O futuro ao nosso alcance – Por Juca Ferreira

A decisão do ministro Fachin praticamente devolveu a Lula o seu devido lugar na disputa de 2022, como o mais capaz de organizar o cenário e unir as forças de oposição ao atual governo

Foto: Ricardo Stuckert
Escrito en OPINIÃO el

Acho hoje que o otimismo que me acompanha desde o impeachment da presidenta Dilma é na verdade um tipo de realismo, que sintetiza razão e intuição.

Sempre considerei, mesmos nos momentos mais difíceis da tragédia que o país está vivenciando, que o Brasil era muito maior do que esse projeto político medíocre que a extrema direita e os neoliberais estão tentando impor ao país.

Sempre trabalhei com essa ideia do PT liderar a retomada da normalidade democrática, sem tutelas e sem interdições artificiais, que retiram do povo brasileiro o direito de escolher seu destino e seu futuro.

E, mais ainda, da importância incontornável da liderança de Lula.

E venho defendendo que a esquerda e os setores democráticos da sociedade deveriam se preparar para voltar ao governo.

Precisamos constituir urgentemente uma frente democrática para dar sustentação social e política ao processo de reconquista da democracia.

Considero necessária uma reflexão sobre nossa experiência de governo, sem nenhum receio em apontar erros cometidos e, principalmente, uma atualização programática para servir de guia e carta de navegação para o futuro governo que vai pôr fim a esse eclipse político, social e econômico que estamos vivendo no país. 

É inevitável a polarização com a direita em 2022 (neoliberais e fascistas) e acredito também que deveremos trabalhar com a hipótese principal de Lula ser o candidato dessa frente.

Mas sem descuidar de imantar já um nome que seria uma alternativa para caso isso não possa acontecer.

É muto interessante e sintomático constatar como a simples possibilidade de Lula disputar as eleições mudou tudo no Brasil e o projeto necropolítico e neoliberal ficou mais exposto em toda a sua fragilidade e toxidade.

A decisão do ministro Fachin praticamente devolveu a Lula o seu devido lugar na disputa de 2022, como o mais capaz de organizar o cenário e unir as forças de oposição ao atual governo.

Apesar de toda a manipulação da opinião pública e do que conseguiram de demonização e estigmatização da imagem do ex-presidente, o momento é outro. Não tem ninguém na política brasileira mais bem posicionado do que o ex-metalúrgico e ex-presidente para liderar esse difícil processo de recuperar o futuro do Brasil.

Lula é tudo, menos um radical. Como ele mesmo diz, não é para ninguém ter medo. E a verdade é que está ficando claro para muita gente que a solução do país passa por ele.

Acho até que cabe uma pitadinha de sal, na medida certa, daquelas que as boas cozinheiras e chefes acrescentam no final para chegar ao ideal e não estragar o prato. O tornaria mais palatável e sua volta ao governo mais forte, para fazer algumas mudanças que a sociedade demanda.

Lula no páreo esvaziou a bola dos que estavam querendo inflar a direita não bolsonarista. Seria o projeto neoliberal maquiado, o chamado mercado se livrando da sua ala mais fascista, abertamente comprometida com a necropolítica e completamente avessa à democracia.

Seria um lado do governo Bolsonaro, sem a caricatura dos milicianos fascistas... E a preservação do projeto que está sendo implementado por Guedes e defendido pela FIESP, pela FEBRABAN, os generais, etc.

Vamos ter muita luta política pela frente, muita, mas as coisas estão ficando mais claras depois do anúncio da volta de Lula.

A disputa será de projetos para o Brasil e é mais provável que o 2º turno seja Lula x Bolsonaro.

Mas, se Bolsonaro continuar caindo, pode ser outra a polarização. Lula, ou o PT, tende a estar no 2º turno, mesmo com outro concorrente.

Muita água vai correr embaixo dessa ponte daqui até lá.

A suspeição de Moro pode não progredir no STF, para tentarem manter Lula fora do páreo.

Acho difícil, mas se isso acontecer, Lula vai poder ungir quem vai substitui-lo como o candidato com toda a carga simbólica necessária para vencer as eleições.

Nada está dado, temos tendências se consolidando. E o enfrentamento tende a se acirrar.

Desse confronto, o futuro da nossa democracia, a soberania nacional e o projeto de igualdade social recuperarão seu horizonte.

Não podemos deixar toda essa carga nos ombros de Lula. A sociedade, seus movimentos organizados, os partidos democráticos, líderes e todos que têm alguma influência devem assumir a partir das suas trincheiras a luta pela retomada do caminho democrático e a luta pela justiça social, soberania nacional e a sustentabilidade.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.