Fala absurda de Guedes cria incidente com a China; Mercosul em conflito outra vez

Nas Notas Internacionais: Declaração descabida do ministro da Economia de Bolsonaro joga mais combustível no incêndio com a China, enquanto Uruguai e Argentina voltam a trocar farpas na reunião do bloco sul-americano

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- Novo chanceler brasileiro, Carlos França, trabalhou como bombeiro, ontem (8), junto à Embaixada da China no Brasil, após ataques do ministro Paulo Guedes ao país asiático, dizendo que o novo coronavírus teria sido criado lá e que suas vacinas eram ineficazes. O Embaixador da China, Yang Wanming, publicou em suas redes que teve uma conversa telefônica com o chanceler e que ambos concordaram em “reforçar ainda mais a confiança política mútua num ambiente sadio e amigável, implementar os consensos entre os chanceleres e continuar a nossa parceria de vacinas”. Para quem não ouviu a fala de Guedes, eis um trecho: “o chinês inventou o vírus, e a vacina dele é menos efetiva que a do americano. O americano tem cem anos de investimento em pesquisa. Então os caras falam: ‘Qual é o vírus? É esse? Tá bom’. Decodifica, tá aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras”. A fala foi feita em uma reunião do Conselho de Saúde Suplementar. Ao saber da fala, o chefe da representação diplomática da China se manifestou assim: “até o momento, a China é o principal fornecedor das vacinas e dos insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo Brasil. A Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil”. Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil e desde 2012 os dois países têm uma relação qualificada como “Parceria Estratégica Global”.

- O governo do Uruguai apresentou esta semana aos parceiros do Mercosul uma proposta de flexibilização das negociações do bloco e permissão para que os países integrantes façam acordos comerciais unilaterais com terceiros. Consta no texto proposto que os países integrantes poderão iniciar negociações “seja de maneira coletiva, seja de maneira individual”. A proposta foi avaliada no Conselho do Mercado Comum, em reunião extraordinária presidida pela Argentina na última segunda (26). Participaram da reunião os ministros do exterior e da economia de todos os países integrantes, além dos presidentes da Argentina e do Uruguai. Atualmente, os países do Mercosul realizam negociações de forma conjunta, sempre com base em decisões consensuais entre os integrantes. Os uruguaios têm batido na tecla de que “se todos não estão de acordo, o Mercosul não avança''. O que estamos planejando tem por objetivo lidar diretamente com esse ponto: aqueles que não desejam avançar, por qualquer que seja o motivo, devem permitir que os demais parceiros avancem”. Essas foram as palavras do presidente do Uruguai, Lacalle Pou. Ele também disse que o Mercosul não pode ser um “lastro” que impeça o avanço de seu país, ao que Alberto Fernández, presidente argentino, respondeu que se a Argentina é considerada um lastro, “eles que apanhem outro barco”. Também houve farpas entre o ministro da economia brasileiro Paulo Guedes e o da Argentina Martín Guzmán. Em apoio à proposta do Uruguai, Guedes disse que a “mão invisível do mercado” iria ajudar a reativar as economias, ao que Guzmán revidou dizendo que “a mão é invisível porque não existe”. Guzmán acrescentou que o aumento das exportações e o crescimento econômico "deve ser inclusivo, deve vir acompanhado de equidade na distribuição dos benefícios”. A reunião não chegou a nenhum acordo e o tema será novamente debatido em reunião presidencial do bloco em maio.

- Uma proposta de reforma tributária na Colômbia tem gerado mobilizações em todo o país. Na quarta (28) foi convocada uma greve nacional com paralisações em vários setores produtivos. O “Paro Nacional” foi convocado por amplos setores organizados entre trabalhadores, mulheres, estudantes e indígenas, apesar das restrições impostas pela pandemia e teve uma adesão bastante grande. Os protestos das últimas horas têm recebido forte e violenta repressão por parte das forças policiais em várias cidades colombianas. A reforma tributária taxa salários a partir de 2.5 milhões de pesos (500 dólares), assim como as pensões a partir de 4,8 milhões de pesos (1300 dólares), amplia o imposto IVA para 19% em vários produtos da cesta básica, combustíveis, insumos agrícolas e serviços públicos. Aprofunda a mercantilização da saúde, abona empresários da agroindústria, mineração e exploração de petróleo. É uma reforma que atingirá principalmente a classe média e baixa do país, tendo efeito direto no consumo das famílias.

- O presidente dos EUA, Joe Biden, fez ontem (28) seu primeiro pronunciamento no Congresso após sua posse. Um dia antes de completar 100 dias de seu governo. Em seu discurso ele disse que “herdou uma nação em crise”, com a pior pandemia do século, a maior crise econômica desde 1929 e o pior ataque à democracia com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro. Os principais pontos que ele quis destacar foram o apelo para que as pessoas se vacinem, o investimento na ciência, a indicação de que a economia verde gerará empregos, pedido para que os consumidores priorizem produtos “made in USA”, cobrou a China quanto aos compromissos no combate às mudanças climáticas, disse que manterá presença militar na região indo-pacífica, mandou mensagem para a Rússia de que podem vir mais retaliações, citou o caso George Floyd e pediu às polícias que “reconstruam relações” com o povo, acenou com esforço para acabar com a “epidemia armada” interna e prometeu reforma no sistema migratório.

- O candidato à Presidência do Peru Pedro Castillo (Peru Libre) disparou nas pesquisas de intenção de voto. Pelo menos quatro institutos de pesquisa coincidem no apontamento de uma ampla vantagem do candidato. Pelo Instituto de Estudos Peruanos (IEP), Castillo obteve 41,5% das intenções contra 21,5% de Keiko Fujimori. A pesquisa anterior, da Ipsos, estava apontando 42 de Pedro contra 31 de Keiko. As empresas de pesquisa Datum e CPI, apontam 41 contra 26 e 35,5 contra 23,1, respectivamente, sempre com Castillo na dianteira. Keiko possui um alto índice de rejeição, na casa dos 55%, o que se explica pelo regime autoritário e a corrupção do governo de seu pai, Alberto Fujimori, e também pelos processos que ela enfrenta na Justiça por lavagem de dinheiro e ocultação de fundos em suas campanhas à Presidência em 2011 e 2016. A campanha de Keiko e seus apoiadores estão apostando em uma campanha anticomunista para derrotar Castillo, nas ruas das maiores cidades do Peru aparecem cartazes com os dizeres: “Pensa no seu futuro. Não ao comunismo” ou “O comunismo gera miséria e pobreza”. A campanha detratora diz que Castillo fará um governo autoritário, fechará o Congresso, terminará com a liberdade de imprensa e se perpetuará no poder (tudo que o fujimorismo fez). Keiko já recebeu apoio público do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe e do renomado escritor e defensor do neoliberalismo Mario Vargas Llosa. Entre os que se candidataram no 1° turno, a candidata de esquerda Verónika Mendoza (7,8% dos votos) expressou seu apoio a Castillo, embora questione sua postura com relação às políticas de gênero e casamento igualitário. Já o então candidato da extrema direita Rafael López Aliaga (11,7%) declarou apoio a Keiko e disse que se ganhar, Pedro Castillo “sairá morto do Palácio do Governo”.

- Segundo o Data Influye, do Chile, em pesquisa anunciada ontem (28), o candidato do Partido Comunista do Chile, Daniel Jadue, aparece em primeiro lugar como opção de votos dos chilenos com 16,8% das intenções. Ele é seguido pela candidata Pamela Jiles, com 15,5% e em terceiro vem o candidato Joaquín Lavín (UDI) com 9,8%. Dos entrevistados, 13,8% disseram não saber ainda em quem votar. Por outro lado, a aprovação ao governo de Sebastián Piñera está em 7%, segundo a mesma pesquisa, e a taxa de desaprovação é de 81%.

- O último passo do Brexit foi cumprido. O Parlamento Europeu aprovou por maioria o Acordo de Comércio e Cooperação que regula a relação pós-Brexit com o Reino Unido. Segundo o anúncio do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, o acordo foi aprovado por 660 votos a favor, 5 contrários e 32 abstenções, em votação secreta realizada na terça (27).

- O aumento dramático do número de contaminados pelo coronavírus na Índia fez com que o primeiro-ministro Narendra Modi telefonasse esta semana para uma série de líderes mundiais para pedir socorro. O governo americano foi um dos primeiros a acenar com ajuda.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.