Será o fim deste inferno? A esperança contra a insanidade vem das urnas

Na coluna de Henrique Rodrigues: Quem está fora do Brasil há três anos e retorna hoje não entende nada. É impossível explicar como aconteceu. Mergulhamos num transe coletivo para virar o esterco político do mundo. Agora, parece surgir uma minguada luz no fim do túnel.

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Só quem já sofreu muito com as reviravoltas da vida sabe como é duro festejar antes da hora para ver depois o sonho se espatifar no chão. Atrai mau agouro, dizem os mais velhos. Por isso, a máxima futebolística diz que o jogo só acaba quanto termina. Tem aquela também: não podemos contar com o ovo na cloaca da galinha (não é bem "cloaca", né?).

Faltam dois anos até a próxima eleição presidencial, mas o recado das urnas de agora, ao que tudo indica, prediz o fim da onda irracional que sufoca o país de 2018 para cá e que levou ao poder uma camarilha infindável de bárbaros selvagens, liderada por Jair Bolsonaro, a maior tragédia política da História do Brasil.

O discurso animalesco transbordando ódio parece não ter surtido efeito no pleito do último domingo. O fascismo bufo e retrô à brasileira encolheu nas urnas e não surtiu mais efeito nas frações despolitizadas de nossa sociedade. A baboseira policialesca, forrajada na gritaria caótica do neopentecostalismo e consagrada na hipocrisia moralista dos canalhas caricatos, não vingou.

A impressão que dá é que milhões de brasileiros se tocaram que as groselhas ideológicas delirantes e a paranoia ridícula da invasão soviético-guerrilheira despejadas por Bolsonaro não enchem barriga, nem pagam as contas.

Claro, houve ainda um número significativo de votos nesses setores, mas na totalidade o que vimos foi um encolhimento das bancadas ultrarreacionárias nos municípios em geral e uma redução drástica na quantidade de prefeitos regurgitadores da barbárie.

O que aconteceu nas urnas há alguns dias não garante absolutamente nada. Não é uma sentença de morte para o bolsonarismo, nome vulgar dado a essa coisa tosca, doentia e violenta que encantou boa parte da população pouco tempo atrás.

Será necessário vigilância permanente e muita luta para esmagar totalmente a ideologia sociopática que leva o nome do homem que arrastou o Brasil para o caldeirão dos párias da comunidade internacional e que com seu deboche cruel gargalha da hecatombe sanitária que já deixou mais de 167 mil compatriotas mortos.

Não devemos ficar eufóricos, tampouco seguros de que o mal está com os dias contados. Infelizmente, não é assim. O retorno à normalidade só virá com um esforço monumental e não podemos esmorecer. O negócio é acreditar e não deixar de trabalhar pelo fim deste período vergonhoso, que veio como um raio devastador.

Quem está fora do Brasil há três anos e retorna hoje não entende nada. É impossível explicar como tudo aconteceu. Mergulhamos num transe coletivo para virar o esterco político do mundo. Agora, parece surgir uma minguada luz no fim do túnel.

Porém, ainda é cedo para termos certeza de que a tal luz iluminará todo o perímetro de escuridão. O trabalho de formiguinha para revelar a verdadeira face de Bolsonaro e de seu séquito indecoroso está longe de terminar.

Ainda há muito a ser feito para que nos livremos deste inferno de ignorância e crueldade. Mesmo que alcancemos este objetivo, depois ainda haverá um longo caminho até levar essa gente à Justiça, para que paguem pelos descalabros cometidos e por todo sofrimento que imprimiram ao povo brasileiro.

Sigamos. Será uma coisa de cada vez.