Por que o mercado e a Globo não terão forças para derrubar Bolsonaro? – Por Raphael Fagundes

Bolsonaro usa a estratégia adotada pela Venezuela para fazer o oposto de lá. No caso de Caracas, era a independência em relação ao imperialismo. No nosso caso, a submissão completa aos interesses norte-americanos

Foto: Agência Brasil
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Dois aspectos marxistas de Bolsonaro são a aliança com militares e a intervenção ideológica na cultura. Dois aspectos que o PT não adotou.

É um mito acreditar que o PT introduziu o marxismo nas universidades, por exemplo. Havia mais professores universitários marxistas durante a Ditadura Militar que durante os governos petistas. Inclusive, muitos abandonaram os ideais revolucionários após a Ditadura, como Fernando Gabeira e Fernando Henrique Cardoso.

Muitos professores universitários defendiam o PT, mas estavam longe de serem marxistas. É possível observar que grande parte adotou uma jornada antimarxista em nome de modelos interpretativos foucaultianos ou decorrente da miríade intelectual pós-estruturalista.

O setor ideológico do governo Bolsonaro, liderado por Olavo de Carvalho, adotou perspectivas gramscianas que acreditam na cultura como um dos principais elementos para a transformação social. Adota o intelectual marxista como método para fazer o contrário do que o italiano revolucionário defendia: a libertação das forças produtivas em direção ao socialismo.

Já a questão militar lembra muito os governos bolivarianos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, que flertam com o socialismo. Uma das estratégias usadas por Chávez foi ceder campo aos militares, entregando indústrias e setores do governo para controle das Forças Armadas.

O governo Bolsonaro vem fazendo a mesma coisa. Agora ficou mais claro, com o novo presidente general da Petrobras. Não seria nenhuma surpresa se fizer o mesmo em relação à Eletrobras e ao Banco do Brasil.

Bolsonaro usa a estratégia adotada pela Venezuela para fazer justamente o oposto que o país de Bolívar. No caso deste último, era a independência em relação ao imperialismo. No caso do nosso conservador chamado de “mito", a submissão completa aos interesses norte-americanos.

São estratégias que deram certo, que o PT se recusou a usar, primeiro por não ser marxista, segundo por não conseguir ter uma aproximação ideológica com as Forças Armadas, devido ao fato de estas serem historicamente reacionárias e por não se sentirem culpadas pelas atrocidades que cometeram no passado. Isso é legitimado porque o Judiciário não julgou os crimes da caserna durante a Ditadura Civil-Militar.

Dilma foi presa, os militares torturadores não. Dilma agiu ilegalmente, os torturadores não. Pelo menos na prática. Isso deu legitimidade para que uma ideologia pudesse surgir sendo capaz de reproduzir o seguinte discurso: Dilma foi uma terrorista.

Deste modo, uma queda de Bolsonaro decorrente do fato de interferir na economia dificilmente acontecerá. O PT tinha um projeto muito mais desenvolvimentista (que a Globo e o mercado, em conluio com a operação Lava-Jato, tinham o objetivo de destruir) do que o de Bolsonaro. O mercado não está preocupado com a intervenção em si (embora haja uma queda imediata nas ações da Petrobras), mas com o projeto de poder. O de Bolsonaro é muito mais entreguista, ou seja, agrada muito mais o mercado financeiro que o de Dilma.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.