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OPINIÃO
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Com um número de 12 milhões de pessoas em situação de pobreza crescente (aproximadamente 30% do total), com uma inflação anual em alta (acima de 40%), com uma desvalorização da moeda e com um desemprego formal que resiste na faixa de 9%, o presidente Mauricio Macri acaba de ser arrebatado por uma grande greve geral que paralisou a Argentina.
Já no Brasil estagnado, os índices dos 5 meses de governo Bolsonaro também são complicados e já mostraram as dificuldades que o governo tem para restabelecimento da atividade econômica do país.
Para além dos discursos, ambos os mandatários trazem desconfiança para o mercado e para os trabalhadores. As pesquisas de opinião mostram um Macri desidratado, com dificuldades para competir eleitoralmente com Cristina Kirchner ou qualquer um que ela venha a apoiar. Da mesma forma que a lua de mel de Bolsonaro parece ter acabado mais rápido do que qualquer analista político poderia prever, perdendo apoio em todas faixas etárias, sexos, regiões e classes sociais.
A visita, a entrevista e os protestos
Nesta quinta-feira (6) os dois presidentes buscarão traçar iniciativas para impressionar o público e recuperar a confiança do mercado. Entretanto, parece que isso não será tão fácil, já havendo protestos marcados por movimentos sociais na Praça de Maio, centro de Buenos Aires, contra a visita de Bolsonaro.
Não bastasse o contexto conflitivo, Bolsonaro deu mais uma de suas entrevistas polêmicas para o jornal La Nación, inclusive quebrando o protocolo ao se intrometer na política interna argentina.
Criticando a oposição e defendendo Macri, inclusive fazendo referências ao processo eleitoral por vir, Bolsonaro fez ataques diretos e nominais a Cristina Kirchner, associando seu governo à Venezuela, Cuba e corrupção, como é de costume, e, inclusive, apesar da crise, pedindo paciência do povo argentino com Macri.
A expectativa sobre a visita, para além dos protestos, é de que sejam tomadas medidas para ações bilaterais no âmbito do Mercosul e também sobre o tema da Venezuela. Sobre questões bilaterais, os indícios sinalizam acordos pontuais na área energética e de biocombustíveis.
Mercosul “enxuto” e o ALC com a UE
Após declarações desastradas de Paulo Guedes depois da eleição, Macri foi o primeiro chefe de Estado e governo a visitar o Brasil oficialmente para acordos bilaterais. Naquele momento, ambos falavam de um Mercosul “enxuto”, que resgatasse os princípios da fundação (Tratado de Assunção, 1991) do bloco, tomando medidas para flexibilizar tarifas e diminuir a burocracia entre os membros.
No âmbito do Mercosul, que terá sua reunião em Santa Fé, estão em debate possíveis acordos com o Nafta, o Canadá e a Coreia do Sul. Mas, o foco deve ser algum discurso que anteceda um possível acordo de livre comércio entre o bloco e a União Europeia, em tratativas há mais de duas décadas. Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, o acordo pode estar a um mês da assinatura.
A partir da assinatura de um acordo de cooperação entre os blocos (assinado em 22/3/1999), foram iniciadas as negociações que estiveram paralisadas entre 2004-2010. Em 2016, em um contexto turbulento (pós-impeachment), foram retomadas as negociações entre os blocos de forma expressiva - mas insuficientes para a conclusão de um acordo final.
O Acordo de Livre Comércio (ALC) entre o Mercosul e a União Europeia não avançou, principalmente, por desarcordos e polêmicas em três níveis: concepções de governança; de regras de comércio; e o diálogo social. Em especial, na área ambiental e trabalhista.
A ausência, o descompasso ou inadequação de mecanismos de controles e ações dos Estados Nacionais nessas áreas prevêem uma trágica situação de desenvolvimento desequilibrado entre as economias dos dois blocos, e prejuízos principalmente ao meio ambiente e aos trabalhadores.