Não é só neoliberalismo. Bolsonaro deve ser analisado pela psiquiatria

Sua perversidade não é única, mas é rara. Manifesta um desprezo pela vida e pela dor humana que, para quem é "normal", soa como violência atroz. Há uma maldade e sadismo que extrapolam a perversão – Por Henrique Rodrigues

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É necessário olhar mais embaixo e deixar de superestimar Jair Bolsonaro quanto às suas convicções e orientações no plano econômico. Seu governo é sim um prostíbulo a serviço do grande capital e ninguém pode negar ou relativizar isso. Mas para compreender adequadamente o momento atual que vivemos será preciso aceitar fatos que fogem à lógica mais elaborada e cartesiana da diretriz econômica.

Bolsonaro não faz absolutamente nada para combater a pandemia, nega-se a tomar qualquer tipo de medida nesse sentido (até mesmo admitir a gravidade do morticínio), mas empregou energia, tempo e pessoal qualificado entrando com uma ação no STF para impedir governadores de tomarem providências para estancar a hecatombe que está levando o Brasil ao colapso.

Há uma insistência patológica de Bolsonaro em contrariar, contestar, brigar, xingar, ofender e se opor a tudo aquilo que é óbvio e comprovado. Ele passa todo o tempo criando argumentos e teorias absurdas e ridículas para se posicionar, propositalmente, de forma contrária a tudo que todas as autoridades, políticos, técnicos, cientistas, líderes estrangeiros, intelectuais e acadêmicos dizem.

É muito claro que esse sujeito caótico, conflituoso e repugnante em suas palavras, sofre de alguma patologia mental e de uma deformação em seu caráter e personalidade.

Na última quinta-feira (18), o renomado psiquiatra forense Guido Palomba, membro emérito e ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo, disse numa entrevista na TV Cultura que Bolsonaro tem claros traços de psicopatia e condutopatia.

Doutor Palomba, que um dia antes publicou um artigo na Folha de S. Paulo, no qual encaixou a personalidade do presidente nos parâmetros estabelecidos pelo "pai dos psicopatas", o psiquiatra alemão Kurt Schneider, chamou a atenção para os fragmentos que comprovam a anormalidade doentia de Bolsonaro.

Sobre gente assim, ele diz que nitidamente são "carentes de compaixão, toscos em regra, anestesiados de senso moral... Frente ao sofrimento alheio, à morte de milhares de pessoas, não medem palavras, como 'eu não sou coveiro', 'chega de frescura' e 'vai ficar chorando até quando?'. Não há ressonância afetiva com a dor alheia”.

A egolatria de Jair Bolsonaro é tão incontrolável que para sua mente asquerosa sempre será necessário se posicionar contrário a absolutamente tudo feito ou dito pelos outros. É como se ele encarnasse uma verdade paralela, como uma antítese da realidade, só que mais real (para seus discípulos).

Se todos os governadores e prefeitos acordassem amanhã dizendo que devemos abrir tudo e ocupar as ruas, imediatamente Bolsonaro diria que é preciso decretar lockdown. Criaria teses contraditórias em relação a tudo que já disse, mas permaneceria refletindo a verdade pura para seus hipnotizados fiéis.

Todos nós conhecemos pelo menos uma pessoa assim durante a vida. Gente que precisa brigar, ofender, contrariar e atacar o tempo todo. Elas têm características idênticas às de Bolsonaro, notem. São agressivas, têm uma inteligência parca, residual, e são profundamente inseguras.

A diferença é que essas pessoas que conhecemos não chegaram ao posto mais alto da República. E também, talvez, não manifestem um nível de frieza como o do presidente.

Bolsonaro é uma nulidade moral. Seus absurdos não reconhecem limites.

O turbilhão de loucuras e caos do capitão desligado do exército por insubordinação é tão intenso e intermitente que nos deixa atordoados. Para raciocinarmos com clareza, sem paixões, ou tomados pelo ódio a tanta malvadeza, é preciso pensarmos por alguns instantes de cabeça fria, e aí vamos chegar à conclusão que isso só terá fim com sua saída da Presidência.

Bolsonaro comporta-se como um psicopata, um desequilibrado. Criou os filhos com uma visão de mundo moralmente distorcida. Agrupou-se durante sua trajetória apenas com gente vil e escrota e admirou tão somente monstros inescrupulosos, como torturadores (Ustra e Major Curió) e genocidas (Pinochet, Videla e Strossner).

Sua ida para as Forças Armadas, somada à violência natural desse meio e uma suposta "autoridade" conferida pela farda e pelas armas, moldou um delinquente arrogante, potencializando o indivíduo insuportável, mesquinho e sádico que foi durante sua "carreira" política de 28 anos no parlamento, onde não fez absolutamente nada.

Agora, na Presidência da República, alçado ao posto de comandante em chefe das Forças Armadas, bajulado, cercado de guarda-costas e carros blindados e com um orçamento bilionário, tornou-se uma figura diabólica, sem quaisquer limites.

Sua perversidade não é única, mas é rara. Manifesta um desprezo pela vida e pela dor humana que, para quem é "normal", soa como violência atroz. Há uma maldade e sadismo que extrapolam a perversão.

Existem razões em sua maldade que a própria razão desconhece. Refiro-me, claro, à razão preliminar e simples, de improviso, de leigos como nós. Olhos mais atentos e conhecedores da ciência da mente, como a do doutor Palomba, já identificaram há muito tempo as raízes e estruturas do horror que norteiam o comportamento de uma das figuras malignas que chegaram mais longe na história política contemporânea.

A solução é uma só: retirá-lo da cabine de controle do Brasil. Se de lá vai para a cadeia, ou para o hospício, só o tempo e as circunstâncias dirão.

Jair Bolsonaro já foi longe demais.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.