Jairzinho Malandro, um fanfarrão: "não tem corrupção no governo… Rá!"

Parem as máquinas! Aos 520 anos, desde a chegada dos colonizadores, o Brasil está pela primeira vez livre da chaga da corrupção. Dom Jair I - 'O Mito', El-Rei de todas as mamatas e soberano das rachadinhas, deu jeito nessa fuleragem e proclamou: "acabou, porra!"

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Brasil, 07 de outubro de 2020.

Guarde esta data! Save the date, pois será o novo feriado nacional a partir do ano que vem! Pois é… Ontem, do alto do púlpito que guarda toda a liturgia reservada aos dignitários ilibados da pátria, Jair Bolsonaro anunciou: "acabei com a Lava Jato porque não tem corrupção no governo!"

Uooou!

Jair do céu! Não brinca com a gente, repete isso aí, menino… Diga que não estamos sonhando… Estamos mesmo definitivamente livres do jugo diabólico da roubalheira endêmica? É isso, Jair?

É… Você não leu errado, parceiro. No melhor estilo Jairzinho Malandro, o Rei da Pegadinha, nosso sincero e obstinado presidente anunciou que já era… Acabou! Corrupção é assunto do passado!

A parte mais curiosa deste anúncio formidável e aguardado há tantos séculos é que ele foi feito no mesmo dia em que uma reportagem da 'Folha de S. Paulo' mostrou que Bolsonaro fez uma doação de 10 mil reais em espécie (irregular) para a campanha do filho Carlos, o que configura uma prática ilegal e condenada pelo TSE, por facilitar a lavagem de dinheiro.

É realmente chocante como a família presidencial gosta de carregar volumes expressivos de grana viva, pra cima e pra baixo. Num caso como esse da doação, seria infinitamente mais fácil fazer uma transferência pelo celular e deixá-la já declarada para a Justiça Eleitoral. Mas não, Bolsonaro julgou melhor ir à boca do caixa, sacar 10 mil caraminguás e dar nas mãos do filho. Uma baita comodidade, diga-se de passagem.

O anúncio do piadista-geral da República também não fez menção aos sucessivos casos de picaretagem atribuídos aos círculos mais íntimos de seu convívio político, pessoal e familiar.

A fantástica fábrica de chocolates do Flavinho, que só vende quitutes no cash e em lotes avantajados, os chequinhos periódicos de Queiroz na conta da primeira-dama e da gurizada, o desvio de 7,5 milhões de reais doados e destinados à compra de testes para a covid-19, que foram parar na conta de uma ONG amiga lá da igreja da Damares, a rede de funcionários fantasmas e laranjas que lava e repassa os salários dos gabinetes, os mais de 30 mil militares que embolsaram o auxílio emergencial, a compra de dezenas de imóveis por preços abaixo dos de mercado e em dinheiro vivo imputada a seus filhos e à ex-mulher, os 41 mil reais gastos por dia no cartão corporativo da Presidência no ano de 2019, o acúmulo de salários e vencimentos por parte do batalhão de generais que ocupam cargos de primeiro escalão no governo, o auxílio-moradia pra 'comer gente', a fraude nos recibos de gasolina da cota parlamentar, em postos do Rio de Janeiro, da época em que o presidente era deputado, enfim… Nenhuma dessas acusações foi mencionada, ou explicada, no pronunciamento histórico que comunicou ao povo brasileiro o fim da corrupção.

Mas nada disso ofusca o brilho da atmosfera mágica que tomou conta do Brasil logo após a notícia tão esperada. Eu imaginei até o gado fiel e amansado repercutindo a boa nova nos grupos de Whatsapp, cheios de bandeirinhas e arminhas, nas telas úmidas e respingadas pelas lágrimas que rolaram bochechas abaixo das tiazonas patriotas.

Parem as máquinas! Aos 520 anos, desde a chegada dos colonizadores, o Brasil está pela primeira vez livre da chaga da corrupção. Dom Jair I - 'O Mito', El-Rei de todas as mamatas e soberano das rachadinhas, deu jeito nessa fuleragem e proclamou: "acabou, porra!"

A terra tremeu, o joelho se dobrou e as trombetas do Malafaia tocaram… Até que enfim um homem honesto, temente a Deus, pôs fim aos banquetes pantagruélicos da famigerada sanha corrupta dos pilantras nacionais.

Oh, glória!

O fato é que eu sempre soube que este dia chegaria. Quando Bolsonaro assumiu, tinha certeza que a extinção da patifaria institucional ocorreria pelas suas mãos.

Afinal, quando um homem de vida profissional consistente e produtiva, com um passado político tão expressivo, chega ao poder, carregado nos mocotós do povo, é sinal de que tempos de bonança virão.

Mesmo que esse homem seja um militar pífio, desequilibrado, defensor da tortura, que foi desligado do Exército por tramar motins. Mesmo que como deputado tenha passado 28 anos sem apresentar uma só proposta de lei decente na Câmara, perambulando por nove partidos e enfrentando uma penca de acusações de crimes análogos ao roubo de galinha.

Por méritos dele, hoje, todos nós dormiremos mais tranquilos.

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