Uma iniciativa avaliada na Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostra que os exames de sangue podem ir além na detecção de cânceres. As chamadas biópsias líquidas servem para coletar amostras e analisar a urina e o sangue das pessoas. Alguns desenvolvimentos anteriores já foram aprovados pelas autoridades reguladoras, como a biópsia para detectar um tipo de câncer de pulmão.
Pesquisadores da Universidade de Oxford, por meio de um estudo do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) em acordo com a empresa Grail dos Estados Unidos, estudaram o chamado “Gallery Test”, um exame de sangue capaz de detectar mais de 50 tipos de câncer.
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Ele foi capaz de detectar corretamente dois em cada três tipos de câncer em mais de 5 mil pessoas que se consultaram nos médicos com suspeita de sintomas na Inglaterra e no País de Gales. Assim como na identificação do sítio de origem do tumor em 85% dos casos confirmados.
Chamados de SYMPLIFY, os resultados foram divulgados na Reunião Anual de 2023 da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em Chicago.
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O exame pode funcionar como um teste para a detecção precoce de múltiplos cânceres em indivíduos que foram à observação primária e foram encaminhados para acompanhamento diagnóstico por suspeita de doença oncológica.
Ao todo 5.461 pessoas da Inglaterra e do País de Gales foram encaminhadas ao hospital por seus médicos em razão da suspeita de câncer. Os resultados serão publicados no The Lancet Oncology.
Segundo Brian Nicholson, professor associado no Nuffield Department of Primary Care Health Sciences da Universidade de Oxford e co-investigador principal do estudo, “a detecção precoce do câncer e a intervenção subsequente podem melhorar muito os resultados dos pacientes. A maioria dos pacientes diagnosticados com câncer vai a um médico de cuidados primários pela primeira vez para investigação de sintomas sugestivos de câncer, como perda de peso, anemia ou dor abdominal, o que pode ser complexo, pois existem múltiplas causas potenciais”.
E prossegue: "são necessárias novas ferramentas que possam acelerar o diagnóstico do câncer e evitar investigações caras e invasivas para classificar com mais precisão os pacientes que apresentam sintomas de câncer não específicos".
Como o exame consegue detectar os cânceres?
Minúsculos fragmentos de DNA do tumor na corrente sanguínea são detectados pelo exame e um benefício potencial do teste é que ele pode ser usado para confirmar se pacientes com sintomas podem ser avaliados quanto ao câncer antes de buscar outros diagnósticos.
Assim, os médicos podem ser alertados se um sinal de câncer for detectado. O teste também pode prever onde o corpo pode ter se originado. Mark Middleton, professor de Medicina Experimental do Câncer em Oxford, que liderou o estudo, explicou que o teste tem "potencial para identificar pessoas que se apresentam ao seu médico de família que não estão sendo encaminhadas com urgência para investigação de câncer... Elas precisam de provas".
É possível que o teste possa acelerar o diagnóstico: "nos casos em que não está claro qual caminho de diagnóstico rápido é apropriado", disse Middleton.
“Os resultados do estudo sugerem que este teste pode ser usado para ajudar os GPs a fazer avaliações clínicas, mas muito mais pesquisas são necessárias em um estudo maior para ver se ele pode melhorar a avaliação do GP e, finalmente, os resultados dos pacientes”, disse David Crosby, diretor de prevenção e pesquisa de detecção precoce da Cancer Research UK, ao afirmar que mais pesquisas são necessárias.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido também usou o teste em milhares de pessoas sem sintomas para ver se ele seria possível detectar cânceres ocultos. E os resultados são esperados para o final de 2023. Caso eles sejam positivos, a previsão é o alargamento do teste a um milhão de pessoas.
Um estudo também vem sendo realizado na Argentina
Um kit de detecção precoce do câncer, chamado “Oncoliq”, é um tipo de biópsia líquida que possibilita detectar precocemente o desenvolvimento do tumor, ele foi desenvolvido por pesquisadoras do Conicet na Argentina Adriana De Siervi (do Instituto de Biologia e Medicina Experimental ou mais conhecido como IBYME) e Marina Simian (da Universidade Nacional de San Martín) na Argentina.
O teste foi avaliado por meio de estudos em animais e em pacientes, com apoio de subsídios do Conicet, Agência Nacional de Fomento à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Fundo SF500 e Fundação Williams. Tem uma sensibilidade de 92% para detectar o câncer de mama precocemente.
Dr. De Siervi apontou as diferenças do desenvolvimento local com o teste que foi avaliado no Reino Unido. De acordo com entrevista realizada ao Infobae, “o teste em estudo no Reino Unido consiste em um sequenciamento de perfis de metilação. Em vez disso, nossa tecnologia é mais barata e fácil porque envolve simplesmente a realização de PCR em tempo real. De certa forma, é semelhante ao teste usado para diagnosticar o COVID-19".
Diferença de custos
O teste no Reino Unido custaria em torno de US$ 1.500. Já na Argentina, entre 50 e 100 dólares. “O teste para 50 tipos de câncer tem uma sensibilidade geral de 66,3%, mas só consegue detectar 30% dos casos de câncer de mama. O nosso teste, que é específico para câncer de mama, tem uma sensibilidade de 90%, ou seja, é muito mais eficaz. Esperamos que o nosso teste esteja disponível até o fim de 2023. Além disso, estamos trabalhando em um novo teste que poderá detectar 50 tipos de câncer com alta sensibilidade”, ressalta o cientista argentino.
Com informações do Infobae