O mínimo que você precisa saber para morrer como um idiota

Transborde ódio, junte-se a uma legião de canalhas, invente teorias ridículas, negue a existência do vírus, rejeite a vacina e se f*de aí – Por Henrique Rodrigues

O astrólogo extremista Olavo de Carvalho (Twitter/Reprodução)
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Morreu Olavo de Carvalho. A notícia é essa, mas... Antes de qualquer mexerico é necessário deixar escrito com letras garrafais que se trata de um sujeito de um mau-caratismo prodigioso. Sim, prodigioso de prodígio mesmo. Aquilo que parece tão fenomenal que está além do alcance das leis naturais. Olavo era um grão bruto e não polido de mau-caratismo.

Ao notar que gozava de uma verborragia que soava como música para os ouvidos de gente da pior espécie, Olavo caprichava no repertório e lhes entregava tudo que a humanidade pode ter de pior: mentiras, ódio explosivo, violência, falsidade e toda sorte de influências malignas baseadas numa bibliografia inventada e risível. A sofisticação tosca que impunha um pretenso tom acadêmico fascinava imbecis ávidos por ouvir de alguém as mentiras mais absurdas que justificassem seus instintos e maldades congênitos.

Alguém que viveu no século XXI e dizia para uma significativa camarilha devota e idólatra que cigarro faz bem à saúde e aumenta a atividade cerebral, diminuindo o colesterol, que a Pepsi usa células de fetos abortados para adoçar seus refrigerantes, que o Brasil segue distribuindo cada vez mais kits-gay para as crianças nas escolas, que ninguém tem certeza do formato da Terra, podendo ela ser plana ou não, que os planetas não orbitam ao redor do Sol e que Albert Einstein modificou a física inteira fazendo um arranjo só para não admitir o erro do heliocentrismo, convenhamos, alguém assim é de vilania que não cabe no mundo dos pobres mortais.

Mas morreu. E morreu como um idiota.

Aliás, parafraseando e parodiando sua grandiosa obra, vazia com um pastel de feira da Era Sarney, gostaria de prestar homenagem a Olavo de Carvalho com a deferência devida. Ele morreu como um verdadeiro idiota. Aliás, conheço idiotas que não conseguiriam tal proeza.

Dito isto, saiba o mínimo que você precisa saber para morrer como um idiota:

Farsante inveterado e de rara malignidade, comece, como Olavo, dizendo que não existe uma só morte por coronavírus no mundo e que isso é parte da maior manipulação da história da humanidade.

Depois, negue a existência do vírus, afirmando que tudo não passa de um golpe da China. Na sequência, negue a ciência, sim, como já vinha fazendo antes ao proclamar os benefícios do cigarro, e diga que vacinas não têm qualquer ação porque o vírus não existe.

Contamine-se, para mostrar que sua confiança no absurdo é inabalável. Todo ilusionista (com respeito aos ilusionistas) tem que ter fé no próprio taco e jamais titubear ante ao impossível ou à incredulidade alheia.

Agora, deite e aguarde o chamado.

Morrer como idiota após passar a vida ditando regras a uma pilha de trouxas e sem-vergonhas é uma glória. Rende até apoio do presidente da República, luto oficial de um dia e as lágrimas de seus filhos, as viúvas do mestre que fazia com excelência o que eles fazem de melhor: mentir para outros idiotas.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.