Sonetos coronários que cometo!

Cansado dos kaikais, imitações dos haicais, Mouzar Benedito traz mais cometos, sua imitação dos sonetos!

Escrito en OPINIÃO el

Cansado de escrever kaikais, imitação de haicais, publiquei aqui há pouco uns versos que cometo, imitações de sonetos. Não sei se leram. Mas achei divertido e fiquei cometendo outros. Mando alguns deles.

O amor nos tempos da Covid

Tudo nos conformes. Álcool gel toda hora

Máscara cobrindo o nariz e a boca

Angustiado com esta vida meio louca

Mas pensando: um dia isso melhora...

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Foi num ônibus, eu me sentindo caipora,

Com vontade de me tornar um porra-louca

E largar essa quarentena meia-boca,

Que aquela visão me pareceu uma nova aurora!

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Olhos azuis arregalados e lábios carnudos

Que a máscara não conseguia esconder

Sorria para mim, me deixando a alma ardente

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Senti que acabaram meus tempos bicudos,

Prometi a ela tempos de alegria e prazer.

Sorriu tirou a máscara e mostrou a boca... sem dente.

Saudade dos botecos

Por bares nunca dantes frequentados

A brava gente espera abrir as portas

E poder beber até às horas mortas

Bem ou até muito mal acompanhados

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Tempos malucos de saudade de papo furado.

Vontade de ir ao boteco... tens, mas a abortas.

Vamos ver por quanto tempo tu suportas

Beber sem companhia cerveja e destilados

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O confinamento que era para durar um mês

Prisão perpétua é o que já nos parece

E faz pensar como era bom o bar do português.

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Já tem ateu e agnóstico fazendo prece

Pedindo que isso não dure mais um mês

Enquanto até amor aos bêbados chatos cresce.

Napoleões de hospício

De Santa Helena noticiaram: Napoleão morreu.

Deixou muitos napoleões nos hospícios.

Dois séculos depois, era pra não ter mais indícios.

Mas, ao contrário, o número deles até cresceu.

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E cada grupo tem um Napoleão pra chamar de seu.

Desses hospitais restam poucos resquícios,

Embora existam alguns meio sub-reptícios,

Mas para os muitos napoleões, até que valeu!

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Fim das torturas, nada mais de choque elétrico.

Providências médicas como esta, eu exalto

Chega de tratar deles com esse método tétrico!

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Mas, admito: de mau o sistema passou a incauto.

Livres e com número crescendo geométrico,

Napoleõezinhos puseram um deles no Planalto.

Ode a eles

Se os babacas do Brasil fizessem uma fila,

Ah, que extensão, que grande grandeza!

De longe, poderia até parecer uma beleza

A turma que da própria burrice rejubila.

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Ler livros, nunca. Talvez uma apostila.

Cada um deles se acha chuchu-beleza,

Repete imbecilidades com presteza

E acredita nos dados que o líder maquila.

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Líder este, que não fala, só baba e ameaça.

Diz que quem não o segue, tortura e fuzila,

Apontando seus dedos como arma de caça.

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Gosta do verde, mas oliva, não clorofila.

É casca grossa e arauto da desgraça.

Em outros tempos seria chamado de gorila.