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Varíola do macaco tem sequência genômica mapeada; há risco de um surto mundial?

Doença incomum na Europa, detectada inicialmente no Reino Unido, tornou-se o novo temor mundo afora

Varíola do macaco tem sequência genômica mapeada; há risco de um surto mundial?.Créditos: Reprodução
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A pesquisadora e doutora em Biomedicina Monica de Bolle divulgou em suas redes nesta sexta-feira (20) o sequenciamento genômico da Varíola do Macaco, que já possui casos no Reino Unido, Espanha, Portugal e Estados Unidos e acendeu a luz amarela entre as agências estatais de Saúde.  

Segundo de Bolle, o "Monkeypox (Varíola do Macaco) vírus pertence ao gênero Orthopoxvirus, o mesmo da varíola. Um não provém do outro. Na verdade, o vírus mais próximo do da varíola é o Camelpox (de camelos, não causa doença em humanos). Os Orthopoxviruses já são amplamente estudados há anos". 

Em seguida, a pesquisadora explica a diferença entre os vírus. "Orthopoxviruses, como Monkeypox, são vírus de DNA. Notem a diferença: o SARS-CoV-2 é um vírus de RNA (mRNA, para ser mais precisa). O genoma dos Monkeypox tem cerca de 200kb (esse é o tamanho do genoma). O SARS-CoV-2 tem cerca de 30kb". 

"Como o tamanho do genoma é grande, ele incorpora mecanismos de proofreading e de reparo do DNA. O que isso significa? Significa que esse vírus têm o genoma bastante conservado e estável. Essa é uma diferença fundamental em relação aos vírus de RNA. Ainda que o SARS-CoV-2 também tenha um mecanismo de proofreading (menos “sofisticado”) codificado no genoma."

Em determinado momento, Monica de Bolle responde a pergunta que todo tem feito em torno da Varíola do Macaco, a sua transmissibilidade: "A transmissão NÃO é fácil! Ela se dá por contato próximo e direto com animais, pessoas, ou superfícies infectadas. Historicamente, surtos de monkeypox ou mesmo de varíola sempre se exauriram em áreas de baixa densidade populacional". 

"Portanto, não é uma surpresa que casos tenham aparecido em grandes cidades, onde a alta densidade favorece a transmissão. Ainda assim, uma vez identificado um caso, rastreamento de contatos e isolamento de casos suspeitos ou confirmados são medidas altamente eficazes em contraste com o SARS-CoV-2", explica de Bolle. 

E esse vírus pode repentinamente surpreender com o seu método de transmissão? "Não, nós não vamos repentinamente descobrir que a transmissão é diferente daquela que já conhecemos. Monkeypox não é um vírus novo como é o SARS-CoV-2. Ele pode até estar se adaptando melhor a nós, mas isso não é motivo para terror/pânico", esclarece. 

A pesquisadora também reforça a tese da CDC (EUA) de que as vacinas existentes são eficazes. "Temos vacinas eficazes e tratamentos. Ademais, a doença causada pelo vírus — uma varíola mais branda — tende a se resolver em pessoas sem comprometimento imunológico. Sim, há preocupação em relação à população de imunossuprimidos", disse. 

Por fim, de Bolle fala sobre a possibilidade de as pessoas serem infectadas. "A chance de você ser infectado por Monkeypox é bastante baixa. A chance de você ser infectado pelo SARS-CoV-2 é alta, ordens de magnitude superior. Descabele-se por isso e tome as devidas precauções. A pandemia de SARS-CoV-2 não acabou e tampouco está prestes a acabar", finaliza.