais existirá a possibilidade de alguém que se diga cristão apoiar governos genocidas, excludentes, amantes da violência e totalitários. Um cristão que apoia Bolsonaro, por exemplo, ou não entende nada da política do “mito” ou não entende nada da mensagem do Evangelho, porque a junção dos dois é impossível, incabível e uma violência contra a mensagem maior da fé cristã, que é o amor ao próximo!

Sou de esquerda porque encontro nesse espectro político os ideais que defendo como cristão. Sou de esquerda e cristão porque é o espaço político onde exerço de forma mais plena tudo que aprendi com o revolucionário de Nazaré, Jesus, o pobre, o amigo dos excluídos, o “terror de César”, o espinho no pé da proposta desumana e perversa de um império que, por sentir-se assim, mandou crucificá-lo! Sim, Jesus foi um preso político, um “bandido” para os “cidadãos de bem” da época. Fosse em nossos dias, certamente seria chamado de “comunista”, de “petralha”, “defensor de bandidos” e coisas assim... Em nada, repito, em nada, há incoerência entre os ensinos de Jesus e as pautas igualitárias e humanitárias defendidas pela “esquerda” (ou por quaisquer que sejam, pelo menos, humanos).

Quem tem ouvidos, ouça! O amor prevalecerá!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.