Olimpíadas de Tóquio voltam às incertezas e Itália dissolve mais um governo – Por Ana Prestes

Leia nas Notas Internacionais: Especula-se que governo japonês não quer mais os jogos. Premiê italiano renuncia por perda de apoio no parlamento, enquanto Holanda e Reino Unido enfrentam graves problemas com a pandemia

Foto: Sky Sports
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- Há uma polêmica instalada sobre a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em Tóquio este ano, marcados para o período que vai de 23 de julho a 8 de agosto (olímpicos) e de 24 de agosto a 5 de setembro (paraolímpicos). As pesquisas de opinião publicadas pela imprensa norte-americana apontam que 80% dos japoneses não querem a realização dos jogos no país. Há muita especulação se o governo japonês irá cancelar o evento. Tóquio estaria condicionando a realização dos jogos alguns fatores, tais como controle do atual ressurgimento de casos de Covid, os participantes do evento aceitarem o rastreamento de seus passos via smartphones, início da vacinação no país em fevereiro (o Japão já adquiriu 314 milhões de doses da Pfizer, Moderna e AstraZeneca para sua população de 126 milhões de pessoas). Outra notícia que circula é que as autoridades da Flórida, nos EUA, teriam oferecido ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a possibilidade de sediar os jogos no caso da desistência do Japão.           

- Após perder maioria no Senado na semana passada, o premiê italiano Giuseppe Conte renunciou e está aberta uma série de possibilidades para a bastante instável política italiana. Há três hipóteses na mesa: que Conte consiga organizar uma coalizão e garantir que o presidente Mattarella dê aval a seu terceiro governo, antecipação das eleições, ou então, apontamento de outro primeiro-ministro com a formação de uma nova maioria. A crise foi gerada pelas diferenças em torno da aplicação do pacote de 200 bilhões de euros da União Europeia para a reconstrução do país no contexto da pandemia. O ex-primeiro ministro Matteo Renzi retirou seu partido, Itália Viva, da coalizão governante e assim quebrou a maioria que havia no Senado. Com a saída do Itália Viva de Renzi, a coalizão de Conte ficou entre os partidos M5Estrelas, PD (Partido Democrático), LeU (Livres e Iguais – que abarca o Articolo Uno, Sinistra Italiana e o Possibile). Enquanto isso, a ultradireita liderada por Salvini e Georgia Meloni está construindo alianças para tentar alcançar o poder, se não agora, num futuro próximo. Os partidos, Liga, Irmãos de Itália e Força Itália serão ouvidos juntos nas consultas feitas pelo presidente Mattarella. As últimas pesquisas divulgadas pela TV RAI apontam que, somados, os partidos da coalizão de ultradireita contam com quase 48% das intenções de voto.

- Na Holanda, uma onda de destruição contra as restrições impostas pelo governo para conter a pandemia está sendo promovida por pessoas que estão sendo chamadas de “hooligans corona”. Até mesmo instalações hospitalares e laboratórios estão sendo depredados. Partidos de extrema direita, como o Partido pela Liberdade e o Fórum pela Democracia, são apontados como os responsáveis por incitar principalmente jovens a protestar violentamente contra o lockdown, uso de máscaras e qualquer restrição sanitária com o discurso de “privação de liberdade”. Na Holanda, atualmente, quem sai de casa sem motivo entre as 21h e as 4h30 paga multa de 95 euros. Além disso, bares, restaurantes, escolas e comércios não essenciais estão fechados. Isso se deve aos altos índices de contágios e mortes num dos países que mais demorou a tomar medidas contra o vírus e é um dos últimos europeus a iniciar uma campanha de vacinação.

- Ainda sobre a pandemia na Europa, o Reino Unido foi o primeiro país europeu a chegar a uma marca de 100 mil mortes pelo coronavírus. Em entrevista, o primeiro-ministro Boris Johnson assumiu a responsabilidade por todas as ações do governo na pandemia, mas não apontou se haverá alguma mudança nas políticas direcionadas a conter contágios e mortes. Há uma grande aposta nas vacinas e na proibição de entrada de estrangeiros. Em Portugal, ontem o presidente Marcelo Rebelo cogitou pedir ajuda internacional após um dos hospitais, localizado em Amadora, ter que transferir às pressas vários pacientes para a capital, Lisboa, por insuficiência nos suprimentos de oxigênio. O país também está batendo recordes de contágios e mortes nos últimos dias. Ao todo, 11 mil portugueses já perderam a vida para a Covid-19.

- O Senado americano aprovou ontem (26) a indicação de Antony Blinken para assumir o cargo de secretário de Estado dos EUA. Foram 78 votos a favor e 22 contrários (todos republicanos). Sua sabatina ocorreu em 19 de janeiro, um dia antes da posse de Biden, mas somente ontem veio a confirmação de sua indicação. Blinken já foi das equipes de assessoramento internacional e diplomacia estatal de Clinton, Obama e do próprio Biden, quando vice-presidente, e é conhecido pela defesa de uma política intervencionista na Líbia e na Síria, para citar somente dois casos. Com a aprovação de Blinken, Biden já conta com Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, que não precisa da aprovação do Senado, Avril Haines, como diretora Nacional de Inteligência e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, ambos já aprovados pelo Senado. Só para termos um pequeno exemplo do que Blinken pensa sobre América Latina, em sua sabatina no Senado, interpelado pelo senador Marco Rubio sobre qual será a relação com a Venezuela, ele disse que pretende fazer com que o governo Maduro “sinta realmente a dor” das sanções impostas pelos EUA, num indicativo de que aumentará a pressão sobre o país. Vídeo com íntegra da sabatina de Blinken no Senado:  https://www.youtube.com/watch?v=uRzjGxmI6Oo

- Ainda no Senado americano, ontem (26), foi aceita a continuidade ao processo de impeachment contra Trump, por incitação à invasão do Capitólio. A votação ficou em 55 a favor e 45 contrários, somente 5 republicanos votaram contra Trump. Para que ele seja condenado são necessários 67 votos. Sua condenação abriria caminho para a inelegibilidades e perda de uma série de prerrogativas destinadas aos ex-presidentes. Durante a sessão, foi quente o debate sobre a constitucionalidade ou não do impeachment de um presidente que já não está no cargo. Um dos senadores republicanos, Rand Paul, disse que “cidadãos privados não sofrem impeachment. O impeachment é para a remoção do cargo e o acusado aqui já está fora do cargo”. Ao que, outra senadora, Lisa Murkowski, respondeu: “É constitucional o reconhecimento do impeachment não somente para remover um presidente, mas também por ser uma questão com consequências políticas”.

- O novo presidente dos EUA, Joe Biden, teve seu primeiro contato com o presidente russo Vladimir Putin. Na pauta da conversa, segundo as agências de notícias, esteve a prisão do líder oposicionista Navalny, a situação da Ucrânia, a suposta cyber-espionagem russa e a prorrogação por cinco anos do acordo nuclear Novo Start (assinado em 2010 por Obama e Medvedev). Nas palavras do chanceler russo, Sergei Lavrov, no último dia 18 de janeiro numa conferência de imprensa, para eles “a mais importante prioridade é a situação absolutamente anormal na esfera do controle de armamentos” e que o país estaria pronto para negociar com Biden a prorrogação do Novo Start, que vence dia 5 de fevereiro, e que ficou sem solução com Trump. Sobre Navalny, antes do telefonema de Biden para Putin, o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan já havia enviado mensagem via redes sociais de que “Mr. Navalny deveria ser solto imediatamente...”. Biden telefonou para Putin, após ter falado com Boris Johnson, Emmanuel Macron e Angela Merkel.

- Está ocorrendo em Davos, na Suíça, o Fórum Econômico Mundial. Desta vez em formato de vídeo conferências. A que mais chamou a atenção até agora foi a do presidente chinês Xi Jinping, na abertura do encontro, segunda-feira (25). O discurso foi marcado pelo destaque à necessidade do multilateralismo e da cooperação internacional. “Já ficou provado várias vezes que empobrecer o outro, sair sozinho e cair em isolamento arrogante sempre fracassa”, disse ele. Xi Jinping dedicou também parte considerável de sua fala para tratar dos desafios econômicos mundiais no futuro contexto pós-pandêmico, com necessidade de reforma da OMC e cumprimento dos compromissos do Acordo de Paris, tudo isso com o “abandono dos preconceitos ideológicos e a procura de um caminho de coexistência pacífica”. Outra intervenção que se destacou foi a de Angela Merkel, inclusive por provavelmente ser a última enquanto chefe de governo da Alemanha. Merkel falou de “era do multilateralismo” e disse que não acredita que um mundo dividido entre China e EUA encontrará as soluções para seus problemas. Segundo ela, a pandemia testou “a resiliência de nossos sistemas e sociedades” e mostrou “nossa vulnerabilidade”. Dedicou boa parte de sua fala também ao tema da “competição no mundo tecnológico” e da necessidade de regras claras, com alfinetadas tanto nos EUA, como na China (em especial nos temas democracia e direitos humanos).

- Na Índia, segue em curso a crise entre agricultores e trabalhadores rurais com o governo Modi. A crise já dura meses. Ontem (26) foi mais um dia de protestos e com repressão das forças de segurança. Só para termos uma ideia do potencial contido na insatisfação popular, com as novas leis agrícolas de Modi, em uma população de 1,3 bilhão de pessoas, quase metade trabalha no campo. Todas as negociações entre governo e manifestantes foram infrutíferas. Nem mesmo a mediação da Suprema Corte funcionou até agora. Já falei do tema aqui nas Notas, mas só para lembrar, os agricultores acusam o governo de aprovar uma série de três leis que, entre outras coisas, autoriza o Estado a deixar de comprar o mínimo de grãos e outros produtos cultivados a um preço pré-fixado. Segundo os trabalhadores, isso resultará numa selvageria comercial entre empresas e corporações que podem empurrar os preços para níveis insustentáveis para os trabalhadores e pequenos produtores rurais. O primeiro-ministro Narendra Modi insiste que o projeto vai beneficiar os agricultores por atrair investimentos privados, mas os manifestantes dizem que nunca foram consultados pelo governo. A lei foi aprovada em setembro e já houve inúmeras tentativas de negociação, sem que o governo ceda nos aspectos principais.