Sou, sim, de esquerda e assim me comporto

Mouzar Benedito continua cometendo suas imitações de sonetos e salienta sua velha veia de dinossauro da esquerda

Foto: Mouzar Benedito
Escrito en OPINIÃO el

Dinossauro

Dinossauro, sei que sou. E não me importo.

Ser velho de esquerda, coisa do passado.

É o que diz velho direitista safado.

Sou sim, de esquerda e assim me comporto.

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Seja atual, moderno, a isso te exorto,

Insiste esse tipinho se achando gozado,

Fazendo piadinha porque sou aposentado.

Ô, tipinho de bosta que não suporto!

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Sim, dinossauros se extinguiram em outra era,

E acham que ser um deles é coisa insensata.

Ser sobrevivente deles é uma quimera.

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Mas gosto dessa quimera e não é bravata.

E saiba você, direitista, que se julga fera

Que o bicho que a tudo sobrevive é barata.

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De faz tudo a faz nada

Candidato é bom até o dia da eleição

Muitas verbas para a saúde ele jura,

Assim como para transporte e para cultura.

Muitos empregos e grana para educação.

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Juras e mais juras, juras em vão.

Eleito, ele logo muda de postura.

Promessa dele vira fumaça, não perdura.

E a tudo que dizia sim passa a dizer não.

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Não consigo fazer nada, ele reclama. 

Diz que as finanças estão no fundo do poço.

Sobre as agruras do cargo faz um drama.

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? Faço o que posso, mas só levo chumbo grosso.

Chora dizendo que o cargo é uma disgrama,

Mas quer ser reeleito. Não quer largar o osso.

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Para Carlos, e seu Anjo Gauche

Perdi o bonde e a esperança, disse Drummond.

Bonde já não existe mais, esperança ainda resta.

Um dia, perto ou distante, a gente sai desta

E faz desta porra de país um lugar bom.

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Por enquanto, o terraplanismo está dando o tom

Mas um dia acabará essa praga que o Brasil infesta.

São muitos os babacas, essa turma da mulesta”,

E, por enquanto, não podemos desejar “tudibom”.

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Mas vamos sonhando e agindo, grande poeta de Itabira.

No lugar do bonde: ônibus e trem. E com a certeza

De que a esperança será achada por quem o admira.

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Negacionistas que olham para nós fazendo mira

Haverão de ir desta lá na profundeza,

E festejaremos alegres cantando a sua, a nossa lira.