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OPINIÃO
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Desde a Independência - tirando as três incursões brasileiras na região platina -, os militares brasileiros tiveram como objetivo aniquilar o seu próprio povo. Da política de apaziguamento de Bonifácio, ao combate às revoltas regenciais lideradas por Duque de Caxias, passando por Canudos, pela Revolta da Chibata, 1964, até o golpe de 2016, os militares dedicaram-se, na maior parte das vezes, em apontar suas armas e canhões para o seu próprio povo.
Esse fenômeno é curioso, no entanto, mais comum em países do antigo denominado “Terceiro Mundo” do que nas nações imperialistas do norte, por motivos óbvios.
A questão é que aqui no Brasil a educação militar está à parte da sociedade civil. E isso é assegurado pela própria LDB. De acordo com Ana Penido, a “aprendizagem do ‘ser militar' é concomitante à diferenciação e separação do mundo civil” (1). Ensina-se o amor à pátria, o louvor aos símbolos nacionais.
Porém, esses valores são desproporcionalmente ensinados em relação à realidade objetiva do Brasil. Portanto, é muito comum a ignorância de um militar perante à formação do Estado brasileiro, as raízes culturais e raciais do povo, a estrutura econômica etc..
Isso desembocou nos dias atuais em uma política de desnacionalização da noção de nacionalismo, política ideológica comum nos países que adotaram o neoliberalismo. Esse modelo valoriza os símbolos nacionais por um lado, mas, por outro, é extremamente alienado quanto as necessidades materiais da população.
É o que claramente vemos hoje. Um governo que se submete aos EUA, idolatra outra nação e abre suas portas para os estrangeiros sem nenhuma política bilateral, apenas por se submeter a outras nações.
Já aqui no Brasil a política é de repressão à esquerda, ao ativismo. Facilita-se o acesso às armas para que uns matem os outros em um jogo imoral que não mede consequências.
Paulo Guedes diz: “o Brasil ama os EUA e eu também”. Já o ministro da Educação diz que os brasileiros são mal-educados e que roubam em hotéis no exterior. O imigrante brasileiro, por sua vez, é humilhado pelo presidente. Para eles é amor, para nós ódio? Como pode um governo dizer que ama um outro país ao mesmo tempo em que afirma que os seus conterrâneos são levianos e bandidos?
Esse é o patriotismo à brasileira que se entranhou nas Forças Armadas e agora faz parte do Estado, supostamente civil. Colocaram-nos à venda, com a permissão dos que têm, em tese, a obrigação de nos proteger.
(1)PENIDO, Ana. A educação nas Forças Armadas”. Le Monde Diplomatique Brasil, ano 12, n. 140, mar., 2019.