Movimentos contra Covid-19

Em novo artigo, Raimundo Bonfim diz: “Estamos entre aqueles que defendem que a luta contra o coronavírus e a derrubada do governo Bolsonaro andam juntas, não são lutas separadas ou por etapas"

Foto: José Cruz/Agência Brasil
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O Brasil e o mundo passam por uma gravíssima crise, sanitária, econômica, política e social. O coronavírus (doença causada pela Covid-19) tem provocado uma devastação como poucas na história da humanidade. Já resultou na morte de milhares de pessoas, tem impactado negativamente a economia mundial e acelera a piora nas condições de vida do povo, sobretudo os mais pobres.

No Brasil, diferente de outros países em que os governantes tomam medidas de enfrentamento ao vírus, como investimento na saúde, isolamento social e medidas de garantia da renda e emprego, Bolsonaro reafirma sua face mais cruel: ataca direitos, aumenta o autoritarismo, contraria recomendações de seu próprio governo e despreza a vida.

Sua única preocupação é assegurar e manter sua base de sustentação e atender aos interesses dos financistas, mesmo que isso custe a morte de milhares de brasileiros. Em seus atos e gestos, o presidente tenta passar a falsa ideia de que é contra o sistema político, até mesmo contra seus próprios ministros.

Com o objetivo de mitigar os efeitos do coronavírus, no dia 2/4, diversos movimentos populares urbanos de todo o país lançaram a campanha “Movimentos Populares contra a Covid-19”. A iniciativa tem a finalidade de estimular a solidariedade entre as pessoas, com a divulgação de pontos de arrecadação e distribuição organizados por grupos que atuam em favelas, ocupações, com população de rua, ambulantes e famílias que vivem nas periferias das grandes cidades brasileiras. Para impulsionar essa campanha de solidariedade a Central de Movimentos Populares, em conjunto com outras entidades do movimento popular urbano, criou um site para cadastrar e divulgar os pontos de solidariedade.

Diante da lentidão e de medidas pouco concretas e eficazes por parte dos governos, especialmente o federal, a CMP também está promovendo uma vaquinha online para apoiar centenas de grupos vulneráveis por todo o país). A vaquinha visa viabilizar a distribuição de cestas básicas de alimentos, materiais de limpeza e higiene, além de produtos perecíveis (carne), visto que nos últimos dias temos recebido muitos pedidos de ajuda, vindo de áreas com extrema pobreza, alto índice de desemprego e informalidade.

Essas ações de solidariedade pretendem mitigar os efeitos econômicos e sociais provocados pela Covid-19, e possibilitar concretamente que as pessoas fiquem em casa e cuidem de sua saúde. Ou seja, pretendemos ajudar essas famílias desempregadas ou com baixa renda a terem as mínimas condições de suportar o isolamento social durante a quarentena.

Essa iniciativa de solidariedade faz parte de um pacote de ações dos movimentos populares urbanos para enfrentar os efeitos da Covid-19. Temos consciência de que nossa iniciativa, por si só, embora importante e fundamental do ponto de vista da solidariedade, é insuficiente para o enfrentamento da pandemia do coronavírus.

Por isso, também exigimos que o Estado assuma sua responsabilidade e os governos tomem medidas concretas nas áreas da saúde, garantia do emprego, renda, alimentação e demais direitos e políticas públicas.

É preciso urgentemente revogar a Emenda Constitucional 95, para aumentar os investimentos na saúde e fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), taxar as grandes fortunas, nacionalizar os hospitais privados e toda a produção de álcool em gel, máscara e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), para assegurar a saúde de todos/as os/as trabalhadores/as de atividades que não podem parar, especialmente os profissionais da saúde.

Por fim, afirmamos que a nossa ação de solidariedade, destinada ao povo excluído e mais pobre de nosso país, está inteiramente ligada com a cobrança para que o Estado cumpra com sua responsabilidade de assegurar a todos e todas o bem-estar social.

Os movimentos populares estão somados a milhões de vozes que diariamente têm, de suas janelas, alpendres e portões mostrado sua revolta e descontentamento, exigindo o fim desse governo genocida. Estamos entre aqueles que defendem que a luta contra o coronavírus (seja através das nossas ações de solidariedade ou cobranças de ações do Estado) e a derrubada do governo Bolsonaro andam juntas, não são lutas separadas ou por etapas. Viva a solidariedade e Fora Bolsonaro!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum