Homem grava vídeo ateando fogo em floresta do Mato Grosso e incendeia as redes

Não é possível definir se ele está tentando conter o fogo ou causando incêndio, uma vez que há técnicas de combate a incêndio que consiste em atacar o fogo com fogo

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Circula nas redes um vídeo, divulgado pelo escritor Daniel Mundukuru, em que um homem, ainda não identificado, pilota um trator e sai ateando fogo no mato.

Ele sorri e diz estar no Mato Grosso. O vídeo causou indignação, principalmente porque as pessoas acreditam que o homem zomba do mal que está causando à natureza.

No entanto, não é possível definir se ele está tentando conter o fogo ou causando incêndio, uma vez que há técnicas de combate a incêndio que consiste em atacar o fogo com fogo.

A indignação das redes tem a sua lógica. Enquanto a floresta queima - além dos claros prejuízos à biodiversidade -, territórios indígenas são ameaçados e as cidades se cobrem de fumaça e fuligem, aumentam os problemas respiratórios

A outra razão da indignação das pessoas diante deste vídeo é que o Pantanal está em chamas e são as ações humanas que mais contribuem para o incêndio no bioma.

O mês de agosto foi especialmente cruel para o Pantanal: as queimadas foram 3,5 vezes maiores este ano, em comparação com o ano passado.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do dia 1º de agosto até o dia 31 foram registrados 5.935 focos de calor na região. Essa é a pior sequência de incêndios desde 2005.

A temporada de queimadas no Pantanal tem início no mês de julho e se estende até setembro.

O bioma, que é a maior planície alagada do mundo, enfrenta o maior período de estiagem dos últimos 47 anos.

Vento e tempo seco são fatores que contribuem com o alastramento dos incêndios. Porém, claro, não são a causa.

O meio ambiente é o meu ambiente

Felipe Augusto Dias, diretor-executivo da ONG SOS Pantanal, afirma que a maioria dos focos tem origem em ações humanas, que podem ser acidentais ou criminosas.

Um exemplo simples de ações acidentais é uma fogueira acesa para queimar folhas. O vento pode levar fagulhas para outros lugares e dar início a um incêndio.

Equipes do Prevfogo, do IBAMA, que trabalham no combate às queimadas na região, ratificam a informação da ONG, dizendo que 99% dos focos de incêndio no Pantanal têm origem antrópica. Ou seja, é a mão do homem que faz o bioma arder em chamas.

As chamas ameaçam a biodiversidade da região, que inclui antas, onças, capivaras e a maior densidade de onças-pintadas do mundo.

Centenas de bombeiros, agentes florestais e militares têm trabalhado 24 horas por dia há semanas tentando apagar as chamas que destruíram centenas de quilômetros quadrados de Pantanal.

Pesquisadores do Inpe calculam que mais de 10% do bioma já foi tragado pelas chamas. "Geralmente os animais mais lentos são os que mais sofrem. Serpentes, lagartos, jabutis, jacarés, tamanduás, macacos e antas são comumente encontrados carbonizados, ou com partes do corpo queimadas, por terem mais dificuldade de fugir", comenta o biólogo Gustavo Figueiroa, do SOS Pantanal.

Maior refúgio das araras-azuis do planeta, o Pantanal pode estar a assistir um silencioso e brutal ecocídio.

As araras-azuis são criaturas frágeis que se alimentam basicamente de dois tipos de cocos do Pantanal, 95% dos ninhos são feitos em uma única espécie de árvore.

Os efeitos desta queimada podem ser catastróficos para esta espécie de psitacídeo.

Os criminosos não fazem home-office

"O desmatador ilegal, o grileiro, não faz home office. Não ficam em casa na pandemia. Eles estão lá, estão fazendo isso. Não é uma questão de acreditar ou não. Os dados são do Inpe, um órgão muito sério, reconhecido por sua excelência na geração de informação, e estão mostrando que o desmatamento está crescendo", alerta Brasil Rômulo Batista, o porta-voz da campanha de defesa da Amazônia do Greenpeace.

De acordo com o Inpe, até o ano passado, 16,5% do Pantanal foi desmatado. A extensão do desastre ambiental, para se ter uma ideia, corresponde a quatro vezes a área do Distrito Federal.

Um levantamento feito pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul mostra que 40% do desmatamento do Pantanal pode ter ocorrido de forma ilegal.

O agronegócio é o principal responsável pela expansão dos desmatamentos na região. Segundo a ONG SOS pantanal, 15% do bioma já foi convertido em pastagem de gado.

Outro dado preocupante são as plantações exóticas que prejudicam a biodiversidade do Pantanal, como o crescente plantio de braquiária, para o gado, e das grandes plantações de soja.

Até bem pouco tempo, a fiscalização do bioma era feita pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo IBAMA.

Desde o ano passado, governo Bolsonaro tem sido acusado de desmantelar os órgãos de fiscalização ambiental e aparelhar os institutos com pessoas sem nenhum compromisso com a preservação do meio ambiente.