Governador gay ou gay governador? – Por Lelê Teles

Leite, branco, com poder e rico, acaba de se assumir homossexual, e não o fez andando de mãos dadas com o namorado num shopping ou usando uma placa humanizadora numa parada gay. O fez na Globo

Eduardo Leite em entrevista no programa de Pedro Bial, na Globo, assumiu homossexualidade
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Sim, prepara-te, vou meter linguística na parada mermo, já que o cabra do sapatênis tentou fazer uma acrobacia com a linguagem.

E isso aqui, como diria o manauara Omar Aziz, não é um circo; palhaçada é essa?

Quando você constrói um sintagma, fazendo alterações de paradigmas, você automaticamente faz uma alteração semântica.

Elementar!

Não te parece tão elementar? Tudo bem, resumirei num tuíte: mudar a ordem das palavras numa frase muda o sentido da frase.

Portanto, canhotagem gratiluz, dizer-se governador gay é bem diferente de dizer-se gay governador, e a malandragem de usar o exemplo de Obama é a chave pra entender o enunciado enigmático emitido pelo presidenciável Eduardo Leite.

Já explico tudo, porque pra tudo tenho explicação, uma vez que prefiro fazer perguntas ao oráculo de tanga de penachos, o bom e sapientíssimo Cacique Papaku, ao invés de confiar ingenuamente nas oraculagens seletivas que o gugo nos envia por meio dos seus malandros algoritmos.

Mas, antes, vamos à semana que esta foi de arrepiar.

Descobrimos na CPI do Genocídio que o medicamento essencial para manter os brasileiros vivos, e frear a onda de mais de meio milhão de mortes, estava sendo negociado por um meganha de baixo coturno.

Vacinas que custariam bilhões de reais aos cofres públicos, veja que coisa, estavam sendo atravessadas por atravessadores enquanto tomavam chope e beliscavam uns finger foods num buteco de shopping.

Coisa de traficantezinho classe média.

Ao invés de um prédio público, com registro de entrada e saída, ata de reunião, gravatas e crachás, a turma optou pela informalidade, reunindo-se numa quebrada chique de um bróder, que ainda faria o favor de apagar os registros imagéticos do convescote.

Um miliciano faria igual, a única diferença é que alguém morreria no final.

Mas pode ser que este ainda seja só o começo.

Nessa semana também ficamos sabendo que Damares foi amada, ou melhor, foi amante de um bravo São Jorge; ela de rosa, ele de azul, trepados numa goiabeira.

Com mil diabos, diria o diabo sobre essa impensável e diabrosa satanagem.

Oswaldo Eustáquio, tido por Damares como “profissional muito ético e sério” foi quem vazou os segredos de alcova para os líderes religiosos.

A Bíblia, livro seguido à risca por essa rapaziada de bem e da família, ordena que o adultério seja punido com apedrejamento.

Mas como a Bíblia é um livro machista, as rochas serão dirigidas à mulher solteira.

Malafaia atirou a primeira pedra, disse que a ministra pode cair.

Por enquanto o que não para de cair são os patrocínios do programa idiota do idiota Sikêra Júnior.

Sim, se você assiste ao programa do Sikêra você também é um idiota; um midiota pra ser mais preciso.

Sikêra, o abutre que comemora a morte de seres humanos, e ofende homossexuais enquanto mama nas tetas das verbas públicas, tá tendo o CNPJ cancelado por diversos anunciantes; já são quase 60.

Pelo andar da carruagem, ficará apenas com a verba da Secom.

E por falar em Secom, o chefe da CIA veio ao Brasil para uma visita discretíssima, como se estivesse a serviço de uma espionagem.

O que a CIA faz aqui se o Marreco de Maringá não manda em mais nada e a turminha dele de procuradores segue sendo procurada?

Ora, veio tratar de algo intratável com o Necrarca: sabotagem à China, cotoveladas nos vizinhos progressistas, viralatices e vassalagens, talvez até o voto impresso

O CEO da CIA veio contar com a sabujice do Necrarca no momento em que o quintal do império se volta novamente à esquerda; os peões chutaram novamente o xadrez imperialista.

Deve ter voltado pras estranjas feliz e com uma deliciosa lambida no ovo esquerdo.

Voltemos ao Sikêra.

Em meio a um tiroteio em que o sujeito está a ser massacrado por chamar as pessoas LGBTQ+ de “raça maldita”, entre outras ofensas, saiu em sua defesa uma criatura de nome Jessicão, ela diz em vídeo:

“Fala, galera. Aqui é Jéssicão. Sou lésbica assumida e sapatão raiz. Sapatão raiz não quer interferir na criação das crianças nem nada, só queremos viver nossa vida (...) Então vamos levantar a hashtag #estamoscomsikera.

Ora, ora ora, essa sapatão de sapatênis diz concordar com o cabeça de burro e que, veja que delírio, homossexual não deve perverter as crianças com sua homossexualidade!

Num é de lascar?

Jessicão Token é o Hélio Negão do Sikêra.

Amigo, não existe governador gay idiota, sapatão raiz idiota ou negro papagaio de pirata idiota; o que existe é idiota.

Gênero, raça e cor não determinam o caráter de ninguém.

Agora vamos a Leite.

É bobagem que se assumindo gay, Leite leva o voto gay; Eduardo Jorge assumiu-se maconheiro e, de todos os que eu conheço que fumam a erva, nenhum votou em Jorge.

Mas é inegável que levará os votos das sapatão de sapatênis.

Explico-te o que me explicou o grande Papaku.

Obama é filho de uma mulher branca do interior com um homem negro do Kênia.

Por anos, sua mãe foi bombardeada com imagens negativas que desumanizavam os negros.

Negros e negras sequer podiam sentar-se ao lado de brancos num busão e muito menos tomar água no mesmo bebedouro que a branquelagem.

Não fazia muito tempo, sabia a mãe de Obama, negros e negras eram estuprados por seus patrões ou eram pendurados pelo pescoço em árvores ou linchados e queimados vivos.

Chegou-se ao ponto de a negritude ter que marchar pelas ruas com uma placa pendurada nos pescoços onde se lia: “I am a man!”

Porém, quando a mãe de Obama assistiu ao belíssimo filme Orfeu Negro, de Marcel Camus, drama grego adaptado por Vinícius de Moraes, com um elenco inteiro de negros e negras lindos e humanizados, vivendo um drama grego cheio de significados e sentidos, numa favela carioca durante o carnaval de 1959, ela percebeu que negros e negras eram humanos e que, sobretudo, eram lindos.

No ano seguinte, no Havaí, ela conheceu o keniano, apaixonou-se e, no ano seguinte, 1961, nasceu Obama.

Sem Orfeu Negro não teria Obama, sem Obama os Esteites ainda não teriam tido o seu primeiro presidente negro.

Obama presidiu não por causa de Orfeu, Orfeu o fez nascer, mas por causa da luta de vida e morte de figuras como Medgar Evers, James Baldwin, Martin Luther King, Malcom X e os Panteras Negras.

Mas quando decidiu candidatar-se, aproveitando-se de sua condição birracial, Obama disse que não seria o candidato dos negros, mas de todos os estadunidenses.

Ou seja, ele não era um negro político, mas um político negro.

A mensagem era a seguinte, os brancos poderiam ficar tranquilos, as coisas continuariam como estavam, ou que pelo menos não mudariam por vontade sua.

Ao assumir, foi isso o que se viu, ninguém foi menos presidente dos negros que o negro Obama.

Leite, branco, com poder e rico, acaba de se assumir homossexual, e não o fez andando de mãos dadas com o namorado num shopping ou usando uma placa humanizadora numa parada gay. O fez na Globo, onde dois homens e duas mulheres já se beijaram em novelas e um repórter já fez declaração ao marido.

Saiu do closet sem sair do quarto.

Leite assumiu sua homossexualidade como cálculo político, e isso é óbvio.

Assim como Obama assumiu não ser um negro, mas um homem de pele negra.

E Leite só não teve medo de perder os privilégios porque antes dele muitos e muitas, cansadas de serem torturadas e mortas, marcharam em protestos e paradas com uma placa no pescoço, “Sou um Ser Humano”.

Ao se dizer gay e colocar à parte sua homossexualidade, que é perene, em detrimento de sua posição política, que é transitória, ele faz como Obama.

Com isso, leva o voto das sapatão de sapatênis, proíbe-se do beijo público para não perverter as criancinhas, continua ligado no programa do Sikêra Júnior e sorrindo ao lado do Necrarca racista, LGBTfóbico e misógino.

É por tudo isso que a mãe de todas as nossas lutas, canhotas gratiluz, é a luta de classes.

Palavra da salvação.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.