Exército de butique: Militares treinam sob vigilância de traficantes no Rio

Cena que mostra homens armados do crime organizado observando exercícios "de guerra" é um resumo do teatro fardado dos generais de gabinete com suas polpudas pensões – Por Henrique Rodrigues

Foto: Traficantes observam treinamento militar no Rio (TV Globo/Reprodução)
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Alguém consegue imaginar um grupo de terroristas do Estado Islâmico, armados com fuzis e pistolas, assistindo por cima do muro a um exercício militar da Missión Vigipirate, composta por seus brutamontes da Armée de Terre de France, nos arredores de Paris?

E membros das Farc observando tranquilamente, com lança-foguetes a tiracolo, as manobras do Ejército Nacional colombiano numa periferia de Medellín?

A cena captada nesta segunda-feira (8) pela TV Globo que mostra traficantes armados no alto do Morro do Batan, no Realengo, olhando um treinamento militar com veículos pesados a poucos metros de um muro que limita o Centro de Instrução de Gericinó (CIG) é uma dessas coisas que só poderiam acontecer no Brasil.

Nos regabofes com medalhas reluzentes, o bacalhau e os canapés refinados correm soltos, enquanto o ronco ideológico berra cada vez mais alto nessa micareta fardada em que se transformou o Brasil do bufo de QI decimal.

Só que do outro lado do muro, no mundo real, a presunção de força das tais "organizações permanentes do Estado" é uma piada.

Seria uma comédia das mais rocambolescas se não fosse uma vergonha ver os autodenominados fiadores da democracia serem desafiados pelo crime organizado bem debaixo dos seus quepes, no coração da cidade que agrupa o maior número de quartéis e unidades militares do Brasil.

Enquanto a fanfarra bate o prato e o bumbo em Brasília para saciar a tara por coturnos de um energúmeno que foi banido das fileiras castrenses por sua insanidade e insubordinação patológica conflituosa, seus Fortes Apaches cheios de siglas são monitorados por jovens pobres, em sua maioria negros, que, quase que como cumprindo uma sina do destino pelo descaso do Estado que nem pão ou lápis lhes ofertara, engrossam os batalhões do narcotráfico na ponta mais frágil dessa corda que movimenta bilhões.

Reforma pra cá, reestruturação pra lá, ao passo que as pensões e regalias só fazem aumentar. Contracheques gordos, jantares de cinco pratos e muito gogó para gritar as habituais bobajadas moralistas de sempre. É, ou não é, um Exército de butique?

Entre os de botas molhadas e lamacentas a realidade é implacável: treinamentos inúteis e sob os olhos atentos da Estado paralelo.