Os 10 pontos que devemos considerar sobre as eleições de 2020, por Julian Rodrigues

Não é bonito ver gente de esquerda absorvendo antipetismo e antilulismo. Se o PT fosse tão fraco assim, não seria o centro do debate sobre o balanço eleitoral

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Já deu para decantar um pouco. Nessa temporada aberta de balanços eleitorais (luta política intensa em todos os espaços), alguns pontos eu gostaria de destacar:

1) mesmo entre a esquerda, pouca gente considera, nas análises, a conjuntura internacional:  maior crise do capitalismo desde anos 1930, impacto da pandemia, força do imperialismo, ascenso da extrema-direita em todo mundo;

2) também pouco se menciona o golpe de 2016, o novo período, a derrota monumental que toda esquerda sofreu, a prisão de Lula, a  guerra híbrida, a aliança orgânica entre ultraliberalismo e neofascismo, a retirada massiva de direitos; o desmonte dos sindicatos, a pauperização das massas; o  crescimento do fundamentalismo religioso;

3) caminhamos, principalmente as petistas, sobre uma corda bamba (evitar o triunfalismo/sentimento de avestruz, pura autodefesa), e ao mesmo tempo, evitar absorver o antipetismo hegemônico na mídia e forte também entre o "campo progressista";

4) não foi só o PT que foi derrotado, o conjunto da ESQUERDA (PT, PCdoB e PSOL) também foi - como fomos em 2016 e 2018. A "centro-esquerda" (o amontoado que é o PDT, a metralhadora giratória do Ciro e o PSB) também diminuíram;

5) o PT não cresceu, mas não diminuiu em número de votos. E mostrou uma leve reação nas capitais e grandes cidades. O fenômeno Boulos e a vitória de Edmilson fortaleceram o PSOL, mas tendem a gerar ilusões de ótica - trata-se de um partido com 5 prefeituras e 75 vereadores (o PT tem 2584 vereadores e 258 prefeituras);

6) A conexão com a juventude, com a luta antirracista, feminista, com a agenda LGBTI, dos direitos humanos propiciou que PSOL e PT elegessem novas lideranças nas Câmaras. Não se trata de "pauta identitária", como muitos na própria esquerda dizem (é uma luta contra as opressões, por representatividade, reconhecimento, uma luta interseccional - classe, raça, gênero, geração, liberdades sexuais e de gênero). Mas, é preciso não permitir o sequestro dessas lutas pelo "neoliberalismo progressista", que esvazia seu conteúdo anticapitalista (tipo Quebrando Tabu da vida);

7) nem precisa ser sectário para cravar que não há a menor possibilidade de "frente ampla" ou "frente de centro-esquerda" em 2022.  DEM/PSDB/MDB/Mídia sustentaram e sustentam Bolsonaro até aqui e se preparam para construir uma chapa em 2022 (Doria/DEM). Esqueçam o Caldeirão - e Moro já arrumou emprego em Washington. Por outro lado, o coronel de Pindamonhangaba já explodiu todas as pontes ao mesmo tempo com PT, PSOL e até com o PCdoB (pasmem!). Ciro terá apoio do PSB e olhe lá;

8) todo antipetismo é antiesquerda, nunca se esqueçam disso. O que não quer dizer que o PT não precise - nas palavras da brava Gleisi - de uma "chacoalhada".  Se quiser continuar a ser o maior partido da classe, liderando o bloco de esquerda,  o PT deve passar por uma profunda transformação, dar um "giro estratégico", renovar, retomar o programa democrático-popular/socialista, investir na mudança da linguagem, nas redes, radicalizar a transição geracional, voltar ao território, fazer formação política, assumir a batalha ideológico-cultural. Deixar de ser quase que apenas uma máquina eleitoral e voltar a ser um PARTIDO;

9) desde agora, sem ultimatos ou sem achar que isso é a "tábua de salvação do mundo", é preciso apostar em uma composição orgânica PT-PSOL-PCdoB. Que construa um programa comum. Uma chapa presidencial com PSOL ou PCdoB como vices do nome petista, costurando o tabuleiro nos Estados, as contrapartidas, etc. Dino é um excelente vice, por exemplo. Boulos e Freixo podem ser candidatos a governador em RJ e SP. Manu pode ser nossa candidata unitária no Rio Grande do Sul, e por aí vai;

10) o Ministério da Justiça confirmou que toda colaboração da Lava-Jato com os EUA não passou pelo governo federal. Ou seja, foi ilegal. Moro acaba de mudar para Washington pra ser funcionário de uma empresa internacional que vai ajudar na recuperação da Odebrecht (que ele mesmo quebrou). Ou seja, resolveu receber em dólar sua parte na operação golpista. Nem depois disso vamos, coletivamente, voltar a pautar a suspeição do marreco de Maringá, o #AnulaSTF? Lula pode até não ser candidato a presidente, ou a vice, mas é uma questão básica para a restauração do mínimo de democracia, né? #LulaLivre e #LulaInocente. Não é bonito ver gente de esquerda absorvendo antipetismo e antilulismo. Se o PT fosse tão fraco assim, não seria o centro do debate sobre o balanço eleitoral (#fkdk).