Vamos falar de Natal – A Grande Subversão, por pastor Zé Barbosa Jr

A narrativa do nascimento de Jesus é carregada de significados. Mais que signos espirituais, a história é recheada de personagens e imagens revolucionárias, subversivas e provocadoras.

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Estamos a uma semana de uma das maiores festas cristãs: o Natal. Sim, eu sei que Jesus não nasceu num 25 de dezembro, que parte da sua narrativa é oriunda de outros mitos (ultimamente ando com medo dessa palavra) e que é a data foi transformada numa festa quase meramente comercial. Sei de tudo isso, mas quero te convidar a olhar de um outro ângulo...

A narrativa do nascimento de Jesus é carregada de significados. Mais que signos espirituais, a história é recheada de personagens e imagens revolucionárias, subversivas e provocadoras. A figura do presépio, por exemplo, bem conhecida de todos nós, é altamente denunciativa. É uma “rebelião”: um estábulo, uma manjedoura, um “padrasto” imigrante, a mãe “solteira”, a ralé da sociedade como testemunhas e uns astrólogos vindos do Oriente.

Tudo é denúncia! Tudo é subversão nessa cena! Enquanto isso, até hoje os poderosos e os religiosos que se aliam ao poder fazem da religião um negócio lucrativo onde somente os “bons e ricos” têm espaço e voz. Mais que uma questão de fé, essa narrativa é uma afronta ao status quo da religião que se aliou ao Império e, conjuntamente, explorava o povo.

Pois é desse povo surrado e explorado que chega a “salvação”. Vem de baixo, dos pobres, dos marginalizados. Maria entende isso e no seu cântico, hoje conhecido como “Magnificat”. Diz com todas as letras: “derrubou governantes de seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias.”

O casal pobre, de imigrantes, que tem que voltar à terra natal por conta de um recenseamento, não encontra lugar nem na sua cidade de origem. O local “doado” a eles é onde os animais dormiam. Uma manjedoura, onde os animais comiam, serviu de berço. Jesus nasce como sem teto, como um irmão em situação de rua, num lugar pobre, fedido, sujo...

São os pastores, a ralé da sociedade, os mais miseráveis, que assistem à cena e servem de testemunhas do nascimento da salvação. Depois chegam magos do Oriente, gente que nem sequer professava a mesma religião ou tinha o mesmo Deus... Sinal de que a “salvação” não é privilégio de um ou outro credo, mas de gente que enxerga nas coisas simples e na potência do povo pobre um novo mundo, de “boas notícias e boa vontade para o ser humano”.

Celebremos a revolução! Celebremos a força daqueles que podem mudar a história e derrubar os poderosos.

Feliz Natal! Feliz Subversão!