Menino Henry, indícios robustos de um infanticídio – Por Chico Alencar

Vou pedir seu afastamento enquanto durar a investigação. Se de fato ele se configurar culpado, vamos, nós do PSOL, pedir a cassação do seu mandato.

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A Polícia Civil do Rio prendeu, por ordem judicial, o vereador da cidade conhecido como "Doutor Jairinho", do partido Solidariedade, e sua companheira (cúmplice?) Monique. Os dois são suspeitos de envolvimento na morte do menino Henry, de 4 anos, filho de Monique com o ex-marido.

Os mandados de prisão temporária por 30 dias foram expedidos pelo 2º Tribunal do Júri. A acusação contra Jairinho e Monique é de homicídio duplamente qualificado – por motivo torpe e sem chances de defesa à vítima. Segundo a polícia, o pedido de prisão foi necessário porque o casal poderia combinar versões e ameaçava testemunhas.

Recapitulemos os fatos.

O menino foi entregue à mãe, no apartamento em que ela mora com Jairinho, na noite do dia 8 de março. Estava em perfeitas condições de saúde. Horas depois chegou morto a um hospital.

Lá, Jairinho e a namorada tentaram apressar o sepultamento, sem que fosse feita a autópsia. Os médicos não permitiram. Na mesma madrugada, Jairinho, num telefonema, pediu a intervenção do governador do estado. Este disse, depois, ter avisado a Jairinho que não se envolveria na história.

A versão apresentada por Jairinho e Monique é que o menino estava dormindo num outro cômodo e foi encontrado pelo casal no chão, desacordado. Segundo os dois, deve ter caído da cama.

Ocorre que o laudo da necropsia atesta que a criança sofreu "múltiplos hematomas no abdômen e nos membros superiores", tinha "infiltração hemorrágica" nas partes frontal, lateral e posterior da cabeça, além de "grande quantidade de sangue no abdômen", "contusão no rim" e "trauma com contusão pulmonar".

Como se vê, são muitas e graves contusões para que tenham sido causadas por um simples queda da cama.

Jairinho é, também, suspeito de ligações com milícias – grupos criminosos que praticam extorsões e assassinatos de aluguel em bairros da periferia do Rio.

Em 2008, quando repórteres do jornal "O Dia" foram detidos e torturados durante sete horas por milicianos na Favela do Batan, na Zona Oeste carioca, seu nome apareceu. No depoimento “Minha dor não sai no jornal”, escrito para a revista "piauí" em 2011, o fotógrafo Nilton Claudino — uma das vítimas — denuncia a presença de "um vereador, filho de deputado" (caso de Jairinho) na sessão de torturas.

Hoje Jairinho não só é vereador, como integra o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal.

Também estou vereador e, assim como ele, faço parte do Conselho. Há dias vinha cobrando uma reunião do colegiado para ouvir Jairinho sobre as acusações. Anunciei, também, que vou pedir seu afastamento do mandato enquanto durar a investigação.

Posteriormente, de posse de todos os elementos do inquérito que levaram a Justiça a determinar sua detenção, e se de fato ele se configurar culpado, vamos, nós do PSOL, pedir a cassação do seu mandato.

O episódio da morte do menino Henry – deplorável sobre todos os pontos de vista – deve pelo menos servir para duas coisas. Em primeiro lugar, demonstrar que não pode haver impunidade para poderosos que cometam crimes. Depois, reafirmar a importância de se combater as milícias, cujos integrantes muitas vezes contam com a impunidade por terem ligações com setores da polícia e com políticos.

Que a morte trágica de Henry não tenha sido em vão. Que os autores desse crime abominável recebam a justa punição.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.