Enzo Celulari, veganismo e por que o consumo de carne do brasileiro é o menor em 25 anos

Enquanto a fome aumenta e os preços dos alimentos disparam, a exportação da carne bate recorde

Foto: Depositphoto @sadgoat)
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Nesta semana, o empreendedor social Enzo Celulari foi “cancelado” nas redes após um tuite onde ele sugeria que a queda no consumo de carne no Brasil poderia ter a ver com a conscientização dos consumidores. Enzo é filho dos atores Claudia Raia e Edson Celulari, e dificilmente conhece a dura realidade de boa parte dos brasileiros, agravada com a crise sanitária, social e econômica que o país vive.

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo de carne vermelha é o menor desde 1996, quando o levantamento começou a ser feito. Cada pessoa consumiu em média 29 kg de carne vermelha em 2020, 5% a menos do que em 2019. E a previsão é de que neste ano de 2021 o consumo per capita fique em 26,4 kg. É uma queda de quase 14% em relação a 2019.

Para se ter uma ideia o ano em que o brasileiro mais comeu carne vermelha foi 2006, final do primeiro mandato do governo Lula, quando a média por pessoa chegou a 42,8 kg.

O que explica essa queda: aumento da miséria, da fome, desemprego, renda despencando e inflação disparando. No ano passado ainda tínhamos o auxílio emergencial de 600 reais, este ano, são apenas quatro parcelas de 150 reais.

Ou seja, sem dinheiro, o brasileiro está buscando opções mais baratas, e não são as foodtechs à base de plantas, que às vezes custam o mesmo que um filé mignon. Frango, suínos e ovos têm sido algumas das opções para quem ainda tem renda.

A realidade é que 116,8 milhões de brasileiros passam fome ou não têm comida em quantidade ou qualidade suficiente para se alimentar, segundo pesquisa realizada pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). É a primeira vez em 17 anos, que mais da metade da população não teve certeza se haveria comida suficiente em casa no dia seguinte. O estudo também identificou a estratificação da fome: mulheres da periferia, chefes de família, negras e com baixo nível de escolaridade.

A taxa de desemprego no país atingiu recorde de 14,7% no primeiro trimestre de 2021, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior taxa de toda a série histórica do IBGE, iniciada em 2012.

Enquanto isso, em um ano, o preço dos alimentos subiu 15% no país, quase o triplo da taxa oficial de inflação do período, que ficou em 5,20%, segundo o IBGE. O preço do óleo de soja subiu 87,89%, o arroz ficou 69,80% e as carnes, 29,51%.

Os produtores de animais dizem que há menos gado para a abate e que questões climáticas dificultam a pastagem. Mas há a questão da desvalorização do real, que favorece a exportação. Em março, as exportações brasileiras de carne bovina in natura tiveram um volume recorde, impulsionadas especialmente pelos envios à China, considerando-se a série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), iniciada em 1997.

Portanto, infelizmente a queda no consumo não foi por causa do aumento da consciência das pessoas de que os animais são seres sencientes, da crueldade com que são tratados nesse sistema de produção e nem de que a pecuária causa um grande impacto ambiental. A pegada hídrica de 1 kg de carne é de 15 mil litros. A criação do gado também é responsável pela liberação de metano na atmosfera, um dos gases do efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas. Sem contar a questão do uso do solo, com queimadas e desmatamentos, que segundo o Observatório do Clima são responsáveis por 71% das emissões do país.

Por isso, é urgente divulgarmos que uma dieta vegetariana é livre de crueldade e causa menos impactos ao planeta. E pode ser mais barata e garantir todos os nutrientes necessários para a saúde. Mas mais urgente ainda é ser solidário com quem tem fome, se mobilizar por um auxílio emergencial decente e cobrar do governo federal vacinas para que possamos sair dessa crise. Porque hoje a maioria das pessoas come o que dá, o que consegue, e tem gente com fome.

Assista este conteúdo em vídeo:

https://youtu.be/5SPKhwQy3zM