Reta final: esforço concentrado para derrotar o bolsonarismo

Leia na coluna de Julian Rodrigues: Acirramento das disputas em várias cidades mostra força da esquerda neste 2° turno e enfraquecimento de candidatos ligados à retórica de Jair Bolsonaro.

Fonte: Partido dos Trabalhadores (nota de apoio a Guilherme Boulos).
Escrito en OPINIÃO el

Bolsonaro não levou Russomano ao 2° turno em São Paulo e amargará uma dura derrota de seu candidato no Rio de Janeiro – dos 13 prefeitos que apoiou explicitamente, apenas 2 foram ao 2° turno. É verdade também que somente 13 dos 45 vereadores que apoiou diretamente foram eleitos.

Mas isso não significa uma derrota nem do núcleo duro bolsonarista (que se espalha por várias legendas), nem da direita neoliberal, ou da direita fisiológica (conhecida como “centrão”). O ideário da extrema-direita esteve presente em diversas candidaturas e partidos no 1° turno. Isso para não mencionar o crescimento da direita tradicional. O PT não foi derrotado, mas também não cresceu. Uma leve recuperação.

A soma dos votos da esquerda (PT, PSOL, PCdoB) e da centro-esquerda (PSB, PDT, Rede) em 15 de novembro e a passagem de lideranças desses dois campos ao 2° turno em várias capitais e cidades-chaves evidenciam o potencial da resistência a Bolsonaro e ao ultraliberalismo. São 58 batalhas na segunda volta. O PT disputa em 15 cidades, o PSOL em 2 (incluindo a maior de todas, Sampa) e o PCdoB em uma.

Fake news e neofascismo

Aparentemente mais contidas no 1° turno, agora as campanhas da direita (de todos matizes) têm adotado, no geral, a agressividade, as mentiras, as notícias falsas, apelando para todo tipo de preconceito, tentando manipular os medos e os sentimentos religiosos. Igualzinho ao que Bolsonaro fez em 2018.

Contra candidatas mulheres, a baixaria vem ainda mais forte. Todo o machismo estrutural é mobilizado em um show de horrores e mentiras. Manuela D´Avilla, em Porto Alegre, desde o 1° turno (aliás, desde que foi vice de Haddad, em 2018) e Marília Arraes, no Recife, são símbolos da virulência reacionária e do festival de mentiras que estão sendo manejadas de norte a sul do país.

O antipetismo é, de fato, o anticomunismo redivivo. É antiesquerda, no geral (embora muita gente ache que o problema é só o PT ou Lula).  Todas as formas de estigmatizacão estão sendo largamente utilizadas na maioria das campanhas. Inclusive em cidades onde a direita liberal concorre com o bolsonarismo (vide a nojenta campanha de Crivella, no Rio).

O ponto aqui: a pauta regressiva, o autoritarismo e os métodos violentos bolsonaristas seguem dando o tom na maioria das cidades. Candidatos de partidos diversos, como Melo, do MDB, em Porto Alegre, Delegado Eguchi, do Patriotas, em  Belém, e Capitão Wagner, do PROS, em Fortaleza, encarnam o ideário e os métodos da extrema-direita.

Aliás, é impressionante a situação de Recife. O PSB bolsonarizou sua campanha. O núcleo dirigente nacional e local dos herdeiros de Eduardo Campos transformaram a campanha do jovem João em uma das mais misóginas, reacionárias e mentirosas entre todas disputas em curso. Preconceitos contra a esquerda, antipetismo, fundamentalismo religioso, tudo sendo potencializado. O submundo do submundo como arma para impedir a vitória da brava deputada federal petista Marília Arraes, uma das principais lideranças da nova geração da esquerda brasileira.

É possível vencer

Muitas disputas extremamente polarizadas. Em algumas cidades, como Juiz de Fora (viva Margarida), ou Diadema (Fillippi, melhor prefeito), a esquerda lidera com alguma folga. Em outras, estamos em desvantagem grande.

Mas o processo é dinâmico e a quente.

Pesquisas variam muito, algumas de institutos com pouca credibilidade (a margem de erro é sempre grande) e o histórico de “erros”  das pesquisas é majoritariamente contra o PT . Não podemos nos deixar impactar por resultados aparentemente “definitivos”. Boa proporção de votos se define na reta final, para não falar da  incógnita do número de abstenções, indecisos, brancos e nulos.

O crescente desgaste de Bolsonaro parece apontar para um crescimento, na reta final, das candidaturas progressistas. Boulos em São Paulo faz uma campanha memorável – está em trajetória ascendente. Se o PSDB ganhar, será por uma margem pequena, de 4 a 8%.  Um grande feito.

Outra batalha direta contra o obscurantismo se trava em Belém. Empate técnico entre Edmilson Rodrigues e o delegado Eguchi, neofascista. Emocionante.

Na capital do Espírito Santo se dá mais um confronto explícito entre civilização e barbárie. João Coser, do PT, ex-prefeito, quadro histórico, disputa (com desvantagem de 7 pontos percentuais no momento, segundo pesquisas) contra um tal delegado Pazolini, do Republicanos. Jovem fascista, o sujeito foi um dos líderes da corja que tentou impedir, invadindo um hospital, a interrupção da gravidez daquela menina de 10 anos estuprada pelo padrasto.   A guerra em Vitória, ainda não entendi por qual razão, é meio que ignorada pela esquerda. É preciso um mutirão nacional para ajudar Coser a derrotar o fascistinha.  E a boa notícia: em Cariacica, Célia Tavares, do PT, encostou no candidato do DEM – em empate técnico.

Trago boas novas da minha Minas Gerais tamém. Margarida Salomão (ex-reitora da UFJF, deputada federal do PT, mulher brilhante) lidera amplamente. Campanha linda e politizada. Em Contagem, mesmo com todo bombardeio, Marília Campos, histórica petista, ex-prefeita da segunda cidade mineira, segue na liderança.

Na Bahia, o PT disputa o 2° turno em duas cidades muito importantes, Vitória da Conquista e Feira de Santana. Vitória da Conquista foi governada pelo partido por 20 anos e há boas chances de vitória. Feira pode eleger Zé Neto, militante de longa data do Partido dos Trabalhadores. Toda força da esquerda baiana está concentrada nas duas cidades.

Pepe Vargas, ex-prefeito da cidade, deputado federal e ex-ministro ganhou o 1° turno em Caxias do Sul (34 a 15) contra o tucano Adiló. Boas chances do petista retornar ao governo desse município polo do Rio Grande. Em Pelotas, que o PT também já governou, o cenário é mais difícil (a atual prefeita tucana é favorita contra Ivan Duarte). 

Deu pra ti, vai dar pra ti, baixo astral! Eleger Manu é muito mais que colocar uma mulher preparada, de esquerda, em prefeitura de capital-chave. Representa a derrota de tudo que há de mais misógino, de mais repugnante, de mais mentiroso e de mais preconceituoso.

A chapa Manuela D’Avilla (PcdoB) e Miguel Rosseto (PT) liderou a maior parte do tempo no 1° turno. Manu, escolada pelo processo de 2018, quando, vice de Haddad, foi alvo prioritário de fake News, estudou esse tema e se preparou para o embate. Tanto assim que conseguiu tirar de circulação, no 1° turno, meio milhão de postagens mentirosas.

Eu repito. Meio milhão.

Sou suspeito para escrever sobre Manuela, amiga pessoal, uma querida e a quem admiro demais.  Quero, entretanto, chamar a atenção de vocês.  Uma mulher jovem, inteligentíssima, linda, comunista, feminista, fenômeno eleitoral desde sempre, boa de rede social, carismática, preparada e libertária é uma das mais afetadas por todo o tipo possível de baixaria nas redes sociais. É como se uma mistura de misoginia, machismo arraigado e desejo reprimido se misturassem para bloquear essa moça “atrevida”. Mesmo assim, embora em ligeira desvantagem, Manu segue na disputa renhida contra o cara do MDB que virou representante do que há de pior não só em Porto Alegre, mas no mundo.

Por último, Marília Arraes.  Uma campanha que conquistou o Brasil. Marília é jovem, é corajosa, é preparada. Quando optou pelo PT, fez uma ruptura com a “oligarquia progressista” instalada em Pernambuco. O PSB governa o Estado e depois a prefeitura, desde que Eduardo Campos, talentoso, derrotou o PT na eleição de 2006, sem deixar de ser o governante mais próximo de Lula/Dilma e que mais se beneficiou eleitoralmente das políticas públicas dos governos democráticos.

Marília era favorita ao governo estadual em 2018, mas o PT, corretamente, optou, com Lula preso e tudo mais, por fazer uma aliança com o PSB no Nordeste. Eleita deputada federal com quase 200 mil votos, veio cheia de gás, com todo apoio de Lula e Gleisi, para chacoalhar os esquemas em Recife (mesmo com parte do PT, acomodado aos cargos, rejeitando-a).

Um 2° turno protagonizado por duas jovens lideranças, primos, uma do PT e outro do PSB, mesmo que duro, poderia se dar em alto nível. Eis que João Campos e toda máquina dos governos, com apoio do PDT de Ciro (antipetista incansável) e do PCdoB (que tem a vice-governadora de Pernambuco) implantaram uma campanha bolsonarista em Recife. De lambe-lambe com desenho de Lula como demônio, passando por panfletos dizendo que Marília odeia a bíblia, até chegar em programas eleitorais de baixo nível total na TV (foram suspensos pelo TRE). O PSB protagoniza uma das campanhas mais bolsonaristas do Brasil. Triste. Mas, segue tudo empatado. Uma das disputas mais emocionantes do Brasil.

A reta final é decisiva. Muita coisa em aberto. Hora de trabalhar mais para derrotar a direita, nos seus vários tons.