Eleições na África do Sul: em luta para recuperar confiança popular, partido de Mandela deve sair vitorioso

Vinicius Sartorato: “A vantagem folgada nas pesquisas não demonstra a profundidade concreta. Os sindicalistas do COSATU, maior central sindical do país, mostraram toda sua revolta com a sua situação do país”

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Com o fim do apartheid, regime ditatorial baseado na segregação racial (1948-94), o líder antirracista Nelson Mandela, que havia ficado preso por 28 anos (1962-90), tornou-se o primeiro presidente negro da história da República da África do Sul (1994). Desde então, seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC) venceu todas eleições presidenciais até hoje e passará por um teste decisivo para se manter no poder - as eleições gerais desta quarta-feira, 8 de maio. Nesse sentido, apesar de o partido ter um legado reconhecido por todos, o da transição pacífica para democracia, e ter resultados eleitorais expressivos - tem 62% (249 deputados) dos assentos da Assembleia Nacional, sofre com uma crescente onda de críticas. Entre seus principais opositores, estão a Aliança Democrática (DA), de centro-direita, segunda força política do país com 89 deputados (22%), e os dissidentes do ANC à esquerda, do partido Lutadores da Liberdade Econômica (EFF), com 25 deputados (6%). Ambos apresentam acusações que culpam os sucessivos governos de autoritarismo, de corrupção até a responsabilidade sobre a manutenção da desigualdade histórica herdada pelo apartheid. É com esse sentimento que, apesar de se manter no poder com mais de 60% dos parlamentares, a confiança no ANC parece estar caindo pouco a pouco, ano após ano. Depois da abdicação de Jacob Zuma (presidente entre 2009-2018), sob duros indícios de casos de corrupção e propinas, a imagem do partido foi duramente afetada. Agora, sob direção do seu sucessor, o antigo negociador-chefe da transição pacífica de 1994 e atual presidente da República, Cyril Ramaphosa, mantém uma boa vantagem. Segundo as pesquisas, o partido teria aproximadamente 55% de intenção de votos, seguido pelo DA com 17% e o EFF com 12%. A vantagem folgada nas pesquisas não demonstra a profundidade concreta. Declarando oposição a outro governo do ANC, os sindicalistas do Congresso de Sindicatos Sul-Africanos (COSATU), maior central sindical do país, mostraram toda sua revolta com a sua situação do país. Enfim, em declaração para o último 1° de maio, a COSATU resume o “clima” da eleição: “No front econômico, a classe dirigente continua sendo a mesma de antes de 1994 e os trabalhadores enfrentam os mesmos ou problemas ainda piores. (...) Muitos trabalhadores e suas comunidades não viram os avanços políticos acompanharem avanços econômicos. Ao contrário, o desemprego, pobreza e desigualdade do apartheid pioraram. Por isso, vamos continuar discordando de qualquer governo que siga políticas econômicas que fazem pouco para reverter essas tendências”. *Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.