Vamos falar de pedofilia? – Por pastor Zé Barbosa Jr

Pedofilia deveria ser um dos temas fundamentais da esquerda. Deveríamos ser os proponentes do tema, os precursores do assunto, os protagonistas do debate

Foto: Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Tocantins
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Há anos venho falando que uma das grandes falhas da esquerda é ser mais reativa que proativa. Não propomos o debate. Só reagimos. E quando isso é contra o bolsonarismo, o quadro piora, pois temos que reagir à mentiras absurdas, como a que recentemente atingiu a professora e antropóloga Débora Diniz, numa manobra absurda para fazê-la acusar Bolsonaro de “perseguir pedófilos”, o que insinuaria que ela estava defendendo estes da perseguição daquele, o verme que hoje ocupa a Presidência do país.

É quase senso comum, por parte de muita gente da direita e, principalmente, religiosos fundamentalistas, a ideia de que “a esquerda defende pedófilos”. Quem nunca ouviu isso? Mas... Você conhece algum esquerdista que defenda a pedofilia? Eu não! Então... Quando a esquerda se cala sobre o tema e só tem ações reativas geralmente para conter absurdos, perdemos uma grande chance: pautar o debate da pedofilia no Brasil.

Pedofilia deveria ser um dos temas fundamentais da esquerda. Deveríamos ser os proponentes do tema, os precursores do assunto, os protagonistas do debate. E por um motivo simples e potente: isso seria uma bomba em dois temas que são até agora “monopólio” da direita, família e violência.

Família porque qualquer estudo sério sobre pedofilia mostra onde acontece a maioria dos abusos às crianças, de quaisquer gêneros: em seus lares. É na “família” que a pedofilia acontece e muitas vezes com anuência da igreja. Por isso vociferam tanto sobre o tema, mas não o discutem com profundidade. E nós caímos na lábia deles, achando que são os donos do tema. Não. Eles são os vilões da história! A violência infantil acontece geralmente por conta de pais, tios, padrastos, padres e pastores. E todos eles são defensores da “tradicional família brasileira, cristã e bolsonarista”.

E violência, porque a sanha punitivista contra os pedófilos, os monstros que eles tanto perseguem (e, para não haver dúvidas, digo, também considero a pedofilia uma monstruosidade) se voltaria contra eles mesmos. E mostraria que o combate à violência que tanto propagam é falso, hipócrita e, pior ainda, se Bolsonaro pretende armar a população para evitar a pedofilia, o aumento de armas pode ser mais um fator de força e violência nos casos de abuso e só vai aumentar o medo da denúncia, exatamente pelo fato do violentador/abusador, além da “autoridade” que tem, estar armado.

E ainda há muitas outras consequências desse debate que, ao pautarmos, podemos denunciar e propor leis que realmente defendam as nossas crianças. É a partir dessa discussão, por exemplo, que vamos explicar a necessidade da educação sexual nas escolas. É a partir do tema da pedofilia que podemos falar sobre gravidez fruto de violência na adolescência e, quem sabe, com isso, mudarmos o entendimento de grande parte da população quanto a descriminalização do aborto. São todos temas atravessados, interseccionados.

Mas nos calamos e diz o ditado que “quem cala, consente”. É assim que olham para a esquerda e por nos calarmos, perdemos. Chegou a hora de virar o jogo. De chamarmos para nós a responsabilidade desses temas e mostrar onde estão os verdadeiros vilões desse jogo e tudo que eles não querem é serem descobertos. Por isso atiram tanto. Por medo. Eles sabem que são os verdadeiros bandidos nessa história. Basta mostrarmos isso!

Por nós e por nossas crianças!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.