A maior parte dos eleitores de Bolsonaro, quando questionados sobre a falta de atuação do governo, sobre a inércia frente à diversos temas que vão da economia às demandas por educação e saúde, respondem em uníssono: “mas não deixam o homem trabalhar".
O bolsonarismo é conhecido por usar as estratégias da esquerda para criar a sua propaganda. Exemplo disso é o guru Olavo de Carvalho que se apropriou da teoria gramisciana de hegemonia cultural para fundamentar seu projeto ideológico de conspiração comunista.
“Deixe o homem trabalhar” foi o jingle da campanha de Lula em 2006. Contudo, mesmo que seja um plágio intencional, o contexto é totalmente diferente.
Em 2006, embora o escândalo do mensalão estivesse afetando a imagem do presidente, o Brasil estava no auge econômico por conta do boom das commodities. O dólar circulava em torno de 2,1, a inflação 3,14% e o desemprego era de 8,4%, o menor em 10 anos.
Ou seja, víamos de fato alguma coisa sendo feita. Algo de concreto estava sendo realizado.
A retórica bolsonarista, isto é, a retórica do plágio, aproveita apenas as palavras, descontextualizando-as do seu lugar de produção. O objetivo é usar jargões, jingles os quais o povo já conhece e se identifica. Se estas frases feitas forem de esquerda, é melhor ainda, pois caso o critiquemos, a resposta imediata será: “mas o Lula também fez isto".
É um embuste tão grotesco que já em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, essa frase (“deixe o homem trabalhar) já era repetida pelos seus asseclas.
Outra questão é o fato, que o presidente faz questão de mostrar para todo mundo, de sua agenda se resume a motociatas e entrega de medalhas a militares.
Sobre este ponto um eleitor falará: “ele faz isto porque não o deixam trabalhar".
Ora, se Bolsonaro não trabalha porque o sistema não o deixa trabalhar, não seria contraproducente elegê-lo novamente? Para que votaríamos em alguém que não trabalha? O que esse eleitor espera: um golpe que faça com o Congresso se dobre aos interesses de Bolsonaro?
Seguindo este raciocínio, um operário contratado por uma empresa deve mudar todo o sistema de produção para poder trabalhar. Essa comparação, inclusive, é perfeita, já que os bolsonaristas entendem que o governo deve seguir os mesmos padrões administrativos de uma empresa, como manda a cartilha neoliberal.
Bolsonaro não quer trabalhar, ele quer apenas se reeleger. Aliás, para um político com mais de 30 anos de carreira, trabalhar é justamente fazer de tudo para se manter no poder. Ele diz que não o deixam trabalhar, mas trabalha intensamente para fortalecer sua imagem perante seus seguidores fiéis enquanto a população se afoga na pobreza e na doença.
O slogan “Deixem o homem trabalhar” caía muito bem em 2006, mas em 2022 não passa de uma retórica do plágio.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.