Cansei cedo. Quer dizer, acho que os leitores cansaram destes sonetos que cometo. Parece que não gostaram. Vou parar de publicar, mas continuarei cometendo em privado.
Como é a última safra que coloco aqui, mando vários... E para terminar com a chamada chave de ouro, o último deles, sem nenhum sentido, cometi inspirado no grande Zé Limeira, poeta do absurdo.
Gringolândia, Trump, eleições...
Grande potência arrogante e bélica...
Exibindo força e poder, sem clemência,
Colérica e histérica, cultua a violência...
Dizendo-se feérica, revela-se maléfica.
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Às vezes tirânica, às vezes patética,
Dogmática, atômica e sem paciência,
Proclamando-se ética, exibe demência
Com sua prepotência frenética.
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Que irônico, seu líder catatônico,
Sem consciência e verborrágico,
Fanático, lunático e anacrônico
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Exibiu epifânico um país dramático,
Que finge ser fantástico e hedônico...
Seria cômico se não fosse trágico.
Para Vinícius
Infinito enquanto dure, disse o poeta
Sobre o amor, falando de fidelidade.
Querendo amores assim, mas passado de idade,
Não se conforma na sobrevivência como meta.
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Paquerando moça que podia ser sua neta,
Sabendo que é inútil e vai ficar na saudade
E que é preciso encarar a realidade,
Meu amigo disfarça para não parecer pateta.
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Mas que é bom cobiçar moçoilas lindas,
Isto ninguém pode impedir que faça
Pois as ilusões permanecem infindas.
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Sem elas a vida esboroa, perde a graça.
Com elas, aguenta-se as consequências advindas
E vai-se regando seus sonhos com cachaça.
Anfíbios anuros
Batráquios: sapos, pererecas e rãs.
Esses anfíbios são comestíveis?
Bom, de comer há várias formas possíveis.
Escapar das que não gosto, fiz tentativas vãs.
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Sapo não é de comer, é de engolir
Quando não se quer fazer algo mas precisa,
Fingir que é bom você mentaliza,
E torce para não ter que repetir.
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Rã é gostosa, quando se sabe fazer.
De ser acepipe até tem boa fama
E acho até que faz por merecer.
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Mas perereca, a gente não gosta: ama.
É de tudo isso a que dá maior prazer.
E o melhor lugar pra se comer é na cama.
Bala, bola e Bíblia...
Só eles são pessoas de bem. O resto é resto.
Usam trabalho escravo na fazenda grilada,
Mas isso não tem nada demais, é coisa honrada.
E ameaçam quando contra ele há protesto.
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De empunhar arma e atirar fazem gesto,
E que se precisar matam essa gente safada:
Comunista, petista e mulher desonrada.
Juram que Deus está com eles... Deus funesto!
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Fazem da mentira a grande verdade
Odeiam a paz, a ciência e a vacina.
Gritam exigindo fé e moralidade,
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Veem nos Direitos Humanos uma ruína
Achando-se bons, para o mal exigem liberdade.
Não percebem que vida de gado é sua sina.
Música é uma coisa...
Música, ouvir muito eu aprecio...
Samba, bolero, moda de viola, choro...
Seja em canto solo ou em coro.
Algumas até me causam arrepio.
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Paro pra ouvir, como um vadio,
Vagabundo de bom agouro,
Me sentindo em êxtase duradouro
E quando acaba eu até chio.
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Faz bem pra cabeça e pra alma.
Se sensual, me enche de desejo;
Se baixa e suave ela me acalma.
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Mas uns barulhentos sem pejo
Produzem um barulho que dá trauma...
Barulho a que chamam de sertanejo.
Sem nenhum sentido
Pereba, não sei quê e jerereba;
Urutu, jaú, Peabiru e Sinimbu;
Jaburu, sabiá, cascavel e urubu;
Tatu canastra, galinha e peba.
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Tudo que é frágil, se cair, quebra.
Comigo não tem censura ou tabu.
Mocinha cantando e dançando lundu,
Como é bonito, como requebra.
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Não tem chuveiro, toma banho de cuia.
Ou no poço nua fazendo xodó,
Nada peito e de costas, faz bubuia.
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A torcida escondida num mocó,
Tem branco, preto, e este meio tapuia
Fazendo cara de tara de dar dó.
**ESTE ARTIGO NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DA REVISTA FÓRUM.