Prolongar a pandemia ao máximo: o plano macabro de Bolsonaro para se reeleger, por Raphael Fagundes

O vírus tornou-se uma dádiva nas mãos de Bolsonaro. Ele não teria como explicar o desastre do seu modelo econômico, o desastre social que sua política ultraliberal pretendia criar

Eduardo Pazuello e Jair Bolsonaro (Reprodução/Youtube)
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O projeto de Bolsonaro é simples: prolongar a epidemia o máximo possível. Embora seja um plano sádico e assassino, o presidente parece estar em busca de um discurso pronto para as eleições de 2022.

Bolsonaro poderá justificar sua péssima gestão, a queda da economia e o aumento da desigualdade social por meio de um topos: a epidemia. Dirá que o vírus prejudicou sua administração e, agora, livres deste mal, estará sim apto a fazer um bom governo.

O discurso e a trama política traçados inicialmente por Bolsonaro foi de atrasar o máximo possível a aprovação de uma vacina viável. Criou empecilhos de natureza ideológica para recusar e difamar a CoronaVac por ser proveniente da cooperação entre o Butantan e a China.

Contudo, chegamos a um momento em que a pressão da mídia, do STF e popular atingiram níveis incontroláveis. Agora, o governo começa a aprovar uma série de vacinas. A tática agora é ser antivacina, alimentando um discurso de que ele mesmo, Jair Bolsonaro, não tomará o medicamento.

Entre agosto e dezembro, o número de pessoas que afirmam que não vão tomar a vacina saltou de 9% para 22%.[1] Na primeira fase deste tenebroso plano, a fase em que era possível atrasar a vacina, Bolsonaro defendia o não uso de máscaras e a volta à normalidade, ampliando, assim, a circulação do vírus para infectar um número maior de pessoas. A retórica foi tão suja a ponto de chamar o povo de “maricas”.

Agora, nesta segunda fase do plano, em que impedir o avanço da aplicação da vacina se tornou impossível, a retórica populista, sem elementos técnicos e complicados, permanece e convence muitas pessoas por meio da emoção. O discurso do presidente de que “se você virar um jacaré, é um problema seu”, é parte deste projeto nebuloso que aumenta o número de pessoas que se recusa a tomar a vacina, ampliando a vida infecciosa do vírus.

Bolsonaro ainda irá usar outra retórica na futura terceira fase, a fase pós-pandemia. Dirá que fez de tudo para manter estável a economia do país, mas a oposição não deixou. Irá culpar, como de praxe, a mídia, o STF e o Congresso. É possível que muitos que o seguem acreditem que ele realmente estava certo.

Mas se é de interesse político, porque os outros políticos do mundo não fizeram o mesmo para garantir votos na próxima eleição? É uma questão de projeto de poder. Nenhum outro país do mundo tem como objetivo único e exclusivo a difusão de uma ideologia. Todos os outros têm interesses econômicos voltados para o crescimento. Até mesmo o governo Trump, nos Estados Unidos.

O interesse estritamente ideológico do governo brasileiro o faz fechar os olhos para os outros setores. Educação, saúde, economia, etc., deixaram de ser o principal foco da administração para se dedicar apenas a uma lavagem cerebral insana que quer garantir a vitória no próximo pleito presidencial por meio da hipnose ideológica. Acho muito difícil de conseguir, mas, inspirado nos ensinamentos de Olavo de Carvalho, o governo aposta nisto.

O vírus tornou-se uma dádiva nas mãos de Bolsonaro. Ele não teria como explicar o desastre do seu modelo econômico, o desastre social que sua política ultraliberal pretendia criar. Trata-se do método político mais insano e fantasmagórico adotado por reis antigos e governos ditatoriais. Uma tática clássica dos tiranos para, através do medo e do terror, assegurar a governabilidade.


[1] https://www.google.com/amp/s/oglobo.globo.com/sociedade/datafolha-cresce-numero-de-brasileiros-que-nao-pretendem-tomar-vacina-contra-covid-19-24794524%3fversao=amp