Trump, perereca e música sertaneja..., por Mouzar Benedito

Mouzar Benedito lança sua última safra de cometos, seus peculiares sonetos

Escrito en OPINIÃO el

Cansei cedo. Quer dizer, acho que os leitores cansaram destes sonetos que cometo. Parece que não gostaram. Vou parar de publicar, mas continuarei cometendo em privado.

Como é a última safra que coloco aqui, mando vários... E para terminar com a chamada chave de ouro, o último deles, sem nenhum sentido, cometi inspirado no grande Zé Limeira, poeta do absurdo.

Gringolândia, Trump, eleições...

Grande potência arrogante e bélica...

Exibindo força e poder, sem clemência,

Colérica e histérica, cultua a violência...

Dizendo-se feérica, revela-se maléfica.

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Às vezes tirânica, às vezes patética,

Dogmática, atômica e sem paciência,

Proclamando-se ética, exibe demência

Com sua prepotência frenética.

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Que irônico, seu líder catatônico,

Sem consciência e verborrágico,

Fanático, lunático e anacrônico

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Exibiu epifânico um país dramático,

Que finge ser fantástico e hedônico...

Seria cômico se não fosse trágico.

Para Vinícius

Infinito enquanto dure, disse o poeta

Sobre o amor, falando de fidelidade.

Querendo amores assim, mas passado de idade,

Não se conforma na sobrevivência como meta.

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Paquerando moça que podia ser sua neta,

Sabendo que é inútil e vai ficar na saudade

E que é preciso encarar a realidade,

Meu amigo disfarça para não parecer pateta.

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Mas que é bom cobiçar moçoilas lindas,

Isto ninguém pode impedir que faça

Pois as ilusões permanecem infindas.

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Sem elas a vida esboroa, perde a graça.

Com elas, aguenta-se as consequências advindas

E vai-se regando seus sonhos com cachaça.

Anfíbios anuros

Batráquios: sapos, pererecas e rãs.

Esses anfíbios são comestíveis?

Bom, de comer há várias formas possíveis.

Escapar das que não gosto, fiz tentativas vãs.

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Sapo não é de comer, é de engolir

Quando não se quer fazer algo mas precisa,

Fingir que é bom você mentaliza,

E torce para não ter que repetir.

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Rã é gostosa, quando se sabe fazer.

De ser acepipe até tem boa fama

E acho até que faz por merecer.

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Mas perereca, a gente não gosta: ama.

É de tudo isso a que dá maior prazer.

E o melhor lugar pra se comer é na cama.

Bala, bola e Bíblia...

Só eles são pessoas de bem. O resto é resto.

Usam trabalho escravo na fazenda grilada,

Mas isso não tem nada demais, é coisa honrada.

E ameaçam quando contra ele há protesto.

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De empunhar arma e atirar fazem gesto,

E que se precisar matam essa gente safada:

Comunista, petista e mulher desonrada.

Juram que Deus está com eles... Deus funesto!

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Fazem da mentira a grande verdade

Odeiam a paz, a ciência e a vacina.

Gritam exigindo fé e moralidade,

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Veem nos Direitos Humanos uma ruína

Achando-se bons, para o mal exigem liberdade.

Não percebem que vida de gado é sua sina.

Música é uma coisa...

Música, ouvir muito eu aprecio...

Samba, bolero, moda de viola, choro...

 Seja em canto solo ou em coro.

Algumas até me causam arrepio.

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Paro pra ouvir, como um vadio,

Vagabundo de bom agouro,

Me sentindo em êxtase duradouro

E quando acaba eu até chio.

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Faz bem pra cabeça e pra alma.

Se sensual, me enche de desejo;

Se baixa e suave ela me acalma.

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Mas uns barulhentos sem pejo

Produzem um barulho que dá trauma...

Barulho a que chamam de sertanejo.

Sem nenhum sentido

Pereba, não sei quê e jerereba;

Urutu, jaú, Peabiru e Sinimbu;

Jaburu, sabiá, cascavel e urubu;

Tatu canastra, galinha e peba.

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Tudo que é frágil, se cair, quebra.

Comigo não tem censura ou tabu.

Mocinha cantando e dançando lundu,

Como é bonito, como requebra.

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Não tem chuveiro, toma banho de cuia.

Ou no poço nua fazendo xodó,

Nada peito e de costas, faz bubuia.

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A torcida escondida num mocó,

Tem branco, preto, e este meio tapuia

Fazendo cara de tara de dar dó.

**ESTE ARTIGO NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DA REVISTA FÓRUM.