O legado de Elis Regina, 40 anos depois de sua morte, está em toda parte

Tudo indica que pelas próximas décadas e muitas mais, o Brasil continuará se orgulhando e mantendo o legado de sua Pimentinha. Que assim seja

Elis Regina na capa de um de seus álbuns. Foto: Divulgação
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Faz 40 anos, mas eu lembro perfeitamente, quase como se fosse ontem. Trabalhava de vendedor na cidade de São Vicente. Entrei em um salão de beleza e tocava no rádio a canção “Se eu quiser falar com Deus”, de Gilberto Gil, na interpretação de Elis Regina. Dei bom dia e a moça do salão respondeu: “nossa, desde que essa moça morreu não param de tocar suas músicas no rádio”.

Meio incrédulo, engasgado, perguntei: “quem morreu?!”

Larguei tudo imediatamente, como se tivesse perdido alguém da família. Do ônibus, ainda pude ver o rosto da cantora nas TVs em exposição nas lojas. Cheguei em casa transtornado e minha mãe apenas me olhou e disse: “já soube, né?”

O melhor exemplo

Perder Elis Regina apenas dois anos depois do assassinato de John Lennon era algo que parecia marcar de vez um limite claro nas nossas ingenuidades e sonhos. E o insuportável e ruidoso noticiário insistia na questão da trágica mistura de cocaína e álcool que, de certa forma, pretendia anular a grande artista para transformá-la em mal exemplo. Não conseguiram.

Elis foi o melhor exemplo de cantora que um país pôde ter. Um talento desmedido, faro para o novo, garra, enfim, uma mistura meteórica de coisas que a fazem vibrar para muito além daquela mesquinharia toda ainda hoje, 40 anos depois.

Pouco mais de dez anos depois disso, me pego dentro do estúdio gravando meu primeiro álbum, o “Caiçara”, que teve como produtor o guitarrista e arranjador Natan Marques, o lendário musico da banda da Elis. O disco saiu pelo selo Caipirapira, de Renato Teixeira, que participou comigo, um dos artistas lançados para o estrelato pela cantora. Enfim, uma honra sem fim que me acometeu naqueles dias de gravação.

Elis estava presente por toda parte. Cada nota, cada etapa da gravação trazia de volta conversas passadas, como ela faria etc. Era um exemplo de profissionalismo seguido à risca por todos ali. Natan não cansava de me contar que a voz guia de Elis invariavelmente ficava na gravação final. Voz guia, é bom explicar, é feita pelo cantor pra guiar os músicos e sempre, exceto no caso dela, é completamente descartada.

Quando eu falava da minha responsabilidade na hora de colocar a voz, Natan apenas sorria e repetia: “relaxa, nem você e nem ninguém jamais vai chegar no que ela chegou”.

Os filhos

Anos depois, por ocasião da reinauguração do auditório Elis Regina, no complexo do Anhembi, entrevistei Pedro Mariano, filho de Elis com o pianista César Camargo Mariano. Ele, que tinha apenas sete anos quando a mãe morreu, me disse algo curioso que nunca esqueci: “tenho uma lembrança cotidiana de mãe, de carinho. A cantora é pra mim quase como é para você ou qualquer outra pessoa. Maravilhosa”.

Um pouco mais adiante no tempo e a cantora Maria Rita, caçula de Elis e César, explode como cantora com um lindo álbum que vendeu mais de um milhão de cópias, foi lançado em 30 países. O álbum foi seguido por um DVD que só perdeu em vendagens no país naquele ano de 2003 para o “The Beatles – Anthology”.

Nesta quarta-feira (18), chegamos a 40 anos da morte de Elis Regina e a febre não baixa. Seus álbuns continuam sendo ouvidos e admirados por todos. Além disso, cantoras e mais cantoras de todas as partes continuam tentando em vão imitá-la.

Tudo indica que pelas próximas décadas e muitas mais, o Brasil continuará se orgulhando e mantendo o legado de sua Pimentinha. Que assim seja.