Em mais um ataque da direita, live de Fernanda Melchionna, do PSOL, é invadida por hackers

Ao menos outras quatro situações parecidas foram registradas essa semana contra pessoas ou grupos do setor progressista, o que sugere se tratar de uma ação coordenada da direita bolsonarista; ataques envolvem ameaças, mensagens de ódio e até pornografia

Live da pré-candidata Fernanda Melchionna foi invadida com imagens de Bolsonaro (Reprodução)
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Além das conhecidas fake news, espalhadas nas páginas de desinformação na internet, das mensagens odiosas no Whatsapp, dos canais negacionistas e terraplanistas no YouTube, agora a extrema-direita lança uma nova tática cibernética: invadir transmissões progressistas ao vivo e disseminar ataques racistas, machistas e LGBTfóbicos.

Na terça-feira (18), a vítima foi o pré-candidato a vereador William De Lucca (PT-SP). Numa plenária virtual, onde se discutia direitos e demandas das mulheres, De Lucca foi surpreendido com um ataque repentino, onde criminosos apareceram na tela do computador e compartilharam vídeos com imagens horrendas de pornografia infantil, chocando as pessoas e proferindo ofensas LGBTfóbicas.

De Lucca é assumidamente gay e ativista. O encontro virtual teve que ser interrompido.

“O que ocorreu”, comentou pré-candidato, “foi a prática de um crime premeditado e organizado. Estas pessoas têm de ser identificadas e punidas. A internet não é terra sem lei”, protestou.

Porém, enquanto a lei não os alcança, os criminosos seguem disseminando discurso de ódio.

Na quarta-feira (19) uma aula online de Direito, da faculdade Esamc de Sorocaba (SP), foi invadida por um grupo extremista que publicou diversas imagens e símbolos ligados ao nazismo, além de enviar mensagens de ódio às mulheres e advogados negros.

Já na quinta-feira (20) foi a vez da promotora de Justiça e coordenadora do núcleo de gênero do Ministério Público de São Paulo, Valéria Scarance, ser atacada pela turba odiosa.

Durante uma palestra virtual, sobre violações dos direitos das mulheres, um grupo de hackers invadiu e proferiu discurso de ódio, seguindo o mesmo roteiro dos ataques anteriores. Até imagens de estupro foram exibidas.   

Os agressores exibiram cenas de abuso sexual, conteúdo pornográfico e outras mensagens misóginas enquanto a palestra ocorria. O evento também teve que ser interrompido.

Nesta sexta-feira (21) foram dois ataques: o site da Ponte Jornalismo, dedicado a reportagens investigativas, sofreu ataques sucessivos e teve que ser retirado do ar. A página, que é mantida por doações de pessoas físicas e jurídicas, além da venda de conteúdo, vinha sofrendo ataques há três semanas.

O diretor de redação e um dos fundadores do jornal, Fausto Salvadori, disse à Folha de S. Paulo que o grupo terá agora de fazer novos investimentos em segurança e tecnologia.  "Sabemos que seríamos alvo de ataques desde o início, mas agora está vindo de todos os lados", afirmou. Com o ataque, a Ponte ainda teve que adiar mais uma campanha de doação.

"Fizemos uma parceria com a agência de publicidade Gana, só com profissionais negros, para pedir uma nova cota de doações, e não vamos conseguir lançá-la agora", disse o diretor.

Mais cedo, durante o programa que apresentava as pré-candidaturas da deputada federal Fernanda Melchionna e Márcio Chagas, candidatos a prefeita e vice pelo PSOL, na cidade de Porto Alegre, os extremistas agiram novamente.

Parece que os sujeitos perderam o medo da lei.

Minutos antes de iniciar a assembleia, imagens do presidente Jair Bolsonaro, com arma em punho, começaram a ser compartilhadas, além de mensagens LGBTfóbicas e críticas e ameaças à esquerda. "Hoje é só virtual, depois vocês vão ver seus m**", dizia uma das mensagens.

A reunião teve que ser transferida para outra plataforma.

A Fórum falou com a pré-candidata. “Eu vejo isso como uma tentativa clara da extrema-direita de inviabilizar que tenha um mínimo de debate e de auto-organização daqueles que enfrentam o fascismo no processo eleitoral. Não nos surpreende este comportamento autoritário de simpatizantes da extrema-direita, que não entendem a importância da democracia e combatem a liberdade de expressão e pensamento”, disse.

Segundo a pré-candidata, o partido não vai se deixar intimidar. “Não vamos deixar esse tipo de ação impune. Com a pandemia, as atividades virtuais ganharam um outro nível de importância e é obrigação das autoridades que se posicionem sobre esses ataques", afirmou Fernanda.

E alertou: “Vou fazer um movimento em todas as esferas políticas e jurídicas possíveis para denunciar esse absurdo. É inaceitável que não tenha eleições em que os candidatos - e não me refiro só a mim, mas a todos os candidatos que tenham uma oposição ao Bolsonaro e à extrema-direita –, não possam expressar sua opinião; isso é claramente fascista, inconstitucional, ataca as liberdades democráticas e isso é inaceitável. Nós queremos fazer a cobrança de todas as autoridades para que se identifique os responsáveis e que isso não aconteça no processo eleitoral de 2020 com nenhum outro candidato".

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