Enquanto você trabalha para “salvar" a economia, Bolsonaro espanta investidores, por Raphael Fagundes

Ao passo que os trabalhadores se expõem ao vírus da Covid-19 em ônibus lotados, filas, etc., o presidente vomita que isso é necessário para salvar a economia, ao lado de seu clã que faz de tudo para destruir o país.

Foto: YouTube (reprodução).
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Primeiramente, no que condiz ao desmatamento, a retórica patriótica embusteira (que combina com Al Gore a exploração da Amazônia ao lado dos EUA) esconde uma política ambiental predatória que espanta muitos investidores. O vice-presidente Mourão ainda complementa os argumentos de Bolsonaro, dizendo que os estrangeiros não querem que o agronegócio no Brasil se desenvolva: "Óbvio que eles serão incomodados com isso, pelo avanço da produção brasileira. Eles buscarão impedir que essa produção evolua como ela vem ocorrendo", disse o vice-presidente.[1]

Muito pelo contrário, a função do Brasil no sistema mundo é justamente a produção de alimento. E os países desenvolvidos querem que seja assim. A China, por exemplo, não tem condições de alimentar a sua população, precisando comercializar estas commodities com países como o Brasil.

Os estrangeiros temeriam o Brasil se fôssemos grandes produtores de “supérfluos”, tecnologias, etc., produtos que mais dão lucratividade no capitalismo atual. Como não é o caso, a nossa condição de agroexportador é confortável. Ou seja, Mourão, “eles" não estão “incomodados".

Prova disto é a guerra comercial entre EUA e China. É justamente por conta do fato do gigante asiático estar invadindo o mercado mundial tecnológico, que os norte-americanos estão pressionando.

Isso nos leva a observar outra maneira adotada pelo establishment bolsonarista para fazer os investidores fugirem tal como o diabo foge da cruz. O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, comprou uma briga com a China por conta da tecnologia 5G, mostrando claramente a sua preferência pelo modelo norte-americano. Ao dizer que a tecnologia chinesa não passa de espionagem e que a Hawei possui um “comportamento perigoso", prejudica as relações comerciais com o maior parceiro econômico do Brasil.

“Segundo a embaixada, declarações de Eduardo Bolsonaro e outras personalidades ‘solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil’, afirmando que pode haver ‘consequências negativas’", mostra o jornal DW.[2]

A grande imprensa endossa a ideia de que o vírus se espalha por culpa das pessoas que violam as medidas de prevenção. Mas esta ideia que, por sua vez, tem um pouco de razão, esconde o fato de que após a reabertura da economia, o novo coronavírus retornou com toda força.

A China superou a epidemia e ainda tirou sua população da miséria porque adotou medidas de isolamento jamais vistas na história, como na cidade de Wuhan, de mais de 11 milhões de habitantes.[3] Já no Brasil, o discurso de salvar a economia, de que são “maricas” aqueles que não tocam a vida normalmente, expõe as pessoas ao vírus levando a um número altíssimo de óbitos e, ainda assim, como vemos, regride economicamente o país. Somente um governante que chama seu povo de marica é capaz de criar discursos e realizar gestos estúpidos capazes de afugentar investidores e criar brigas com as duas maiores potências mundiais (lembrando o caso da ameaça de resolver na bala o relacionamento com os EUA sob o governo de Biden). Tendo o trogloditismo como formação discursiva, todos os enunciados, em relação a qualquer objeto, serão trogloditas.

Sendo assim, enquanto muitos trabalham porque acreditam de fato no discurso do presidente, este faz de tudo para afundar a economia do país.

Não que o Brasil deva abrir as pernas para os investidores. Muito menos ser um quintal da China. A questão é que a relação comercial é de extrema importância, mas somente quando é multilateral, de modo que sejam evidentes as relativas vantagens para as partes.

Além de afundar a economia do país, Bolsonaro vem promovendo uma economia unilateral, submissa aos interesses norte-americanos. Será que este cenário mudará com Biden? Acho improvável, já que quem comanda a relação econômica entre EUA e Brasil são os interesses dos empresários estadunidenses, ávidos por ter maior predominância nas riquezas amazônicas.

Vivemos numa lógica na qual o cidadão tem que trabalhar para sustentar as burradas do governo e de seu projeto econômico desastroso. O cidadão tem que trabalhar, contaminar-se, hospitalizar-se, para que as consequências das idiotices que fala o presidente, seus filhos e correligionários, não sejam ainda mais drásticas para o país. É responsabilidade do povo a recuperação econômica? Infectados, carregamos nas costas os incompetentes que  guiam a nação para um destino incerto.


[1] https://www.google.com/amp/s/g1.globo.com/google/amp/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2020/07/12/investidores-estrangeiros-pedem-comprometimento-do-brasil-com-preservacao-do-meio-ambiente.ghtml

[2] https://www.google.com/amp/s/amp.dw.com/pt-br/china-repudia-declara%25C3%25A7%25C3%25B5es-de-eduardo-bolsonaro-sobre-5g/a-55721435

[3] https://diplomatique.org.br/china-exito-na-retomada-economica-e-na-luta-contra-a-extrema-pobreza/