Na semana passada eu já apontava para os problemas de um homem antipolítica na condução do tribunal que conduz questões eleitorais (por consequência, questões políticas).
O ministro esteve recentemente nos EUA como observador das eleições. A impressão é de que gostou tanto do que viu que importou pra cá: o tal “voto EAD”.
Num país onde uma de suas principais capitais tem quase 60% do seu território controlado por milícias, como ficará a inviolabilidade do voto? Como garantir que não há um miliciano com a arma apontada para a cabeça de um cidadão humilde, obrigando-o a, pelo celular, votar no capitão que defenderá a milícia nas esferas legislativas e até mesmo executivas do poder?
É claro que, como um bom militante da antipolítica, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral defendeu a medida com um discurso irresponsavelmente fiscalista.
“Nós temos cerca de 500 mil urnas e, a cada dois anos, a cada eleições, temos que substituir 20% delas: 100 mil. O custo é muito alto. Com a alta do dólar, esse custo deve estar em R$ 1 bilhão”
Mandou a segurança de milhões de brasileiros, principalmente os cariocas, as favas. Segundo o magistrado do TSE, a intenção é realizar um pleito mais barato e menos burocrático.... E pelo visto, menos seguro também!
Mas vejam só como a “nova política” se encontra. Se por um lado, a extrema-direita quer que o eleitor possa levar o comprovante de voto com os candidatos em que votou para casa, por outro, Luís Roberto Barroso, o “iluminista”, quer criar o voto por celular!
São duas metodologias que favorecem a compra do voto por meio da coação e ameaça de eleitores.
Ele quer a volta do voto de cabresto? O ministro Barroso deve viver na Noruega brasileira, em sua imaginação.
Vamos para algumas informações interessantes sobre o tema:
Neste último pleito, pelo menos 84 candidatos foram assassinatos. Durante o período de campanha tivemos um candidato assassinado a cada três dias no país.
Em 2018, a Procuradoria Regional Eleitoral do Ceará pediu a presença de forças federais para evitar manipulação do processo eleitoral no Estado, que seria levado a cabo pela facção criminosa “Comando Vermelho”.
É nesse Brasil que “o iluminista” fala, eufórico, sobre eleições via internet e celular, para assim provocar ainda mãos corrosão na nossa democracia que já possui um celerado na cadeira da Presidência e que fica toda hora testando os limites do regime.
E é claro, também, que a militância antipolítica do ministro iria convidar empresas privadas ao projeto “Eleições do Futuro”.
Segundo Barroso, as propostas deverão preencher três requisitos: segurança da votação, proteção ao sigilo do voto e eficiência. Pergunto-me: quem vai garantir os dois últimos pontos, levando em consideração que milicianos, traficantes ou coronéis que ainda existem em várias áreas do Brasil?
Não adianta o presidente do TSE fazer um discurso cheio de platitudes contra o voto impresso, enquanto defende medida tão danosas (se não, mais) do que essa.
Só que há o que justifique isso. Barroso é um entusiasta da “nova política”, aquela linha de pensamento que salga a terra por onde passa no Brasil. Que é essencialmente antipolítica e que eu já cansei de explicar e apontar aqui, mostrando o ministro como um de seus expoentes.
Exagero? Em 2018 ele afirmou que o sistema político brasileiro “extrai o pior” das pessoas.
É isso o que pensa o presidente do Tribunal Superior Eleitoral e que agora defende a "modernização do voto de cabresto".