E agora, Funarte, o que faço com minha Bíblia? – Por pastor Zé Barbosa Jr

O secretário Especial da Cultura (?), Mario Frias (que faz jus ao sobrenome) disse em suas redes sociais: "Enquanto eu for Secretário Especial da Cultura ela será resgatada desse sequestro político/ideológico!"

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A Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão totalmente aparelhado para o obscurantismo do desgoverno Bolsonaro, emitiu um PARECER TÉCNICO reprovando o pedido de apoio do Festival de Jazz do Capão, na Bahia, via Lei Rouanet (Olha a Rouanet aí, geeeeente!). O “parecer técnico” negou o pedido mencionando uma publicação em que o evento se posiciona como "um festival antifascista e pela democracia” (um detalhe: a postagem nas redes sociais é de junho do ano passado).

Mas a cereja no bolo (ou seria o bolo todo?) do “parecer técnico” é o constante uso do discurso religioso, como por exemplo a frase atribuída a Johann Sebastian Bach: "O objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma", além de pérolas como “a Música pode ser vista como uma Arte Divina, onde as vozes em união se direcionam à Deus”, assim mesmo, com erro de crase, e "a Arte é tão singular que pode ser associada ao Criador".

O secretário Especial da Cultura (?), Mario Frias (que faz jus ao sobrenome) disse em suas redes sociais: "Enquanto eu for Secretário Especial da Cultura ela será resgatada desse sequestro político/ideológico!".

Fiquei pensando com os meus botões: ou essa gente que dirige a Funarte não sabe o que faz, ou é burra demais, ou não querem nem saber de cultura mesmo e o que importa é empurrar goela abaixo do povo brasileiro suas frases sem sentido e sua utilização perversa do discurso religioso. Cheguei à conclusão de que as três alternativas estão certas e outras ainda poderiam ser acrescentadas. E mais: segundo a “régua” da Funarte, caso dependesse de apoio cultural para sua propagação, a Bíblia seria barrada pela fundação. As Escrituras Sagradas da Cristandade estão repletas de textos políticos/ideológicos e, mais ainda, essa “ideologia” salta aos olhos nas músicas que a Bíblia relata.

Os Salmos, por exemplo, que nada mais são do que músicas cantadas nos cultos judaicos, e compostas por grandes nomes bíblicos como Davi, Moisés, Asafe, trazem textos bem críticos aos governos injustos e perversos. São músicas cheias de “ideologia”. Senão, vejamos:

“Ó Deus, ensina o rei a julgar de acordo com a tua justiça! Dá-lhe a tua justiça para que governe o teu povo com honestidade e trate com justiça os explorados.”

“Que haja prosperidade no país, pois o povo faz o que é direito!”

“Que o rei julgue os pobres honestamente! Que ele ajude os necessitados e derrote os que exploram o povo!” (Salmo 72.1-4)

"Até quando vocês vão absolver os culpados e favorecer os ímpios? Garantam justiça para os fracos e para os órfãos; mantenham os direitos dos necessitados e dos oprimidos. Livrem os fracos e os pobres; libertem-nos das mãos dos opressores.” (Salmos 82:2-4)

Sem contar o “Magnificat”, o Cântico de Maria:

“Ele realizou poderosos feitos com seu braço; dispersou os que são soberbos no mais íntimo do coração. Derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos.” (Lucas 1:51-53). Quer coisa mais ideológica que a denúncia feita na música cantada pela Mãe de Jesus?

Eu poderia compartilhar aqui muitos outros cânticos e trechos bíblicos que seriam rapidamente rechaçados, demonizados e “comunistizados” pelo desgoverno e seus asseclas. Uma coisa é certa: a Bíblia seria um livro rejeitado pelo bolsonarismo e suas vertentes mais fundamentalistas. Eles apenas a citam, sem conhecê-la. Se a conhecessem, seria vetada. Ideológica demais.

A trupe “Terrivelmente Evangélica”, só é terrível. E mente!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum