O grave, o essencial e o inadmissível – Por Andrea Caldas

Ofensa machista, homofóbica, transfóbica, racista é inadmissível. E mesmo quando dirigida contra os nossos adversários e inimigos continua sendo machismo, homofobia, transfobia e racismo

Bolsonaro em formatura de cadetes. Foto: Reprodução
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O caso da mulher que xingou Bolsonaro e foi detida se transformou no caso da “noivinha de Aristides”, a pretexto de que esta teria sido a injúria proferida, em alusão a um suposto caso homossexual, no passado de Bolsonaro.

Lamentavelmente, parte da esquerda e da oposição resolveu aderir à lacração e aos memes homofóbicos e machistas com as justificativas que conseguem ser quase piores que o ato.

Justificar a piadinha homofóbica com a tese de que “ele começou primeiro”, “ele merece” ou pior “isto pode tirar votos dele” é tão baixo e mesquinho, quanto tacanho na análise.

O fato grave ocorrido é a prisão da mulher, supostamente, pelo crime de injúria.

Esta prisão, por si só, revela um perigoso arbítrio que, pode sim, ser a senha para delírios autoritários e fascistas deste que ora ocupa a presidência da República.

É isto que deveria estar em pauta: os entulhos do Código Penal e os limites do poder das autoridades constituídas e não a reverberação do comentário de banheiro masculino da pior espécie.

É muito triste, mas, sinceramente, não é surpreendente que parte destes segmentos da oposição (progressista?), que resolveu amplificar a piada de mau gosto e olvidar a prisão, tenha sido a mesma que relativizou a aprovação da lei antiterrorismo, durante o governo petista.

(Há muito de punitivismo encalacrado.).

Por isto e por muito mais, é preciso dizer e lembrar com todas as letras - para todos e todas que realmente querem construir um mundo mais justo, humano e inclusivo - que ofensa (ou piadinha) machista, homofóbica, transfóbica, racista é inadmissível.

E mesmo quando dirigida contra os nossos adversários e inimigos continua sendo machismo, homofobia, transfobia e racismo .

(Deveria ser óbvio, não?).

Não há e não pode haver meio termo nesta questão.

Não dá para aceitar.

Os fins NÃO justificam os meios. Principalmente, quando os meios deturpam os fins e os comprometem.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.